Foram 106 mil denúncias pelo serviço Ligue 180, contra 88,6 mil em 2012. Perfil de autor das denúncias mudou, com mais mães e vizinhos de vítimas reportando as violências
No ano passado, o total de ligações feitas ao serviço Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), caiu 27% pela primeira vez desde que foi criado, em 2005. Mas mesmo com a queda, o total de denúncias de violência contra mulheres cresceu 19,6% em relação ao ano anterior, atingindo 106 mil denúncias, contra 88,6 mil em 2012. Segundo o órgão, também cresceram as ligações reportando estupros, que alcançaram 1.151 casos relatados no ano passado.
O número crescente de relatos de violência aponta que o Brasil ainda é machista, mas que está crescendo o número de pessoas que não toleram mais esses abusos, avalia a secretária de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres da SPM, Aparecida Gonçalves.
— A violência está tendo maior visibilidade. O dado do Ipea foi muito importante porque a reação das mulheres foi imediata. Elas disseram que não aceitam mais a violência. Isso mostra que a sociedade brasileira ainda é machista, as mulheres ainda têm medo, mas estamos avançando a largos passo — afirmou a secretária.
Segundo o órgão, também houve uma mudança em quem faz as ligações reportando os abusos – cresceram as ligações de mães e vizinhos de vítimas: 2.023 registros de violência foram feitos pelas mães e 2.211 por vizinhos.
— Teve um diferencial no atendimento e nas ligações que foram feitas, com mais mães e vizinhos das vítimas reportando os casos ao Ligue 180. O total de mulheres que reportaram a violência que ela sofreu continua no mesmo patamar. Percebemos que aumentaram as denúncias de violência e que elas estão buscando ajuda, mas ainda persiste o medo. Mas muda o comportamento da sociedade, outras pessoas estão percebendo a violência. A sociedade está mais atenta. Isso começa a alterar aquela percepção de que ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’ — afirmou a secretária de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres da SPM, Aparecida Gonçalves.
Entre as ligações feitas ao Ligue 180 para registrar casos de violência, 54% são relatos de violência física. A agressão psicológica foi apontada em 30% dos relatos de violência reportados ao Ligue 180. Segundo o órgão, no ano, foram feitas 620 denúncias de cárcere privado e 340 de tráfico de pessoas.
A percepção de risco de morte foi indicada em 42% dos relatos, informou o órgão. A possibilidade de espancamento foi percebida em 16% e de dano psicológico, em 17%.
Aumentou total de violências fora de casa
A maioria dos relatos de violência (81% do total das denúncias em 2013) são de pessoas próximas à vítima. Em 62% dos casos que chegaram ao Ligue 180, a violência é cometida por companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. Os relatos de 19% apontaram como autores das agressões os ex-companheiros, ex-maridos e ex-namorados. Apenas 6% da violência têm como autores pessoas externas às relações afetivas.
Em 2012, 70% dos casos de violência reportados o agressor era o companheiro ou cônjuge da vítima, e 89% dos casos eram de agressores com vínculos próximos às vítimas.
Denúncias passam a ser encaminhadas para investigação
Desde o dia 1º de março deste ano, o Ligue 180 é um canal que encaminha os relatos de violência para investigação e acompanhamento. Em 2013, do total de 106.860 encaminhamentos para a rede de atendimento, 62% foram direcionados ao sistema de segurança e justiça. A partir deste ano, a informação será repassada diretamente pela SPM às Secretarias de Segurança Pública dos estados, que poderão acionar as delegacias especializadas, a Polícia Militar ou as delegacias comuns.
FLÁVIA PIERRY
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