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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

“O xadrez me mostrou que é possível sonhar”

de Toronto, Elaine Guerini
18.11.16

Antes mesmo de aprender a ler e a escrever, Phiona Mutesi se tornou uma prodígio de xadrez em Uganda. Como a africana foi obrigada a sair da escola para ajudar a família, vendendo milho nas ruas da favela de Katwe, na cidade de Kampala, o esporte mudou o seu destino, quando ela tinha nove anos. A trajetória da campeã, que representou o seu país em três Olimpíadas da modalidade, é contada no filme “Rainha de Katwe”, produção da Walt Disney Pictures e da ESPN Films, com lançamento nos cinemas do Brasil no dia 24. A seguir os principais trechos da entrevista que Phiona, hoje com 20 anos, concedeu à ISTOÉ durante a 41ª edição do TIFF, o Festival Internacional de Cinema de Toronto.

Como nasceu o seu interesse pelo xadrez?
Comecei a frequentar as aulas de xadrez, oferecidas pelo missionário Robert Katende, porque eu tinha fome e eles davam comida. Como eles só ofereciam o mingau aos alunos no final da aula, fui aprendendo. Em pouco tempo, peguei gosto pelo jogo, principalmente depois que consegui ganhar a partida de um menino (risos). Aí fiquei interessada em vencer o maior número possível de homens no tabuleiro…

O que você mais aprendeu com o xadrez?
O esporte me deu a chance de desenvolver habilidades para usar na minha vida. Aprendi a planejar, a fazer estratégia e a tomar de decisões. O xadrez também me mostrou que era possível sonhar.

O filme retrata como você precisou lutar para encontrar o seu lugar no xadrez, um esporte de brancos. Como está a sua vida agora?
Ainda sou enxadrista e agora sou estudante também. Graças ao meu desempenho, tive a oportunidade de voltar a estudar. Aos seis anos, antes mesmo de ser totalmente alfabetizada, tive de abandonar a escola para ajudar a minha mãe, que é viúva, a sustentar a casa, com cinco filhos. Finalmente, eu vou terminar o colegial este ano, para tentar uma vaga na faculdade de Direito no ano que vem. Quero defender os direitos humanos, trabalhando na África. Vou me dedicar às crianças e às mulheres que precisam de ajuda.

A história contada na tela é 100% fiel à sua?
Sim. Tudo é verdadeiro. Algumas coisas que aconteceram são mostradas de forma ligeiramente diferente na tela. Eu não sei muito bem como um filme é feito, mas imagino ser preciso condensar algumas passagens para não ultrapassar a duração desejada. O importante é que eu me vi na tela. É, sim, a minha vida.

Como orientou Madina Nalwanga, a atriz que interpreta você no filme?
Nós apenas conversamos. Como Madina cresceu em ambiente parecido com o meu, foi natural para ela se colocar na minha posição. Eu me vejo nela o filme todo.

Qual foi a sua reação ao ver “Rainha de Katwe”?
Foi muita emoção. Chorei várias vezes, sobretudo pelo filme me fazer lembrar de tudo o que eu vivi. Ainda não acredito que a história de uma pessoa como eu foi parar naquela tela enorme. Nunca vou esquecer a experiência no tapete vermelho do Roy Thompson Hall de Toronto, com uma multidão (de 2 mil pessoas) que estava ali para nos ver. Quase entrei em pânico quando os fotógrafos começaram a gritar o meu nome. Como sou tímida, não conseguia me mexer. Aos poucos, fui ganhando confiança. Nunca sonhei com algo dessa magnitude.

Foi a sua primeira experiência em sala de cinema?
Foi. Quando as pessoas falavam em cinema, eu só imaginava, sem saber exatamente qual a sensação. Não havia cinema em Kampala quando eu era garota. De uns sete anos para cá é que surgiu o conceito de cinema multiplex por lá. Mas até então eu não tinha tido a oportunidade de ver um filme na sala escura. Quem poderia esperar que o meu primeiro filme seria sobre a minha vida…

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