Por Bethy Squires
novembro 10, 2016
Esta matéria foi originalmente publicada no Broadly.
Os ativistas dos direitos dos homens (MRA em inglês) e os pick-up artists (PUA) adoram usar táticas do comportamento animal para dar em cima das mulheres. Por isso falamos com especialistas em lobos e animais para descobrir exatamente como e por que os ativistas estão errados.
Na internet você provavelmente já cruzou com gente chamando outros caras de "beta cucks".
"Cucks" vem de "cuckhold" ["corno", em bom português], o marido de alguém que está tendo um caso. A expressão deriva de uma velha palavra francesa para cuco. Os cucos são conhecidos por deixar seus ovos no ninho de outros pássaros, então cuck é alguém que pode estar criando o rebento de outra pessoa.
O termo "beta" é derivado da etologia, a ciência que estuda o comportamento animal. Cunhada pela primeira vez em um estudo sobre lobos, o animal beta é subordinado do animal alfa. Então o xingamento pode ser traduzido como "lobo-pássaro otário", ou um homem que possui a qualidade de um animal inferior.
Mas beta e cuck são apenas dois dos termos relacionados a animais que abundam na machosfera, um canto escuro da internet no qual os MRAs (ativistas por direitos dos homens), tipinhos da direita alternativa, e pick-up artists se juntam para reclamar que o feminismo estragou a ordem natural das coisas. A ênfase nos comportamentos animais sugere que os integrantes desses eventos ao usar esses termos querem que as pessoas se comportem mais como nossos ancestrais das cavernas. E isso quer dizer a dominação inquestionável do homem sobre a mulher, demonstrações agressivas entre machos e infanticídio? É difícil dizer quantas outras características bestiais a machosfera gostaria que todo mundo adotasse.
Os membros da comunidade dos PUAs tiram inspiração do zoológico inteiro: um cara pode usar a técnica de se pavonear, ou tentar se destacar visualmente; comportamento mutável, ou enviar sinais mistos; e sarging, tentar seduzir o maior número de minas possível, uma prática batizada em homenagem ao gato Sage do guru PUA Ross Jeffries. (Diferentemente dos padrões reais de comportamento dos gatos, acho que sarging não envolve morder a nuca da mulher para colocá-la num estado dócil infantil, depois penetrá-la com seu pênis em formato de gancho.)
Mas é essa hierarquia alfa/beta que está passando por uma renascença na internet. E seu uso atual ignora completamente a ciência por trás disso. Então fui até uma reserva ecológica de lobos para estudar o comportamento desses animais.
"[Alfa é] um termo cunhado na biologia, [significa] apenas a primeira letra do alfabeto grego, uma coisa de conveniência", diz Monty Sloan, curador sênior e fotógrafo do Wolf Park. "E o termo foi meio que minado pela percepção do público do que isso significa." Primeiro, alcateias têm dois alfas: o macho e a fêmea. "Há sempre dois alfas num bando. É isso que define a alcateia. O grupo pode ter dois lobos, mas, socialmente, eles são dominantes. Eles são os alfas. Se mais lobos entram no grupo, eles vão ter que se submeter a esses dois. E o que você vai ver é uma hierarquia linear se desenvolver."
O macho alfa é o pai.
Esses dois alfas geralmente são os procriadores, e nos lobos encontrados nos EUA, por exemplo, as alcateias geralmente são uma família nuclear. Por isso alguns pesquisadores abandonaram o uso do termo alfa, como o próprio David Mech, cujo livro The Wolf popularizou a ideia de um lobo alfa nos anos 70. "Eles são apenas procriadores, ou pais, e é assim que os chamamos hoje", escreveu em seu site acadêmico. Em vez de um macho alfa com um harém de lobas a seu serviço por ser forte e másculo, o macho alfa é o pai.
"Você não luta para ter a posição de alfa, você geralmente a herda. É uma questão de estar no lugar certo na hora certa", diz Sloan. "O que você precisa ter é uma cria, e as crias vão crescer e se submeter aos pais. Apenas isso."
Segundo o To Be An Alpha, um site dedicado a ajudar homens a se tornar os alfas de seus grupos, os machos alfas que tomam o controle são "opinativos e expressivos", e "não têm medo de partir para a violência".
Os machos procriadores dominantes não têm medo de partir para a violência, mas também não começam brigas. "Você geralmente não vê um lobo dominante agindo agressivamente ou confrontando outros lobos", diz Sloan. "Quando você vê isso, geralmente é um sinal de falta de confiança. Ironicamente, é o animal que não tem muita confiança em si que faz essas coisas, e não fica confortável com isso."
"Mesmo sendo muito menor que ele, ela é a loba dominante da alcateia."
Outro grande equívoco é que os machos alfas são dominantes sobre as fêmeas alfas. "A dominância entre os sexos não é importante para eles", diz Sloan.
Os lobos que visitei no Wolf Park eram um grupo de irmãos: Kanti, Bicho e Fiona. Kanti é o macho alfa, Fiona é a fêmea alfa. Ela domina Kanti. "Se há alguma disputa entre a fêmea e Kanti, Kanti deita de costas e se submete", diz Sloan. "Mesmo sendo muito menor que ele, ela é a loba dominante da alcateia." Isso é típico das matilhas no Wolf Park.
Na maioria das vezes, o lobo dominante de uma alcateia é a fêmea alfa. É tipo o Jay Z e a Beyoncé – os dois estão no topo de sua área, mas no final das contas ela é a Beyoncé e ele é o Senhor Beyoncé.
Os alfas também não têm direitos exclusivos de procriar. "Com os lobos, os relacionamentos são individualizados. Então cada lobo tem uma relação individual com outro lobo da alcateia", diz Sloan. Da última vez que o Wolf Park teve uma alcateia procriando, três fêmeas ficaram grávidas de três machos diferentes. Pode acontecer da fêmea alfa engravidar do macho alfa um ano, depois ter crias com o irmão dele no ano seguinte. O alfa se tornar o cuck.
Ironicamente, ser beta – a coisa mais abjeta que um homem pode ser segundo a machosfera – é um bom negócio para os lobos. "Se está na segunda posição, você automaticamente se torna o número um, porque já é dominante sobre quem está abaixo de você", diz Sloan. "Então a posição beta é uma boa posição. A maioria dos machos alfas começam como betas."
Mas é as outras técnicas PUA baseada em animais? Tente se pavonear para a Fiona, a abordando do outro lado da cerca usando um blazer vermelho e um fedora novinho. "Seu pelo é tão lustroso", eu disse para ela. "Você deve usar um bom condicionador." Essa é outra técnica PUA, o chamado negging. Fiona não ficou nem um pouco impressionada.
"Ela usa", disse Sloan. "Principalmente tripas de cervo."
Acontece que mesmo pavonear não faz sentido com pavões de verdade. Podemos achar o visual deles impressionante, mas as pavoas não estão sempre prestando atenção na plumagem. Elas escutam. Os pavões vibram suas penas da cauda em dois padrões distintos, fazendo tipo um twerk, basicamente.
Esse twerk produz uma vibração de baixa frequência que atrai as pavoas. "Os pesquisadores gravaram esses sons de baixa frequência e os tocaram para os pássaros com uma aparelhagem de som pesada", Bryce Hoye escreveu para a CBC. "Tanto pavões quanto pavoas responderam ao som." Taí uma nova técnica que os PUAs podiam considerar.
Tradução: Marina Schnoor
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