03.11.2016 | POR DANIELA CARASCO
Na TV e nas redes sociais, a mulher, que corresponde 51% da população, é sub-representadas por meio de reforços de estereótipos e baixa diversidade
A grande mobilização na web e nas ruas pelo empoderamento feminino parece não ter surtido muito efeito ainda na publicidade brasileira. Um estudo recente realizado pela agência Heads Propaganda concluiu que apenas 5,13% dos comerciais empoderam mulheres. Isso significa que cerca de 21 milhões de reais do investimento em mídia são gastos com peças que reforçam estereótipos de gênero.
Não à toa, 65% das brasileiras não se sentem representadas na publicidade, como já mostrou pesquisas do Instituto Patrícia Galvão. “O que estamos construindo além de inseguranças?”, questiona Patrícia Moura, que integra o time de Planejamento Estratégico da agência. A publicidade ainda tem projetado padrões inalcançáveis.
O levantamento foi feito a partir de 8.051 comerciais de TV de 207 marcas e de 889 posts de Facebook de 127 marcas. E o que se vê é ainda decepcionante. Na televisão, só 26% das protagonistas são mulheres, sendo 84% brancas, 12% negras e 4% diversas. Quando a pesquisa se volta aos coadjuvantes, os índices são ainda mais baixos: só 7% são mulheres, sendo 77% brancas, 6% negras e 17% diversas.
E se as redes sociais se transformaram em um ótimo veículo de propagação de ideias feministas, não é para este fim que muitas marcas têm as usado. No Facebook, só 9% das protagonistas das peças publicitárias são mulheres, sendo 82% brancas, 12% negras e 6% diversas. Quanto aos coadjuvantes, só 1% é do gênero feminino.
É a representação de uma sociedade predominantemente branca, apesar de 54% da população brasileira se identificar como preta ou parda. “Apesar de não terem sido identificadas ofensas explícitas nos comerciais durante os períodos analisados, a ausência de representação consiste em uma violência simbólica e, por isso, já é uma forma de racismo, por exemplo”, conta Carla Alzamora, diretora de Planejamento da Heads.
Outros dados problemáticos apontados pelo estudo é o de que 87% das mulheres presentes na publicidade são jovens e adultas, e 1% das que são retratadas possui cabelo crespo. De maneira geral, a mulher segue sendo relacionada com mais frequência aos cuidados com a casa e a família, assim como com padrões de beleza. “A figura feminina ainda é relacionado ao chilique, à histeria, e a do homem à sanidade mental”, mostra o estudo.
Mas apesar de o cenário ainda ser preocupante, é possível notar um aumento de inserções que não utilizam estereótipos de gênero e uma pequena queda no último ano daquelas que ainda os reforçam – de 36% para 26%.
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