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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

MESTRANDA DA UNICAMP ESTUDA A VIOLÊNCIA DE GÊNERO NOS ESPAÇOS PÚBLICOS E DOMÉSTICOS


Desenhos mostram o envolvimento emocional de Isabel com as histórias que conhece na ONG SOS Ação Mulher e Família

Fernanda Domiciano
13/10/2015

A violência de gênero nos espaços público e doméstico é o objeto de pesquisa de mestrado da colombiana Isabel Herrena Montaño. Formada em sociologia na Universidad de Caldas, em Manizales, Colômbia, Isabel veio ao Brasil para fazer mestrado em antropologia social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em seu trabalho – com previsão para conclusão no primeiro semestre de 2016 – a estudante tenta entender a criação de sentido sobre a violência de gênero nas narrativas das psicólogas, advogadas, assistentes sociais e educadoras sociais da ONG SOS Mulher e Família, de Campinas.

Em entrevista ao Fique Ciente, Isabel conta sobre seu projeto de pesquisa, as semelhanças e diferenças do machismo no Brasil e na Colômbia e a importância do Brasil oferecer educação universitária pública, de boa qualidade.

Qual o objetivo do seu projeto de mestrado?

O objetivo da minha pesquisa é entender a criação de sentidos sobre a violência de gênero que acontece no espaço público e no espaço doméstico, nas narrativas das profissionais que trabalham na ONG SOS Ação Mulher e Família em Campinas. Através da observação participante, entrevistas semiestruturadas e desenho gráfico das histórias contadas pelas trabalhadoras da instituição, pretendo me aproximar aos significados, representações e emoções fruto do seu trabalho no atendimento às mulheres vítimas, principalmente, de violência doméstica. Ao mesmo tempo busco compreender como o fato de receber esses depoimentos incide na compreensão da violência de gênero que as próprias profissionais têm sofrido nas suas trajetórias pessoais, incluindo aquela que acontece no espaço público.

Quando o projeto começou? 

A ideia de pesquisar as situações de violência contra a mulher no espaço público nasceu em 2012 na cidade de Manizales, Colômbia, com minha monografia de graduação titulada Mujeres, Seguridad y Ciudad, el Caso de Manizales, requisito para me formar como socióloga. Nessa primeira aproximação ao tema trabalhei com mulheres estudantes, trabalhadoras de classe média e de setores populares na cidade. Agora, trabalho com mulheres profissionais com formação em psicologia, serviço social, ciências sociais e advocacia, em Campinas.

Qual a importância para a pesquisa de você fazer trabalho de campo na SOS Ação Mulher?

A SOS Ação Mulher já foi pesquisada por acadêmicas nesse momento envolvidas com o movimento feminista dos anos 80 e 90. É um interessante desafio construir uma análise antropológica da ONG, como feminista estrangeira, no atual contexto do movimento de mulheres no Brasil, levando em conta os numerosos aportes teóricos que as acadêmicas têm construído sobre a luta feminista e a violência de gênero até agora.Quais os principais resultados até o momento?

O trabalho de campo na SOS tem enriquecido a ideia de que a violência contra a mulher no espaço público é indicadora de relações de violências que vêm engendradas desde o ambiente da criança com a violência doméstica e familiar. Conhecer o tipo de fatos que são atendidos na ONG me confirmou que, embora a pobreza não seja a causa principal do machismo nem dos crimes motivados por rações de gênero contra as mulheres, é sim uma condição que impede às mulheres se empoderarem para conquistar condições de autonomia e liberdade.

A ONG atende casos graves de violência física, psicológica e sexual contra mulheres, mas também oferece atendimento às situações de falta de direitos das famílias onde acontecem esses casos, por isso no funcionamento da ONG é preciso o trabalho articulado das psicólogas, advogadas, assistentes sociais e das educadoras sociais. A incidência política que as organizações feministas, como a SOS Ação Mulher nos anos 90, desenvolvem para acabar com as violências contra as mulheres, com frequência vira um trabalho de prestação de serviços assistenciais, por causa da insuficiência de direitos, como o acesso as vagas na creche, moradia, trabalho etc., com que sobrevivem as famílias que são atendidas por instituições como a SOS.

