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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

6 filmes para entender por que a exploração infantil é um problema no Brasil




Recentemente, na minha conta pessoal do Facebook, postei uma matéria que mostra fotos de bordéis em Bangladesh denunciando a violência a que estão sujeitas as mulheres que se prostituem nesses ambientes. Depois disso, infelizmente, vi pessoas dizendo que tais situações são distantes da realidade que vemos aqui no Brasil, o que me deixou muito indignada.
O documentário Nascidos em Bordéis, único filme feito na Índia desta lista, é uma denúncia da situação que aquelas mulheres vivem, em um local onde a extrema pobreza e as questões morais e religiosas as levam a esse único lugar, que é o da prostituição, onde, consequentemente, seus filhos tem pouquíssimas chances, nenhum estudo e, para suas meninas, pouco resta a não seguir o caminho da prostituição.
Isso é na Índia. Mas no Brasil não e tão diferente como alguns pensam. Existem muitas produções cinematográficas nacionais que fazem o papel de denunciar as reais questões de gênero que acometem mulheres. A prostituição e exploração sexual de menores não são escolhas, e sim consequências de um mundo de desigualdade social, racial e de gênero. Abaixo, listei alguns deles:
1. Nascidos em Bordéis (2004)
É necessário demarcar a diferença entre as mulheres que se prostituem porque querem e entre aquelas que fazem isso porque precisam e são de alguma forma obrigadas a isso.
Além disso, existe uma disparidade ainda maior entre prostituição e exploração sexual de menores, que apresenta números alarmantes. Segundo a UNICEF, a cada hora 228 crianças - e principalmente meninas - são exploradas sexualmente em países da América Latina e do Caribe.
O perfil das mulheres e meninas exploradas sexualmente aponta para a exclusão social desse grupo, a maioria é negra e vem de classes baixas. Por fim, no Brasil, 50% das vítimas de estupro no Brasil são crianças de até 13 anos.
Falar sobre algumas realidades que envolvem a prostituição no Brasil não significa criminalizar e odiar prostitutas, até porque muitas mulheres começaram sendo exploradas sexualmente ainda muito jovens. Essa é uma realidade onde marcadores sociais como classe, raça e gênero se interseccionam na possibilidade ou não de algumas mulheres e meninas de ter acesso e escolhas. Por isso segue a lista de filmes que retratam em parte essas situações de exploração sexual de menores, prostituição e miséria no Brasil:
2. Anjos do Sol (2013)
Anjos do Sol tem como foco a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, o enredo se passa no interior do Maranhão, onde a personagem Maria (Fernanda Carvalho) com doze anos é vendida pela família para trabalhar como empregada doméstica e ter portanto uma vida melhor.
Contudo Maria cai nas mãos de um aliciador de menores, que a vende para uma cafetina interessada em comercializar meninas virgens para homens. Após ser vendida para um coronel a menina é estuprada por ele e pelo seu filho como forma de "iniciá-lo" sexualmente. Depois desse fato ela é enviada para um prostíbulo num garimpo onde passa a ser estuprada diariamente por diversos homens. Uma das suas colegas Inês (Bianca Comparato) é assassinada brutalmente por tentar fugir, já Celeste (Mary Sheila) está grávida e não sabe quem é o pai e por fim uma das garotas que fazem parte desse sua nova realidade tem AIDS já que no local não se usa preservativos.
O diálogo mais triste do filme é quando Maria pergunta para Inês, porque homens fazem isso com ela, se ela não gosta. Enquanto aperta o próprio ventre pois sente dor. É quase um documentário, um retrato real da violência sexual contra crianças e adolescentes, não atoa se diz baseado em fatos reais e tem como fim a prova que uma menina de doze anos, analfabeta e explorada sexualmente, não tem outra saída a não ser se prostituir seja no garimpo, no Rio de Janeiro, nas estradas com caminhoneiros. Esse filme demarca algo relevante de ser destacado que o cafetão da história é também um pedófilo que abusa, se envolve e prostitui menores de idade.
3. Sonhos Roubados(2015)
Jéssica (Nanda Costa), Daiane (Amanda Diniz) e Sabrina (Kika Farias) são as protagonistas desse filme, ambas negras, pobres e faveladas, que fazem da prostituição algo corriqueiro de suas vidas numa favela carioca. Tem temas muito fortes sendo tratados o primeiro o abuso sexual dentro de casa por familiares, a maternidade na adolescência negra e pobre, o abandono paternal, a prostituição como única possibilidade de renda para sustentar filhos, a imposição estética branca e a busca por se enquadrar e o desejo por afeto enquanto mulher e negra. A miséria no meio de uma das cidades mais ricas do país, meninas menores de idade que trocam seus uniformes escolares por roupas curtas e decotadas e se prostituem. Tudo naquela realidade em que sonhos são roubados, a vida de meninas que têm responsabilidades de adultos. Jéssica é o destaque para mim, mas esse filme é o que indico sempre que algumas pessoas querem "entender" a realidade de mulheres negras no Brasil, falar de mérito no nosso país ou supor que racismo e machismo não existem chega a ser cruel. Esse filme também tem seu roteiro baseado em fatos reais.
4. Iracema: Uma Transa Amazônica (2006)


