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quarta-feira, 22 de agosto de 2012


Quando o amor é doença – parte 3

MARTHA MENDONÇA
  
Ao longo desta semana, estamos apresentando uma série sobre amor patológico, um transtorno do comportamento que afeta a vida de milhares de homens e mulheres. Serão cinco posts, um por dia, com depoimentos de quem vive ou já viveu esse drama e explicações de especialistas. Os nomes apresentados na matéria foram trocados.

“Falar sobre isso é quase tão dolorido quanto a própria dor. Só estou me tratando porque não conseguiria lidar com a perda da minha mulher. Preciso aprender a controlar meus pensamentos e a perceber que nem tudo que eu imagino é real. Depois que eu dou meus ataques e a raiva passa, tenho muita vergonha. Minha autoestima está no fundo do poço e ninguém vai me amar desse jeito.”

O administrador de empresas paulistano Walter, 33 anos, está casado há quatro. Admite que sempre foi “dependente” de suas namoradas. Não aceitava que a atenção integral de início de namoro diminuísse com o tempo. Rapidamente se sentia rejeitado. Se telefonava e elas não podiam falar, ia até onde elas estavam, tirava satisfações, dava vexame. Achou que, com o casamento, isso diminuiria. Mas o compromisso, em vez de aliviar seus estresse, só o aumentou. O dia-a-dia a dois aumentou as cobranças – e as brigas, cada vez mais violentas.

“Ela sai de casa e eu começo a pensar uma coisa ruim, que ela está me traindo ou fazendo alguma coisa sem que eu saiba. Daí em diante não consigo mais me controlar nem me concentrar em qualquer outra coisa. Quem me olha, pensa que estou calmo, trabalhando, mas, por dentro, tem um monstro em ação.”

Há um ano, numa briga – depois que o celular da mulher estava sem bateria e ele não conseguiu falar com ela – Walter a agrediu. A mulher foi para a casa da irmã. Só voltou depois de uma semana, após a promessa do marido de frequentar um psicólogo. Foi lá que Walter ouviu falar, pela primeira vez, que sofria de amor patológico. E que, muitas vezes, esta não é uma doença de um ator só – mas uma via de mão dupla. Admitir tudo isso é  tão difícil para ele, e o medo de partilhar, tão arraigado, que Walter só concordou em dar entrevista por telefone e se recusou a tirar foto, mesmo sem identificação.

“A psicóloga me fez perceber que muito do que minha mulher fazia estimulava o meu transtorno, a minha necessidade de controle, de perseguição. Ela sabia que ela era mais poderosa quando me ignorava um pouco, fazia doce ou não atendia meus telefonemas. Ela deixava eu crescer na minha raiva e explodir. Depois eu ficava mal, ela grande e eu pequeno, fraco, por tudo que eu tinha feito. No meu tratamento, estou tentando colocar o centro da minha vida em mim mesmo. Não é fácil, porque eu sou inseguro e tenho medo de ficar sozinho. Mas quero conseguir. Só assim vou poder ter um amor saudável um dia.”

Autora de best-sellers como Mentes inquietas e Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa prepara um livro sobre a Personalidade Borderline. Ainda pouco conhecido, este tipo de transtorno é caracterizado pela ausência de ligação com a realidade e a dificuldade de conexão real com o outro. Não chegam a ser psicopatas – que não têm empatia com o outro -, mas têm mais do que uma neurose, além de uma alta tendência à impulsividade. E é justamente nas relações afetivas que os problemas aparecem. “O Amor Patológico é totalmente ligado à Personalidade Borderline. São pessoas com senso de identidade quase nulo, daí precisarem de outros para dar validade a elas. Elas não amam alguém, elas  na verdade precisam de quem construa um lugar no mundo para elas”, diz. Quando rejeitada ou temerosa de perder esse alguém, elas enlouquecem. Porque é como perder a própria vida.

O Amor Patológico, afirma Ana Beatriz, necessita de parceria: para cada border, há alguém com outro transtorno, mesmo que leve. Há casos em que, do outro lado, está um obsessivo compulsivo, que jamais rompe o vínculo pela obstinação em corrigir a situação. Na maior parte das vezes, porém, o par da Personalidade Border é o narcisista – ou mesmo o psicopata. O “amor louco”do outro enaltece a vaidade do narcisista, vira sua forma de ter segurança e viver. No caso do psicopata, sua falta de empatia faz com que ele trate a situação com frieza, isso quando não se diverte e tem prazer. “São esses pares complementares que geram os casais tão improváveis que muitas vezes conhecemos e nos fazem pensar: como é que isso funciona?”, diz.

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