Beatriz Moura
Nov 8 2016
Misturando indie-psicodélico com eletrônico, a multi-instrumentista jundiaiense é a primeira artista a ser lançada pelo PWR Records, selo que reúne bandas nacionais com pelo menos uma integrante do sexo feminino.
Foto: Autorretrato.
No último Dia das Bruxas, os nossos amigos do Noisey Canadá fizeram um matérião (que infelizmente ainda não tivemos tempo de traduzir) sobre o porquê de a música precisar de mulheres mágicas, como a Stevie Nicks, a Grimes e a Florence, por exemplo. Uma coisa que essas três artistas têm em comum, além de serem mulheres, é o de invocarem, mesmo que às vezes involuntariamente, a figura da "bruxa".
A bruxa pode ter ganhado toda uma conotação negativa na sociedade patriarcal e judaico-cristã em que a gente vive hoje, mas o que o texto dos gringos explica é como essas três mulheres ressignificaram e usaram o simbolismo da bruxa, junto com todo o imaginário feminino "mágico" que ela representa, para se imporem e fazerem a sua música como mulheres fortes e independentes. O que a Rita Oliva está fazendo com o seu novo projeto de eletrônico com indie-psicodélico PAPISA, que lança seu EP homônimo de estreia nesta terça-feira (8) com exclusividade no Noisey, é mais ou menos isso.
A Rita já é um nome conhecido na cena indie paulistana há algum tempo: ela é integrante da banda de indie-psicodélico Cabana Café e metade do duo de indietrônico PARATI. E, como essas suas duas bandas mais antigas acabaram entrando em hiato, Rita deu vida à PAPISA. "Apesar de sempre fazer parte de bandas, eu sempre fiz algumas músicas só minhas. Foi num show do PARATI que acabei tendo que fazer sozinha, tocar tudo e tal, que me veio um estalo de começar o meu próprio projeto", disse a jundiaiense radicada em São Paulo de 29 anos.
O nome PAPISA veio da carta da Sacerdotisa do tarô, uma mulher sozinha que representa o princípio feminino, receptivo e que carrega a sabedoria na sua própria intuição. "Achei que esse nome casava exatamente com a minha intenção nesse projeto: ter o máximo possível de autonomia sobre o meu trabalho", explicou Rita. Na bruxaria, a Deusa-Tríplice representa as três fases da Lua: a amante, a mãe e a anciã. A Rita explicou que a PAPISA também abrange a imagem da anciã, a única que não está ligada a uma figura masculina, diferente das outras duas. "É o meu renascimento como artista. Um novo começo, sozinha, sem estar diretamente ligada a projetos com colegas homens, como é o Cabana e o PARATI", disse a multi-instrumentista, que toca piano desde os sete anos, bateria desde os 15, além de baixo, violão e guitarra. "No Brasil, há muito ainda o estigma da 'cantora', em que as artistas mulheres são ainda reduzidas apenas à voz no mundo da música. Muita gente duvida que eu e outras mulheres somos capazes de fazer — no caso, compor, produzir e tocar — nossas músicas inteiras. A PAPISA vem exatamente como a minha tentativa de quebrar esse estigma."
Com experimentações que misturaram synths e beats com baixo, bateria e guitarra, Rita abordou nas três faixas do EP os três aspectos da Sacerdotisa: o instinto, a intuição e a ilusão (ou seja, o "oculto", aquilo que é escondido e maquiado). E, apesar de se tratar de um projeto solo, a PAPISA está sendo acompanhada dos meninos do BIKE nos shows: Julito Cavalcante (guitarra), Rafa Bulleto (baixo) e Diego Xavier (guitarra) — inclusive, a Rita tá tocando bateria pro BIKE na turnê que eles tão fazendo em conjunto no Nordeste.
Para lançar PAPISA, a Rita escolheu o selo PWR Records, das recifenses Hannah Carvalho e Letícia Tomás, aquelas minas que fizeram uma lista só com bandas brasileiras que contenham pelo menos um integrante do sexo feminino. Ouça abaixo:
Ficha Técnica
Produzido por Rita Oliva
Gravado em home studio e Mono Mono Studio
Baixo, bateria, guitarra e synth por Rita Oliva
Synths e programação por Fabio Gagliotti
Solo de "Delusional" por Rafa Bulleto
Mixado por Taian Cavalca
Masterizado por Maurício Gargel
Papisa EP by PWR Records
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