A narrativa de Iracema é muito mais próxima de um documentário experimental. Ela é uma jovem de 15 anos, com traços indígenas, que chega em Belém com a festa do Sírio de Nazaré.
A menina então passa a se prostituir e em um bar conhece Tião, um caminhoneiro que a leva junto com ele pela Rodovia Transamazônica recém-construída. Por fim, a relação que vai se desenhando é abusiva a Iracema é muitas vezes tratada como burra pelo explorador de menores e companheiro de viagem que a deixa pelo caminho.
A exploração da menina é naturalizada. Iracema, após o abandono do "parceiro" acaba se vendo em várias situações trágicas colocadas pela prostituição: desde ser presa, agredida, e inclusive enganada. Tião reencontra Iracema suja, alterada pelo uso de drogas e sem um dente repetindo a frase: "Fica comigo Tião".
5. Baixio das Bestas(2012)
Baixio das Bestas é um dos filmes mais viscerais e cruéis que eu já assisti. Auxiliadora (Mariah Teixeira) é explorada sexualmente pelo seu avô Heitor que também é seu pai, na zona da Mata Pernambucana.
A menina de 16 anos é levada por ele para ficar nua em um posto da estrada. Caminhoneiros pagavam para vê-la nua enquanto se masturbavam. Em alguns momentos eles pagam para tocar na menina, sem seu consentimento. Contudo, o avô não aceita que tirem sua virgindade. Fato esse que ele mesmo confere que seja mantida.
O filme tem diversas cenas de estupro, o primeiro de uma prostituta pelo doentio Everardo (Matheus Nachtergaele) que é tido como intelectual. Ele a estupra e a agride com pontapés na cabeça. Depois ele estupra uma segunda prostituta coletivamente com seus amigos. Bela (Dira Paes) é agredida e estuprada com um bastão.
Por fim Auxiliadora é estuprada pelo estudante Cícero (Caio Blat) e agredida pelo avô/pai que acredita que ela é "impura" por não ser mais virgem. O destino de Auxiliadora é a prostituição, a jovem de 16 anos é a única personagem que ao longo do filme não tem falas, sua voz é ausente ao longo das horas de filme. Esse filme diz muito sobre um país onde grande parte dos estupros vitimam menores de idade.
6. O Céu de Suely (2006)
Hermila (Hermila Guedes), tem 21 anos, nasceu e foi criada na pequena cidade de Iguatu, Ceará, na Região Nordeste do Brasil. Grávida, tenta a vida em São Paulo com o namorado. Meses depois, não conseguindo emprego, porém, volta à sua cidade natal. Aguarda por um mês o retorno do namorado, pai da criança, que some, sem deixar pistas.
Ao perceber que foi abandonada, resolve mais uma vez fugir daquele lugar, mas desta vez, para o Rio Grande do Sul, onde talvez existam condições melhores. Sem dinheiro para a viagem, ela adota o pseudônimo de Suely, e resolve rifar o próprio corpo entre os homens da cidade. O melhor do filme é a cena final em aberto, nunca saberemos o que aconteceu com Suely, mas aposto com quase absoluta certeza que mesmo no Rio Grande do Sul a sua única opção seria a prostituição.
Muitos dizem que Hermila foi a caminho da sua liberdade o que me fez colocar esse filme logo após o Baixio das Bestas na lista, já que Auxiliadora demonstra se libertar do avô na prostituição.
Porém, mesmo que coloquem de uma forma "bonita", é triste como as chances são fadadas e nulas. Por isso trouxe por último esse filme que mesmo não sendo sobre uma menor de idade, diz muito sobre a realidade de meninas que são mães e carregam inúmeras responsabilidades desde cedo.

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