30 DE NOVEMBRO DE 2016
Josh Smith, Cabul
Sentem orgulho na sua carreira militar, mas as ameaças dos talibãs e a conservadora sociedade afegã não lhes facilitam a vida
A academia de treino militar de Cabul está agitada com turmas de mulheres entusiasmadas em servir no exército do Afeganistão, mas a realidade de uma violência crescente e de uma sociedade conservadora torna incerto o futuro destas jovens recrutas.
Na última turma, algumas das quase 150 mulheres que treinam para ser oficiais dizem que se sentem orgulhosas por fazer parte de um esforço para manter seguro o país, ainda atormentado por uma insurgência travada por militantes islamitas para derrubar o governo apoiado pelo Ocidente.
"Decidi juntar-me ao exército para salvar a vida do meu povo e para nos defender", diz Sakina Jafari, de 21 anos, acrescentando que o seu serviço dá um exemplo. "Isto encoraja outras raparigas a juntarem-se às fileiras do exército."
O Afeganistão é um dos locais mais duros do mundo para se ser mulher, de acordo com a ONU, apesar dos anos de pressão exercida por grupos de mulheres e doadores internacionais.
Homens e mulheres treinam separadamente na base nos arredores da capital, mas os oficiais dizem que o treino é semelhante, incluindo educação física, armas de fogo, tática e cuidados médicos.
Ao contrário de muitos afegãos, todas as mulheres que se formam na academia são alfabetizadas e irão para uma das muitas posições não combatentes, incluindo gestão, recursos humanos, operações de rádio, ou inteligência, afirma a tenente-coronel Cobra Tanha, uma veterana com de 28 anos de carreira militar. Algumas, no entanto, poderão ir dar assistência às forças especiais afegãs em missões como raides noturnos, que frequentemente precisam de mulheres para ajudar em buscas domiciliárias culturalmente sensíveis, acrescenta a mesma responsável.
Os Estados Unidos, que têm cerca de sete mil militares no Afeganistão integrados numa missão liderada pela NATO para ajudar e treinar as forças afegãs, orçamentaram pelo menos 93,5 milhões de dólares (cerca de 88,5 milhões de euros) neste para tentar aumentar o número de mulheres no exército.
Apesar dos anos de investimento, o exército afegão tem menos de 900 mulheres-soldado, muito abaixo do objetivo de cinco mil, de acordo com o inspetor-geral especial do governo norte-americano para a Reconstrução do Afeganistão (SIGAR, na sigla em inglês). Hasina Hakimi, de 19 anos, diz que não pode voltar à sua província natal por causa das ameaças talibãs, e muitas mulheres falam em enfrentar desafios dentro do próprio exército.
Mulheres a trabalhar em funções públicas são um assunto controverso no Afeganistão, onde no último ano quase 60% dos afegãos ouvidos pela Asia Foundation diziam não considerar aceitável ver mulheres a trabalhar no exército ou na polícia. Mesmo depois de se alistarem, as mulheres deparam--se com muitos obstáculos para conseguirem um posto ou serem promovidas, relata o SIGAR.
O formadores da NATO constataram que as razões mais comuns citadas pelas mulheres para abandonarem as forças de segurança eram "oposição dos familiares homens, problemas com os colegas do sexo masculino, baixos salários, obrigações familiares, falta de promoções ou de oportunidades para missões significativas e uma falta de treino e segurança", refere o mesmo organismo.
Estas dificuldades foram confirmadas por Benafsha Sarwari, uma professora de 20 anos na academia de Cabul, que, no entanto, expressou a sua determinação em continuar ao serviço.
"Já vivi muitos desafios", afirma Sarwari. "Vivemos numa sociedade conservadora e a maioria das pessoas são pessimistas em relação às mulheres que trabalham fora. Temos de superar os desafios e cumprir as nossas tarefas".
Jornalista da Reuters
DN
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