Para Aline Ramos, do blog Que nega é essa?, existe muita confusão quando se fala em 'minorias sociais'
24/08/2016 / POR STEFANIE CIRNE
Cada vez mais os ativistas negros, mulheres, gays e trans, além dos militantes de direita e de esquerda (os famosos coxinhas e petralhas), estão migrando suas atividades para as redes sociais. Na reportagem “Somos Todos Ativistas”, discutimos porque até os “textões” podem fortalecer a democracia.
24/08/2016 / POR STEFANIE CIRNE
Cada vez mais os ativistas negros, mulheres, gays e trans, além dos militantes de direita e de esquerda (os famosos coxinhas e petralhas), estão migrando suas atividades para as redes sociais. Na reportagem “Somos Todos Ativistas”, discutimos porque até os “textões” podem fortalecer a democracia.
Nesta conversa, falamos com a criadora do blog Que nega é essa?, Aline Ramos, que busca a visibilidade da mulher negra na sociedade e na mídia.
Como você se aproximou do feminismo e do movimento negro?
Como você se aproximou do feminismo e do movimento negro?
Eu e muitas meninas da minha idade nos aproximamos dos dois por meio da internet. Em sala de aula, ninguém falava sobre isso. Então, minhas referências eram as redes sociais e os blogs, principalmente o Escreva, Lola, Escreva (blog mantido pela professora Lola Aronovich desde 2008). Acho que eu só consigo me lembrar dele, por muito tempo foi a minha maior referência.SAIBA M
Você se define ativista hoje?
Primeiro tem a questão da nomenclatura: militante ou ativista? Eu prefiro hoje me considerar “ativista” justamente porque o termo “militante” remete à questão militar. Dentro dos movimentos a gente usa muito palavras bélicas(no sentido de “luta”, de “arma”...). Então, “ativismo” é mais interessante porque remete a alguém que está se movendo, que tem uma ação em prol de uma causa.
Considera importante que as pessoas assumam um posicionamento político ?
Sim, no sentido de mostrar a força de um movimento. Esse reconhecimento também dá noção do tamanho, porque existe muita confusão quando a gente fala de “minorias sociais”. As mulheres não são minoria e os negros, muito menos — mas os dois são minorias na questão dos direitos. E até você explicar isso, as pessoas acham que é realmente uma minoria quantitativa.
Primeiro tem a questão da nomenclatura: militante ou ativista? Eu prefiro hoje me considerar “ativista” justamente porque o termo “militante” remete à questão militar. Dentro dos movimentos a gente usa muito palavras bélicas(no sentido de “luta”, de “arma”...). Então, “ativismo” é mais interessante porque remete a alguém que está se movendo, que tem uma ação em prol de uma causa.
Considera importante que as pessoas assumam um posicionamento político ?
Sim, no sentido de mostrar a força de um movimento. Esse reconhecimento também dá noção do tamanho, porque existe muita confusão quando a gente fala de “minorias sociais”. As mulheres não são minoria e os negros, muito menos — mas os dois são minorias na questão dos direitos. E até você explicar isso, as pessoas acham que é realmente uma minoria quantitativa.
A história democrática do Brasil ainda é recente. O que o ativismo expressa da nossa trajetória política?
Hoje a gente sente uma frustração muito grande na hora de definir quem é o inimigo. Porque a gente vem do período da Ditadura, em que o inimigo era muito claro. Hoje, ele não é mais tão bem definido. Eu me considero uma feminista negra, então é muito fácil me opor a todas as outras identidades e colocar que a minha vivência é a mais difícil de todas. Mas não é uma tabelinha que você preenche: “ah, é negro, ótimo”.
Hoje a gente sente uma frustração muito grande na hora de definir quem é o inimigo. Porque a gente vem do período da Ditadura, em que o inimigo era muito claro. Hoje, ele não é mais tão bem definido. Eu me considero uma feminista negra, então é muito fácil me opor a todas as outras identidades e colocar que a minha vivência é a mais difícil de todas. Mas não é uma tabelinha que você preenche: “ah, é negro, ótimo”.
Aí vai juntando, “é mulher”, “é lésbica”, “é trans”, e aí “olha, parabéns, você atingiu o nível máximo de opressão!”. Não é nesse aspecto que a gente tem que caminhar, e muitas vezes o debate na internet vai por esse caminho. Acho isso perigoso porque já estamos em uma situação fragilizada, e assim a gente se fragiliza ainda mais, porque fica brigando entre si pra ver quem tem mais direito de fala, quem está mais fodido, e aí é muito fácil se perder e não ver a política em um sentido mais amplo.
Galileu
Galileu
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