"Minha Terra, África", com Isabelle Huppert, filme no qual Claire Denis volta à África, onde passou a infância | Foto: Reprodução |
A obra da diretora e roteirista francesa Claire Denis será exibida pelo Cinusp, em parceria com a Cinefrance, a partir do dia 18 de abril, incluindo destaques de sua cinematografia
Coragem define a obra de Claire Denis. Sexo, canibalismo, incesto, política, assassinatos, às vezes todos ao mesmo tempo, são alguns dos aspectos trabalhados nos filmes da diretora, sob o olhar minucioso de diversos planos detalhes – cenas gravadas com a câmera próxima ao corpo dos atores. A cineasta nasceu na França, em 1948, mas ainda pequena mudou-se para a África, onde viveu em colônias francesas, como Camarões, Burkina Faso e Djibuti, para acompanhar seu pai, um administrador colonial. O tempo que passou no continente deu a perspectiva pela qual ela abordaria temas delicados em seus filmes. A ousadia da cineasta é contemplada na mostra Claire Denis, Corpo Presente, uma parceria entre o Cinusp e o Cinefrance, que será exibida a partir da próxima segunda, dia 18.
Na programação, Chocolate (1988), seu primeiro filme, em que trabalha com as memórias de France, personagem que, assim como Claire Denis, passou a infância em Camarões. Ao voltar ao país anos depois, como uma jovem adulta, ela relembra momentos de sua estadia no país, a partir de cenários, sons e sensações que trazem à tona lembranças que constroem o longa. Uma delas, e talvez a mais emblemática, a amizade da pequena France com Protee, um servo negro e mais velho de sua casa, que suscita discussões como a relação entre colono e colonizador.
O papel deslocado da protagonista no continente é retomado em Minha Terra, África (2009). A francesa Maria Vial (interpretada por Isabelle Huppert) vive em uma fazenda de café que pertenceu à sua família por três gerações, em um país africano não nomeado, antiga colônia da França. Uma das propostas do filme é o fato de que todo francês, ao morar na África, vive uma vida emprestada. A protagonista é como uma France (personagem do filme anterior) mais velha: não é vítima, nem capataz, mas uma mera espectadora da rebelião que se instaura na nação.
Ainda que ambos sejam ambientados na África, os temas tratados em Chocolate e Minha Terra, África transcendem o continente no qual são retratados. Tal aspecto é característico da obra de Claire Denis, ao explorar o microuniverso de apátridas, imigrantes, desempregados, marceneiros, golpistas, pais de família, assassinos, entre outros, e, a partir deles, construir reflexões sobre sociedade e política, sem ser simplista ou maniqueísta.
Ainda na programação, 35 Doses de Rum (2009), que trata da vida de um pai solteiro, Lionel (Alex Descas), e sua filha, Josephine (Mati Diopi). À medida que a menina cresce, tanto ela quanto o pai buscam outros relacionamentos, que não o que mantêm um com o outro de cuidado e carinho. Sem grandes peripécias técnicas ou dramaticidades narrativas, o longa impressiona pela sutileza. Somos convidados ao cotidiano, de forma que podemos apreciar cada gesto, cada dificuldade. Também serão exibidas obras consagradas, como Dane-se a Morte! (1990), US Go Home (1994), Desejo e Obsessão (2001) e Ao Lado de Mathilde (2005).
Há filmes em que Claire Denis trabalhou como assistente de direção de outros grandes diretores, como Dusan Makavejev (Sweet Movie), Wim Wenders (Asas Do Desejo, Paris, Texas), Jim Jarmusch (Daunbailó), Costa-Gavras (Hanna K.), entre outros, incluindo Jacques Rivette – um dos mestres da nouvelle vague o lado de François Truffautt e Jean-Luc Goddard –, parceria que resultou no documentário Jacques Rivette, o Vigilante (1994). A mostra é uma oportunidade para o público entrar em contato com o cinema francês, que geralmente fica fora do grande circuito brasileiro.
Há filmes em que Claire Denis trabalhou como assistente de direção de outros grandes diretores, como Dusan Makavejev (Sweet Movie), Wim Wenders (Asas Do Desejo, Paris, Texas), Jim Jarmusch (Daunbailó), Costa-Gavras (Hanna K.), entre outros, incluindo Jacques Rivette – um dos mestres da nouvelle vague o lado de François Truffautt e Jean-Luc Goddard –, parceria que resultou no documentário Jacques Rivette, o Vigilante (1994). A mostra é uma oportunidade para o público entrar em contato com o cinema francês, que geralmente fica fora do grande circuito brasileiro.
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