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sábado, 19 de novembro de 2016

COP22: Democracia, empoderamento feminino e meio ambiente

Por Paulo Henrique Pompermaier, de Marrakech, especial para a Envolverde e para o Projeto Cásper Líbero na COP 22 – 18/11/2016
Um dos destaques da COP22 são as diversas organizações dedicadas a erigir o problema da igualdade de gênero no meio dos debates sobre um futuro sustentável.
Na Green zone, espaço da COP22 dedicado à apresentação de ONGs, institutos sem fins lucrativos e novas invenções que repensam a relação do homem com os recursos naturais, a democracia é recuperada simbolicamente desde suas origens. As Ágoras, que na Grécia Antiga eram os locais onde os cidadãos expunham suas opiniões e constituíam a esfera pública, batizam diversos espaços da Green zone que recebem diariamente debatedores para falar abertamente sobre diferentes temas.
As ágoras são divididas em seis temáticas: Academia e Pesquisa, Territórios, Saberes e tradições, Gênero e clima, Juventude e Arte e cultura. Delineiam bem, dessa forma, o espírito de uma COP em Marrakesh, unindo o poder do saber ancestral ao poder da juventude e das novas questões em pauta. Nesse interstício, a potência de uma conferência para pensar o futuro que acontece em uma cidade milenar.
Na sessão “Gênero e clima”, desigualdade de oportunidades, diferenças nas relações de poder, nas decisões políticas, econômicas, e no nível de bem-estar entre homens e mulheres juntam-se ao debate sobre o meio-ambiente, na opinião de Patricia Bohland, administradora de finanças da organização Gender CC – women for climate justice. “Mulheres são mais vulneráveis a mudanças climáticas do que homens, porque são elas que, por exemplo, são responsáveis por tomar conta dos hábitos alimentícios da família e até produzir em algumas culturas”, argumenta Bohland. Ela acredita que é essa proximidade que torna as mulheres mais importantes no debate sobre o clima, pois são as primeiras a sentirem e se adaptarem às mudanças.
Em um levantamento feito pela Women Gender Constituency, todos os dados apontam para a relação mais saudável que as mulheres mantem com o meio-ambiente e para a desigualdade de gênero que também se reproduz no debate quanto ao clima. Mulheres, por exemplo, ocupam apenas 7% dos ministérios de meio-ambiente, recursos naturais e energia. Aproximadamente 70% das pessoas mais pobres do mundo, e, portanto, mais afetadas por problemas ambientais, são mulheres. Não obstante, são as mulheres que emitem menos gás carbônico, devido aos hábitos de consumo e transportes que utilizam. A população feminina, por exemplo, tem quase 80% menos intenções de comprar um carro que um homem em países como Índia, Indonésia e Alemanha.
Uma das funções da Women Gender Constituency (WGC), que reúne 16 organizações de mulheres para repensar o planeta, é mostrar como o capitalismo está associado ao sistema patriarcal, sendo ambas formas de explorar, ao mesmo tempo, a natureza e as mulheres. “A perspectiva masculina nos trouxe aqui, nessa situação ambiental. E soluções para o clima sempre pensam em novas tecnologias ao invés de rever essas relações de gênero”, assevera Bohland, uma das representantes da WGC.
Abbes Benaissa, secretário geral da RIAM, rede de iniciativas agrícolas em Marrocos, acredita da mesma forma que o meio-ambiente é apenas uma foto limitada de um problema maior, que envolve todas as relações humanas. “Precisamos mudar nossos paradigmas, repensar nossa interação com as mulheres, colocá-las em situação de igualdade. Apenas reconhecendo as diferentes formas de trabalhar de homens e mulheres vamos conseguir mudanças significativas no meio ambiente”.
A “forma de trabalhar da mulher”, na opinião de Colette Gaillard, uma das fundadoras do RIAM, está intimamente relacionada à natureza. A função da mulher, em países como África e Ásia, de fornecer alimento saudável para a família, é um dos principais fatores que colocam a mulher em elo íntimo com a natureza, segundo Gaillard. E, dessa forma, esse é o grupo mais afetado por mudanças climáticas: “Em países com alto grau de desertificação, o solo fica infértil e a água potável está cada vez mais distante das moradias. E são as mulheres que têm que ir cada vez mais longe buscá-la.Ela que tem que gastar cada vez mais dinheiro com alimento porque não consegue mais produzir no solo”, reflete a fundadora do RIAM.
A agricultura sustentável é, na perspectiva do RIAM, a forma mais eficaz de unir um futuro saudável com a emancipação feminina. Gaillard, ao fazer um balanço sobre o espaço de discussão proporcionado pela Cop, acredita que “eventos como esse são muito interessantes pela troca de ideias. Mas o que acontece aqui é apenas política, comunicado oficial. Nada em termos de ação efetiva”.Em sua opinião, mulheres em áreas rurais da África, Índia, América do Sul, fazem o contrário com sua forma de atuação.“São áreas onde você percebe serem elas as primeiras a criarem grupos de ação para lutar pelo bem-estar, a boa alimentação, e criar iniciativas criativas para repensar um futuro sustentável”, conclui. (#Envolverde)

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