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terça-feira, 1 de abril de 2014

Agressores não escolhem vítimas de estupro pela roupa, diz delegada

Ambiente onde vítima está é o fator mais observado por estupradores. Psicólogos defendem criação de políticas públicas para mudança cultural.


Para mais da metade dos brasileiros, mulher com roupa curta merece ser estuprada. Esse dado assustador foi divulgado na semana passada pelo Ipea, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Nas delegacias onde são registrados os casos de estupro, o que se percebe é que as vítimas são escolhidas porque estão vulneráveis e em situações de risco.

O ambiente onde a vítima está é o fator mais observado pelo criminoso. Quem ouve os depoimentos de mulheres vítimas de violência sexual diz que o agressor não escolhe o alvo pela aparência física ou pelo modo de se vestir.

“O autor de um estupro ele procura sempre as melhores condições para aquela prática daquele delito. Essas condições estão sempre ligadas ao ambiente. Existem pessoas próximas? Não existem? Lugar ermo, como é que está a iluminação. Ela pode gritar, pode não gritar. Infelizmente todas as mulheres são vítimas em potenciais desse tipo de criminoso”, afirma a delegada Ana Cristina Santiago.

Uma realidade diferente da opinião das pessoas que foram ouvidas na pesquisa do Ipea. No levantamento, 65,1% dos entrevistados disseram que as mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas e 58,5% afirmaram que se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros.

A pesquisa provocou uma reação na internet. A jornalista Nana Queiroz criou uma campanha pedindo para dar um basta à violência sexual. Milhares de pessoas aderiram ao movimento.

“Para mim e para essas outras mulheres fortes que estão aí, só mostram o quanto esse protesto está tendo efeito em mudar mentalidades”, diz a jornalista.

A pesquisa do Ipea ouviu 3,8 mil pessoas. As respostas provocaram polêmica, mas não surpreenderam os estudiosos da área. O Centro de Estudos Feministas (CFEMEA) já fez outros levantamentos sobre assunto que mostram uma tendência de culpar as mulheres que sofrem violência sexual.

“Elas são cobradas: ‘ah você foi estuprada, mas olha como você estava vestida, olha como você estava andando, isso acontece, as mulheres relatam isso para gente”, afirma a representante do CFEMEA, Nina Madsen.

Para a psicóloga da Universidade de Brasília, Valeska Zanello, há necessidade de criação de políticas públicas para fazer uma mudança cultural.

“O que estão por trás dessas respostas são extremamente machistas. Ainda tem uma ideia de controle do corpo da mulher. Incita as pessoas a refletir sobre essa invisibilidade, incomoda. Nesse sentido foi muito interessante o resultado nas redes sociais e nos movimentos”, fala Valeska.

A Delegacia da Mulher diz que está investigando as pessoas que ameaçaram a jornalista Nana Queiroz pela internet.

Flávia Alvarenga
Brasília, DF

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