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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Relacionamentos sufocantes são mote de ‘Respire’

Por entender este turbilhão de sentimentos e hormônios típicos da adolescência, o filme nunca trata Sarah como uma vilã absoluta, nem Charlie como a pobre indefesa, mas sim jovens que ora são vítimas, ora algozes.
Nota  8.0









DIEGO OLIVARES · OUTUBRO 16, 2015

Pelo pôster, imagens de divulgação “fofas” e seu primeiro ato, Respire dá a impressão de ser um filme sobre o surgimento da amizade entre Charlie (Joséphine Japy) e Sarah (Lou de Laâge). De personalidades opostas, o despojamento de uma parece equilibrar o jeito mais duro da outra, e as meninas logo se tornam inseparáveis. Há insinuações de uma possível atração sexual, que nunca chega a se confirmar.

Durante uma viagem da recém-chegada Sarah com a família de Charlie, as carências de ambas passam a aflorar. Tem início então o segundo ato, feito de desentendimentos, trocas de palavras mais ríspidas e um abalo considerável na relação.

O filme então caminha para um terceiro ato violento, surpreendente e poderoso, numa guinada para o drama psicológico que explode numa sequência final que certamente permanecerá por muito tempo na memória do espectador.

Por trás desta condução segura e envolvente está Mélanie Laurent. Para quem não ligou nome à pessoa, trata-se da atriz que interpretou a heroína de Bastardos Inglórios, Shoshanna, aqui em seu segundo longa-metragem como diretora. A francesa de 32 anos também é uma das corroteiristas, adaptando um livro de Anne-Sophie Brasme.

Em Respire, Mélanie utiliza uma abordagem naturalista na maior parte do tempo, que dialoga com a linguagem documental, artifício em voga em boa parcela do cinema independente contemporâneo, com o objetivo de conferir uma certa crueza e autenticidade ao que está sendo filmado. Costuma funcionar, e desta vez não é diferente.

Na cadeia de relacionamentos abusivos que se desenvolve em cena, Charlie espelha sua mãe, via de regra negligenciada pelo marido. Já Sarah, que aos poucos revela seu caráter manipulador, tem algo mal resolvido com a figura materna e por isso tem a fraqueza de querer ser aceita e admirada pelos colegas, a qualquer preço.

Por entender este turbilhão de sentimentos e hormônios típicos da adolescência, o filme nunca trata Sarah como uma vilã absoluta, nem Charlie como a pobre indefesa, mas sim jovens que ora são vítimas, ora algozes.

Olha atento nos próximos passos de Mélanie na cadeira de direção e nas aparições das duas atrizes protagonistas, ambas indicadas por suas atuações no filme para o César, principal prêmio do cinema francês, na categoria revelação.

Carta Capital

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