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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Homens são inviáveis?

Algumas mulheres acham que o egoísmo e a imaturidade dos homens tornam o relacionamento com eles impossível. Será?

IVAN MARTINS
27/12/2017

Com todas as críticas que eu tenho ao comportamento dos homens brasileiros – que são muitas, e começam por mim mesmo – sinto que as coisas vêm melhorando nos últimos tempos. No meu grupo social, os jovens agem de forma cada mais cuidadosa em relação às mulheres, e muitos caras mais velhos, da minha própria geração, se esforçam para mudar de atitude e ter com as parceiras uma relação igualitária.

Os exemplos estão por toda parte.


Há muitos caras casados que cozinham rotineiramente, vão ao supermercado e cuidam da casa, tomando para si tarefas chatas (como a limpeza) que antes as mulheres ou as faxineiras assumiam sozinhas. Isso é progresso e mudança. Muitos homens abraçaram a rotina essencial da paternidade, que foi negligenciada por gerações de provedores. Eles participam desde os primeiros dias da criação dos filhos, trocando fraldas, dando banhos e acordando durante a noite para cuidar do bebê enquanto a mãe descansa. Também tomam parte ativamente das decisões sobre a saúde, a criação e educação das crianças, evitando que a mulher arque sozinha com essa enorme responsabilidade. Além de fazer bem a eles mesmos, a entrada dos homens na rotina da família é fundamental para a formação dos filhos.

Mesmo na rua, a relação entre homens e mulheres parece estar melhorando. Muitos caras – muitos mesmos – já entenderam que não se pode dizer o que se quer a uma mulher apenas porque ela desperta o desejo deles. Começam a perceber o óbvio: que as mulheres são pessoas como eles, não apenas corpos sensuais desprovidos de vontade ou dignidade. Não podem ser abordadas ou tratadas como objetos. Esse é o passo simbólico capaz de iniciar uma revolução no relacionamento entre os sexos.

Minha impressão, portanto, é de que o machismo recua em várias frentes e dá lugar a mudanças importantes em toda parte, mas muita gente não vê assim.

Outro dia, li no Facebook um texto muito bem escrito em que uma moça detonava os homens da maneira mais dura, sustentando que as relações entre eles e as mulheres eram basicamente inviáveis. Ou as mulheres se sujeitavam a ser tratadas como mães de seus parceiros ou viravam objetos do poder deles, uma vez que os homens – por egoístas e imaturos - seriam incapazes de cuidar de si mesmos e de ter com suas parceiras uma relação igualitária. Resumidamente, ela tratava os homens como trastes com pênis, salvos apenas pela sensibilidade e a alegria dos gays.

O ponto de partida do texto era o filme Como os nossos pais, da Lais Bodanzky, que chamou minha atenção justamente por colocar em cena somente homens patéticos. Todos os personagens masculinos do filme eram pais de família infantilizados que viviam sob a responsabilidade afetiva e material de suas parceiras, apesar de enganá-las. Eu saí do cinema pensando que aquilo era uma caricatura injusta. A autora do texto achou que o filme descrevia a realidade.

O que vocês acham?

Eu tenho certeza que as relações entre homens e mulheres frequentemente são um desastre, mas não só por culpa do machismo e da imaturidade dos homens. A infantilidade dos homens combina com a vocação maternal de algumas mulheres para produzir relacionamentos medíocres, assim como a demanda por autoridade de algumas mulheres pode casar com a necessidade de afirmação de outros homens e provocar tragédias. A imaturidade e a agressividade masculina inviabilizam um monte de relações, mas a insegurança e a necessidade de controle de algumas mulheres têm o mesmo efeito.
Não dá para reduzir as dificuldades da convivência humana às falhas do caráter masculino. A realidade é mais complicada. Quem já viveu a intimidade de um relacionamento sabe que homens e mulheres são difíceis e que todos erram espetacularmente, mesmo cobertos de boas intenções. Além de amor, conviver diariamente com outro ser humano exige paciência, mas nem todo mundo é capaz dessa virtude.

Isso não quer dizer que a cultura masculina não possa ser criticada quando o assunto é relacionamentos.

Minha experiência pessoal e minhas observações sugerem que mulheres ainda são afetivamente mais responsáveis do que os homens, e que elas se empenham mais em fazer com que namoros e casamentos funcionem. Boa parte das separações que eu tenho visto são motivadas pela incapacidade masculina de olhar para além de si mesmo e prestar atenção às necessidades da parceira. Outras, pela dificuldade dos caras em sustentar emocionalmente a monogamia e as demandas da vida familiar. Muitas vezes o sujeito está lá, cumprindo seus deveres, mas afetivamente insatisfeito, ressentido, dando cada vez menos de si mesmo à mulher ou aos filhos. É só questão de tempo antes que essa relação exploda.

Não sei se isso é uma coisa boa ou má, mas a cultura feminina parece suportar melhor as frustrações dos relacionamentos – embora um número cada vez maior de mulheres, como indivíduos, não pareça disposta suportar mais nada.

Posto isso, eu não acredito, nem por um segundo, que os homens ou os relacionamentos com os homens são inviáveis. Se eu achasse isso, teria de concluir que não há esperança e que o futuro será, necessariamente, uma guerra interminável entre os sexos ou uma perpetuação cada vez mais anacrônica do machismo. Felizmente, eu não acho nada disso. Pelo contrário. Olho em volta e só vejo mudanças. Tenho certeza de que hoje, às vésperas de 2018, há milhões de homens feministas por aí, muito mais do que em qualquer período anterior da história humana. Esses caras estão tentando mudar o mundo e a si mesmos. Apesar do que lhes foi ensinado, eles não querem mandar nas mulheres ou ser tratados por elas como filhos. Eles não se propõem a sustentá-las, mas a manter com elas parcerias profundas, combinadas entre iguais, que incluem ganhar a vida, criar filhos e explorar talentos e sonhos de cada um. Não é fácil e nem é simples, muitas vezes não funciona, mas esses caras, obviamente, não são machistas. São homens, e a complexidade da existência deles não cabe na caricatura de um filme. 

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