Leyla Hussein nasceu na Somália e hoje mora na Inglaterra, onde é colunista da Cosmopolitan Reino Unido. A psicoterapeuta passou pela mutilação genital como forma de “segurança” e fala sobre o achatamento dos seios — prática que atinge milhões de mulheres na África.
Escrito por Redação Cosmopolitan
Atualizado em 15/10/2015 em Cosmopolitan Brasil
Stock / Thingstock / Getty Images |
Alguns anos atrás, conheci uma mulher que não tinha sofrido mutilação genital, mas tinha sido submetida ao achatamento dos seios. Isso foi no Reino Unido, no século 21 -- porque, é claro, abuso não conhece tempo ou lugar. Achatamento dos seios é quando um ferro ou uma pedra quente é usado para queimar ou comprimir o tecido mamário. Acabar com as mamas dessa maneira pode levar alguns dias -- ou até mesmo semanas.
As palavras "cultura", "tradição" ou "religião" podem aparecer para tentar explicar esta prática absurdamente prejudicial, mas, como no caso da mutilação genital, tratam-se apenas de desculpas veladas. Na verdade, ela é apenas outro modo de controlar a sexualidade e a sensualidade de uma mulher. Peitos são a parte perigosa do nosso corpo que precisa ser removida diante da possibilidade de atrair a atenção masculina -- como se remover todos os graus de feminilidade do corpo de uma garota pudesse protegê-la de um estupro.
Reprodução / Cosmopolitan
Eu fui submetida à mutilação genital para a minha "segurança" . É completamente absurdo viver em um mundo onde os corpos das mulheres não são considerados seguros em seu estado natural e os homens não são responsáveis pelo controle dos próprios impulsos. Como mulheres, somos constantemente lembradas de que nossos direitos não importam desde que nossa "pureza" seja preservada, porque é nisso que a honra da nossa família e de toda a sociedade se baseia. Mantendo em silêncio práticas como essas, nós estamos dizendo às garotas que elas não são prioridade. A prioridade é que a sexualidade delas seja controlada.
A ONU estima que o achatamento dos seios afeta 3,8 milhões de mulheres nas regiões central e oeste da África. No Reino Unido, milhares de garotas de Camarões, África do Sul, Nigéria, República da Guiné, Togo e Costa do Marfim estão sob o mesmo risco.
Apesar de eu não ser especialista em achatamento especificamente, sempre destaco a prática nas minhas palestras porque ela é um ato de mutilação que tem a mesma justificativa da genital - e está, da mesma forma, envolta de segredos. O ato, na verdade, é uma forma de violência contra mulheres e garotas - além de ser um abuso sexual e, quase sempre, também infantil.
Infelizmente, muitos profissionais de primeira linha não estão cientes desse problema, e organizações como a Cawogido - que promove junto com os serviços sociais e áreas como saúde e educação de Londres a conscientização sobre a gravidade do achatamento - não estão recebendo o financiamento de que necessitam para realizar a prevenção adequada.
Minha esperança com esse texto é pelo menos inciar uma discussão - e servir como lembrete de que a marginalização desse grupo ou o constrangimento da sociedade não tira nossa responsabilidade de proteger os direitos de todas as mulheres e garotas."
Nenhum comentário:
Postar um comentário