A violência sexual é uma das principais causas da elevada taxa de gravidez entre adolescentes no México e em outros países da América Latina
EL PAÍS
25 NOV 2016
Chega um novo Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, e, embora a situação tenha melhorado em muitos lugares, o último ano foi pródigo em exemplos de como é difícil não só avançar, mas também manter os progressos alcançados. Parecia algo impensável que alguém, em pleno século XXI, pudesse usar seu machismo como bandeira política. No entanto, Donald Trump fez isso e se saiu vitorioso: milhões de norte-americanos –inclusive mulheres—não consideram que a sua postura pró-assédio fosse um demérito para se poder chegar à Casa Branca. Esta não é a única questão em que as posições de Trump representam uma ameaça, mas é a mais dolorosa para as mulheres, que viram uma candidata sensata, muito mais preparada e com maior experiência política ser derrotada por uma pessoa que ostenta o seu desprezo por elas.
A longa série publicada por este jornal mostra até que ponto a violência contra as mulheres é uma realidade cotidiana, muitas vezes oculta sob o manto do silêncio. Uma em cada três mulheres no mundo continua sofrendo assédio, maus tratos ou agressões sexuais. Acabamos de ver como, em um país tão importante como a Turquia, os direitos das mulheres recuam, em decorrência das políticas adotadas por um Governo disposto a vetar qualquer sinal de modernização que signifique uma liberdade maior para as mulheres. Um projeto de lei pretendia anistiar os estupradores de menores caso viessem a se casar com suas vítimas, o que implicaria retomar uma lei abolida em 2005 que infelizmente ainda vigora em vários países africanos e do Oriente Médio. A proposta foi, até o momento, contida, mas a simples tentativa de retomá-la reflete a fragilidade dos avanços conquistados nos países muçulmanos moderados, enquanto que, naqueles governados pelas correntes mais rigorosas do islamismo, as mulheres continuam sofrendo com uma condição de violência e subordinação intoleráveis.
Na Rússia, a campanha #nãotenhomedodedizer, lançada por uma jornalista que foi estuprada, trouxe à tona uma realidade terrível. Mais de 12.000 mulheres morrem a cada ano pelas mãos de seus parceiros naquele país de 143 milhões de habitantes, em que apenas um décimo dos casos de violência é denunciado. As mulheres agredidas não ousam revelá-los, por vergonha e medo, tal como se vê no México, onde 540.000 casos de crimes sexuais são denunciados a cada ano, sendo 40% deles contra menores de 15 anos de idade. A violência sexual é uma das principais causas da elevada taxa de gravidez entre adolescentes no México e em outros países da América Latina.
Este quadro permite avaliar melhor os avanços produzidos na Espanha nos últimos 10 anos, durante os quais a violência de gênero integrou com força a agenda política. Mas o contraste não deve nos levar à complacência nem a baixar a guarda. Neste ano, 40 mulheres foram assassinadas por seus parceiros, e, embora devamos comemorar o fato de que são 10 a menos do que no mesmo período do ano passado, é preciso analisar a fundo o que está errado e como melhorar o sistema de proteção. Do total de mulheres assassinadas, 41% haviam apresentado alguma denúncia, o dobro do que no ano anterior. Isso também é uma melhora, mas é preciso investigar por que, apesar da denúncia, não foi possível impedir a sua morte e por que as outras 59% não apresentaram nenhuma denúncia.
El País
A longa série publicada por este jornal mostra até que ponto a violência contra as mulheres é uma realidade cotidiana, muitas vezes oculta sob o manto do silêncio. Uma em cada três mulheres no mundo continua sofrendo assédio, maus tratos ou agressões sexuais. Acabamos de ver como, em um país tão importante como a Turquia, os direitos das mulheres recuam, em decorrência das políticas adotadas por um Governo disposto a vetar qualquer sinal de modernização que signifique uma liberdade maior para as mulheres. Um projeto de lei pretendia anistiar os estupradores de menores caso viessem a se casar com suas vítimas, o que implicaria retomar uma lei abolida em 2005 que infelizmente ainda vigora em vários países africanos e do Oriente Médio. A proposta foi, até o momento, contida, mas a simples tentativa de retomá-la reflete a fragilidade dos avanços conquistados nos países muçulmanos moderados, enquanto que, naqueles governados pelas correntes mais rigorosas do islamismo, as mulheres continuam sofrendo com uma condição de violência e subordinação intoleráveis.
Na Rússia, a campanha #nãotenhomedodedizer, lançada por uma jornalista que foi estuprada, trouxe à tona uma realidade terrível. Mais de 12.000 mulheres morrem a cada ano pelas mãos de seus parceiros naquele país de 143 milhões de habitantes, em que apenas um décimo dos casos de violência é denunciado. As mulheres agredidas não ousam revelá-los, por vergonha e medo, tal como se vê no México, onde 540.000 casos de crimes sexuais são denunciados a cada ano, sendo 40% deles contra menores de 15 anos de idade. A violência sexual é uma das principais causas da elevada taxa de gravidez entre adolescentes no México e em outros países da América Latina.
Este quadro permite avaliar melhor os avanços produzidos na Espanha nos últimos 10 anos, durante os quais a violência de gênero integrou com força a agenda política. Mas o contraste não deve nos levar à complacência nem a baixar a guarda. Neste ano, 40 mulheres foram assassinadas por seus parceiros, e, embora devamos comemorar o fato de que são 10 a menos do que no mesmo período do ano passado, é preciso analisar a fundo o que está errado e como melhorar o sistema de proteção. Do total de mulheres assassinadas, 41% haviam apresentado alguma denúncia, o dobro do que no ano anterior. Isso também é uma melhora, mas é preciso investigar por que, apesar da denúncia, não foi possível impedir a sua morte e por que as outras 59% não apresentaram nenhuma denúncia.
El País
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