A ciência brasileira vive um momento crítico. Cortes orçamentários e contingenciamentos promovidos pelo governo preocupam Vanderlan Bolzani, vice-presidente da SBPC e professora do IQar-Unesp, que apresentou essas e outras aflições na palestra “Pesquisa básica, os desafios atuais e o futuro da ciência no Brasil”, durante a 19ª Reunião Científica Anual do Instituto Butantan.
Para chegarmos a este cenário, Bolzani apontou aspectos como a baixa regionalização da pesquisa no País; o atraso em relação a países desenvolvidos na estruturação de um sistema acadêmico/científico; a retração no investimento que, segundo a própria professora, já era baixo; e a insuficiente mobilização da sociedade frente a retrocessos.
“O que esperar de políticos que sabem que a sociedade não vai pressionar pelo investimento na ciência?” – indagou a cientista.
A vice-presidente da SBPC, que disse já ter sido uma otimista, apontou mais investimentos em projetos colaborativos – que dão mais retorno à ciência e sociedade, uma maior inclusão das mulheres na ciência e maior atenção à nossa biodiversidade como caminhos para o avanço do conhecimento no País, além do combate aos retrocessos e atrasos.
Mostrando aquilo que seria o caminho para o desenvolvimento da ciência brasileira, Bolzani aponta onde estamos nos perdendo: “Nesse contexto, o que nós temos? Temos uma riqueza enorme de ambientes, plantas, espécies; uma riqueza química e biológica imensurável que sabemos muito pouco. Porque os nossos modelos de ambiente não existem; nós importamos esses modelos e exportamos conhecimento. Nós estamos sendo commodities de conhecimento”, finaliza.
A pesquisadora falou também de algumas benesses que a ciência brasileira tem garantido à população, como no enfrentamento a doenças virais e desenvolvimento de fontes renováveis de energia, “coisas que estamos à frente de países desenvolvidos”.
Ao final, Bolzani apresentou um questionamento direto: “O que será da nossa ciência, com nossos bons talentos, se não tivermos investimento?” e deixou uma frase de um dos nossos grandes cientistas: “Meditai se só as nações fortes podem fazer ciência, ou se é a ciência que as fazem fortes” – Oswaldo Cruz.
Marcelo Rodrigues, estagiário do Jornal da Ciência
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