Entrar em contato com a SOS para falar sobre a violência contra as mulheres no espaço público de Campinas me permitiu enxergar essa outra cara da violência que vivenciam, principalmente, as mulheres dos setores populares dessa cidade. Mostrou que as agressões físicas e simbólicas que acontecem nas ruas são a ponta de um iceberg. A violência contra a mulher não só é uma questão cultural, mas também é agravada por condições estruturais como o abandono estadual nas comunidades.

Quais as semelhanças entre o machismo na Colômbia e no Brasil? E as diferenças?

Segundo minha experiência como mulher e pesquisadora, Colômbia e o Brasil compartilham a mesma cultura machista, onde esse tipo de relações são reproduzidas em todo tipo de instituições, como a família, a escola, a igreja, a justiça e em todo tipo de espaço da sociedade civil, especialmente nos meios massivos de comunicação.

Acho que o Brasil tem avanços institucionais muito importantes na luta pelo fim da violência contra a mulher, como a criação das Delegacias de Defesa a Mulher, que embora tenha falhas no atendimento das vítimas, é uma instituição de atendimento diferenciado, resultado de um esforço na luta das organizações de mulheres brasileiras nos anos 80. Essa é uma instituição que não existe na Colômbia, onde se tem as comisarias de família, que não oferecem serviços de assistência específicos para mulheres afetadas pela violência de gênero.

Por que você resolveu fazer o mestrado no Brasil?

Decidi vir pro Brasil principalmente por ser um país onde a educação universitária é verdadeiramente pública, quer dizer, gratuita e de boa qualidade. Na Colômbia, as faculdades e a pós-graduação especialmente, são muito caras. As faculdades não oferecem condições de permanência nos estudos, como moradia ou restaurante universitário. Os brasileiros têm que valorizar e melhorar as condições de educação, pois a tendência da região é a precarização e privatização dos direitos básicos como saúde e educação.

Por que se interessou em estudar esse assunto?

Interessei-me no assunto porque me sentia insegura e ameaçada quando andava pelas ruas, primeiro na Colômbia e depois no Brasil. Essa situação me fez querer entender a motivações dos homens.

No Brasil a violência contra a mulher tem as mesmas conotações simbólicas que se tem na Colômbia, desafortunadamente, o machismo é uma característica comum na cultura dos países da nossa região.



De maneira preocupante encontrei que na Colômbia e no Brasil há uma tendência à redução dos espaços de encontro e socialização dos pedestres na rua: as praças, mercados populares e outros lugares de troca cultural e de lazer estão sendo substituídos por configurações do espaço físico que dificultam a circulação a pé, como os grandes condomínios ou centros comerciais, que deixam as ruas para os automóveis e concentram as pessoas no interior dos locais. Essa tendência esvazia as ruas, transformando elas em lugares inseguros para a locomoção, mais especialmente das mulheres em horas da noite.Como os desenhos integram o seu projeto de pesquisa?

Os desenhos são uma necessidade muito íntima porque é uma forma de me expor, mas decidi incorporar eles como uma linguagem da pesquisa porque eles mostram meu envolvimento emocional com as histórias que vou conhecendo na ONG. São uma forma de me colocar na composição da escrita como pesquisadora, como mulher, como sujeito, numa troca de ideias e experiências e dores com as mulheres sujeito da pesquisa. Tem sido muito enriquecedor mostrar para as profissionais os desenhos que faço delas e das suas histórias. Às vezes resulta, sem querer, em uma terapia mutua que permite para elas e para eu elaborar diferentes questões em outra perspectiva.

Fique Ciente

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