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terça-feira, 21 de agosto de 2012


AGRESSÃO A MULHERES NÃO É ASSUNTO DE MACHISTA – NEM DE FEMINISTA


Foi ao ar ontem na televisão americana a entrevista que a cantora Rihanna concedeu a Oprah Winfrey, no programa ‘Oprah’s Next Chapter’. Seria apenas mais uma entrevista entre celebridades, não fossem as referências ao episódio de agressão protagonizado pela cantora e seu ex-namorado Chris Brown em 2009.
Muitas pessoas ficaram chocadas com a maneira como Rihanna emocionou-se ao falar do turbulento término, ilustrado em milhares de sites de fofoca por fotos da moça cheia de hematomas no rosto. Ela declarou a Oprah que às vezes ainda sente falta do agressor, e que com o fim do relacionamento perdeu também seu “melhor amigo”. Quem se lembra das fotos provavelmente se questiona agora: como é possível sentir falta de alguém que provoca tamanho mal, chegando às vias de uma agressão física brutalmente exposta?
Bem, o fato é que é bastante possível. Na verdade, o comportamento de Rihanna em relação a seu agressor está mais para a regra que para a exceção, em se falando de mulheres agredidas por seus companheiros. Não é novidade que muitas delas sentem-se incapazes de denunciá-los, e menos capazes ainda de abandonar esses degradantes relacionamentos. Antes de simplificar o assunto e aderir ao argumento pouco explicativo (para não dizer repugnante) de que “mulher gosta é de sofrer”, é preciso ter em mente toda a complexidade que envolve a maneira como todos nós lidamos com a dor, a culpa e com a imagem que temos de nós mesmos, entre outros fatores.
Está claro que cada caso é um caso, e que definir parâmetros que expliquem essas situações poderia apenas reduzir o problema a uma teoria pouco fundamentada. Porém, apesar de acreditar que os sentimentos humanos são vastos e plurais, creio que podemos concordar em que a maioria das pessoas tem repulsa à dor, enxerga-a como uma espécie de punição. Meu maior medo em relação a essas mulheres, então, está na possibilidade de que aceitem o comportamento agressivo dos homens como algo merecido. Fruto de uma auto-estima com problemas, essa justificativa colocaria meninas, moças e senhoras no lugar de vítimas não só da violência alheia (absolutamente asquerosa e indefensável) como da violência cometida contra si mesmas.
Quem dirá a essas mulheres que, neste caso, o inferno é mesmo o Outro? Quem as convencerá de que são merecedoras de respeito e afeto, e não da punição vinda das mãos de um homem animalizado? São tantos os resquícios de um patriarcalismo severo que muitas mulheres ainda acreditam que os deveres de esposa, amante ou mesmo namorada compreendem uma espécie de obediência parecida à que devemos aos nossos pais. E não se enganem as jovens mulheres modernas e antenadas das grandes cidades, pois estamos também à mercê de um machismo tão arraigado quanto a nossa própria pele, fruto de gerações e gerações de mulheres que não conheceram um mundo diferente daquele que se justificava pela tirania masculina.
Não há de se confundir meu discurso com o das feministas, pois ele se pretende antes de mais nada contra o sexismo. Não acredito em separações de gênero no que se refere a questões como caráter, respeito ao próximo, compaixão, auto-estima e amor. Independentemente de sua condição biológica e sexual, seres humanos que preservassem esses valores jamais agrediriam quem quer que fosse, ou se deixariam agredir. O comportamento de Rihanna em relação a alguém que a maltratou de forma tão estúpida, o comportamento de mulheres que não denunciam nem abandonam seus algozes… nada disso é questão de gênero, nada disso é característico das fêmeas de qualquer que seja a raça. Trata-se de uma questão da Humanidade, da maneira como vemos (ou, neste caso, não vemos) um outro ser humano como merecedor de respeito.
Sendo assim, falamos de uma questão que deve sobrepor-se ao eterno embate dos “ismos”: machismo, racismo, nazismo, homossexualismo e mil outras dessas palavrinhas que tentam compartimentar o que, no fundo, se trata de um problema só: da humana dificuldade de enxergar no outro o irmão, o igual, por mais diferente que ele possa parecer. Fica então o convite : em lugar de deixar que os discursos pelas minorias povoem sozinhos nossas discussões de bar, enquanto lamentamos a sorte de Rihanna (ou a condenamos), talvez fosse interessante investir no mais profundo respeito pelo Homem, independentemente de lugares sociais, culturais, geográficos, históricos… Parece utópico? Tudo bem, um dia a gente chega lá.

Elisa Taborda / andremansur.com

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