Entre novembro de 2012 e janeiro de 2014, 250 casos foram relatados; grande parte nos arredores da Praça Tahrir, no Cairo, palco de revoltas anti-governo
Soraya Bahgat, fundadora do grupo anti-assédio Tahrir Bodyguard, realiza movimento de auto-defesa, em oficina organizada pelo grupo em resposta a onda de violência sexual contra mulheres no Cairo, Egito. Foto de fevereiro de 2013
Foto: AP |
A violência sexual contra as mulheres continua a ser um flagelo no Egito, onde centenas foram abusadas desde 2011, especialmente durante manifestações, sem que os responsáveis por esses atos tenham sido processados , de acordo com um relatório de ONGs divulgado nesta quarta-feira.
"Os seguidos governos egípcios não combateram a violência contra as mulheres, e isso tem implicações importantes para a (sua) participação na transição política do país", ressalta este relatório das organizações de defesa dos direitos Humanos.
Numerosos ataques sexuais foram registrados durante os protestos que marcaram a revolta que derrubou Hosni Mubarak há três anos, sob o regime militar que assegurou a transição, e depois sob a presidência do islamita Mohamed Mursi, destituído pelo Exército no dia 3 de julho.
Entre novembro de 2012 e janeiro de 2014, 250 casos foram relatados, incluindo uma grande parte nos arredores da Praça Tahrir, no Cairo, local emblemático das revoltas anti-Mubarak e anti-Mursi, segundo o relatório.
"As sobreviventes e testemunhas relataram o mesmo tipo de abordagem: dezenas de homens cercam (as vítimas), rasgam suas roupas e apalpam seus corpos".
"Algumas foram estupradas por vários agressores, muitas vezes armados com paus, pás e outras armas".
"No entanto, até março de 2014, nenhum dos criminosos foi levado perante a justiça", denunciam as organizações, incluindo a Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH).
O relatório inclui o testemunho de várias vítimas.
"Os homens agiram como leões sobre um pedaço de carne, suas mãos estavam por todo o meu corpo e sob minhas roupas rasgadas", disse uma delas, agredida durante uma manifestação em junho de 2012.
"Vários homens me estupraram ao mesmo tempo. De repente, eu estava no chão e os homens puxavam meu cabelo, pernas e braços que continuam a me estuprar", acrescenta ela.
As organizações de defesa dos direitos Humanos acusam as autoridades militares no poder de não realizar uma investigação para perseguir os agressores, sejam "atores estatais ou civis".
"Medidas (...) são requisitadas para proteger e promover o direito das mulheres a viver sem violência" e "a participar na construção do futuro do Egito", insistiu o diretor executivo da Nazra for Feminist Studies, Mozn Hassan.
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