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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ninguém mais ri de um assédio sexual na televisão

Abuso praticado contra uma apresentadora da Televisa causa indignação, qualquer que seja a versão dos fatos


 28 OCT 2015

Poucas décadas atrás, nos anos sessenta e setenta, a “perseguição de mulheres” era uma situação apresentada como algo divertido em programas de televisão como O Show de Benny Hill. Quem rememora isso é o escritor inglês John Higgs em Historia alternativa del Siglo XX [História alternativa do Século XX], para ilustrar a mudança ocorrida na percepção das pessoas em relação ao assédio sexual. Desde então, tornou-se público que justamente naqueles anos, naqueles palcos, foram cometidos abusos tão graves como os protagonizados pelo ídolo infantil da BBC Jimmy Savile contra centenas de crianças.

Hoje em dia, o assédio continua a ser uma das muitas faces da violência machista. Não é um assassinato, como os que tiram a vida de sete mulheres mexicanas a cada dia (no Brasil são 15). Não é um estupro, como aquele que sofre uma mexicana a cada quatro minutos (no Brasil, são 500.000 mulheres ao ano). O assédio parece ser menos dramático porque, embora também possa arruinar a vida da vítima, usufrui, ainda, de certa tolerância. Porque, dizem, é mais difícil definir a linha de ultrapassagem do limite. Porque, supõe-se, as mulheres são obrigadas a suportar, sem abandonar o sorriso, piadas grosseiras, quando não apalpadelas não autorizadas. Das muitas faces do machismo, o assédio sexual não é a que mais assusta, embora seja, de longe, a mais generalizada.

O incidente –por assim dizer—entre dois apresentadores de um programa transmitido ao vivo pela Televisa é repugnante, qualquer que seja a versão apresentada. No ATM!, um programa local de Ciudad Juárez –um dos lugares mais perigosos do mundo para as mulheres--, Enrique Tovar tentou várias vezes agarrar sua colega Tania Reza e, apontando para o seu colar, tocar em seu seio. Quando ela afastou a sua mão, ele reagiu com desprezo: “Olha só, ela não gostou!”. E quando Reza disse, no ar, que não podia continuar trabalhando assim e deixou o palco, Tovar pediu desculpas por ela! “Desculpe, pessoal, acho que minha colega está com TPM”, disse, apegando-se ao mito machista da histeria feminina decorrente da menstruação.
Depois que essa imagem circulou causando um escândalo no mundo inteiro, a sucessão de acontecimentos foi igualmente desconcertante. A Televisa divulgou um vídeo em que os dois apresentadores aparecem juntos sorrindo e dizendo que a “brincadeira” fora proposital, mas que “saiu do controle”. A rede de televisão anunciou a demissão dos dois em decorrência dessa simulação. Mas logo depois Tania Reza afirmou que havia sido forçada a dar essa versão. “Lamentavelmente, em uma situação como essa, surgiram pressões por parte da empresa obrigando-me a dizer (e até mesmo de forma gravada) que eu sou culpada”, escreveu ela no Facebook.
Ainda há muitas coisas a serem esclarecidas neste caso. Se o que aconteceu no palco da Televisa foi planejado por alguém, acabou por resultar em um desastre para a imagem da rede de televisão. Mas a mera suspeita de que, após um comportamento não previsto, uma pressão tenha sido feita sobre a vítima já daria ainda mais motivos para indignação. Não terá sido a primeira vez que uma mulher que sofre um abuso é obrigada a “se desculpar” ou apontada como culpada (como aconteceu na famosa sentença espanhola da minissaia). Nisso tudo, há uma única leitura positiva a ser feita: o público já não ri de tais episódios, como acontecia no O Show de Benny Hill.

El País

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