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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

“A tecnologia é uma questão social e política”

Ellen Ullman (Foto: Divulgação)
Galileu
21/12/2017 / POR MARÍLIA MARASCIULOConfira nossa conversa com Ellen Ullman, uma das primeiras programadoras do Vale do SilícioNos últimos vinte anos, o mundo viu surgir computadores cada vez mais poderosos, a internet, os smartphones e o avanço de soluções tecnológicas que mudaram e moldaram a forma como vivemos. Observando tudo isso de dentro, a programadora e escritora Ellen Ullman foi uma das primeiras mulheres a consolidarem uma carreira no Vale do Silício. Formada em Inglês pela Universidade Cornell no início dos anos 1970, durante primeiro “boom” da indústria, ela resolveu apostar em outro tipo de linguagem: a dos códigos.
Em seu primeiro livro, Perto da Máquina (Editora Conrad), publicado em 1997, ela relatou sua experiência em um ambiente bastante sexista. Agora, aposentada e dedicada à carreira como escritora, resolveu ir mais a fundo e falar sobre suas impressões do controverso papel que a tecnologia tem desempenhado na sociedade. Tudo está no livro Life in Code: A Personal History of Technology (Vida em Código: uma história pessoal da tecnologia, em tradução livre), publicado em 2017 nos Estados Unidos e ainda sem previsão de chegada ao Brasil. Mais do que relatos alarmistas ou conspiratórios, Ullman traz reflexões sobre os desafios e o futuro da indústria.Em diversas passagens de seu livro, você dá a entender que está um pouco frustrada com a forma como a tecnologia tem sido usada. Você realmente está decepcionada? Só um pouco frustrada? [Risos.] Acho que o ponto principal do meu livro é que tenho muito amor por tecnologia. Não teria passado muitos anos como programadora e como engenheira de software se não achasse que esse é o mundo empolgante. Ao mesmo tempo, desgosto e até odeio a forma como ela tem sido usada. Acredito que o mau uso da tecnologia afeta até as partes mais profundas das nossas vidas pessoais, e isso já está acontecendo.Como assim? Por exemplo, quantos apps de delivery podem existir? Ao mesmo tempo, existe uma comunidade muito grande que continua excluída. Mas gosto de falar de experiências positivas, e uma das minhas preferidas é de um councilman (algo como vereador) do Bronx, em Nova York. Existem muitos algoritmos sendo usados pela prefeitura para tomar decisões, desde a agenda de coleta de lixo até as tarefas para os policiais. Ele disse: “quero ver esses algoritmos para entender se são tendenciosos”, por exemplo, se estão dando mais atenção a determinadas regiões em detrimento de outras. Isso deveria ser um modelo para a sociedade como um todo.Então os algoritmos estão de certa forma controlando nossas vidas? Estamos cercados de algoritmos, da nossa vida mais privada à pública. As pessoas têm criticado muito o Google e o Facebook nos últimos tempos. Essas não são empresas nas quais as pessoas tomam decisões, eles usam algoritmos. O que podem fazer é dar uma “limpada” neles, como o Facebook que contratou alguns humanos para definir quais posts são reais e quais são falsos. Acho os algoritmos maravilhosos para descobrir a cura de doenças, novos remédios, para a pesquisa... Mas como a gente vai distinguir o que é bom e o que é ruim?Daí a sensação de que vivemos em uma bolha. Quando o primeiro algoritmo do Google foi criado e o Larry Page me explicou como ele iria ranquear os sites, eu disse a ele: “me parece que o rico fica mais rico e o pobre fica mais fácil”. Tudo depende do quanto as pessoas estão linkando às páginas, então coisas que podem ser verdadeiramente boas vão para o final porque ninguém consegue chegar a elas. E o Larry reconheceu isso, mas disse que precisava tomar uma decisão usado código. O que ele quis dizer é que usando as ferramentas disponíveis de código ele não tinha como determinar justamente aquilo que falei: o que é bom e o que é ruim. E essa é a situação na qual ainda vivemos: algoritmos estão tomando as decisões.E como reverter isso? A minha esperança é que quanto mais pessoas se envolvam com a tecnologia, pessoas com passados e histórias diferentes, mais elas tragam novas visões e valores e tentem colocar tudo isso em código. A tecnologia é uma questão social e política. É fascinante, por isso gosto de encorajar os jovens, principalmente as meninas, a investigarem mais a fundo e questionarem os padrões.

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