A feminização do HIV alarma organizações de mulheres
por Gladis Torres Ruiz, da IPS
Washington, Estados Unidos / Cidade do México, México, 1/8/2012 (IPS/Cimac) – A “feminização” do vírus HIV é um fenômeno que exige ações urgentes, afirmaram organizações civis durante a 19º Conferência Internacional sobre Aids, realizada na capital dos Estados Unidos entre 22 e 27 de julho. Mulheres, meninas e meninos representam quase 60% das pessoas com HIV/aids no mundo. Por isso, são necessários ações e orçamentos urgentes para enfrentar uma epidemia que com o passar dos anos se “feminizou”. Esta foi a principal demanda de organizações civis de mulheres que participaram da conferência Aids 2012.
Hilda Esquivel, consultora em HIV e mulheres no México, disse que uma das maiores preocupações das mulheres é a falta de financiamento contra a epidemia, devido à ideia de que a aids é uma “etapa superada” para a humanidade, quando isso não é verdade. As meninas e as mulheres são a população mais afetada pela falta de recursos para medicamentos contra a doença, alertou.
A Onusida informa que até 2011 havia no mundo 34 milhões de pessoas vivendo com HIV/aids. Destas, 15,9 milhões são mulheres e 3,4 milhões meninas e meninos. Esta população representa 57% dos casos registrados em escala global. A grande maioria das pessoas com HIV/aids vive em países de renda baixa ou média. Calcula-se que em 2010 2,7 milhões de pessoas contraíram a infecção. Na América Latina, cerca de 560 mil mulheres e meninas vivem com o HIV, o que equivale a 36% de todas as pessoas que têm o vírus na região. No México, segundo dados oficiais, há 220 mil adultos com HIV, dos quais 60% são homens, 23% mulheres heterossexuais e 6% clientes de “trabalhadoras sexuais”.
Na conferência Aids 2012, especialistas concordaram que as mulheres devem ser uma prioridade na pesquisa, no cuidado e no tratamento em todos os níveis da doença. Integrantes da Comunidade Internacional de Mulheres Vivendo com HIV/aids – Global (ICW-Global) criticaram o fato de, apesar de representarem mais da metade dos casos, elas não receberem a mesma proporção de fundos contra a epidemia. A ICW-Global é uma rede com mais de 15 mil mulheres de 120 países, presidida pela argentina Patricia Pérez.
Hilda Esquivel explicou à Cimac/IPS que apenas 46% dos países destinam em seus orçamentos recursos específicos para mulheres com HIV/aids. Acrescentou que muitas nações carecem de leis contra a “criminalização” das mulheres, adolescentes, meninas e jovens portadoras do vírus. Em sua intervenção na conferência, o diretor do Departamento de HIV da Organização Mundial da Saúde (OMS), Gottfried Hirnschall, considerou essencial fornecer tratamento antirretroviral a mulheres grávidas, HIV positivas e a populações vulneráveis. Isso para manter as pessoas com o vírus em boas condições de saúde e reduzir o contágio, explicou.
A maioria das crianças que vivem com HIV moram na África subsaariana e contraíram o vírus por meio de suas mães HIV positivas durante a gravidez, o parto ou a amamentação. Pérez se reuniu com o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, e com a secretária-executiva da Comissão Interamericana da Mulher, Carmen Moreno, para denunciar os problemas que enfrentam mulheres, meninas e adolescentes que vivem com HIV em vários países latino-americanos. “Elas são vítimas de violência doméstica, estigma e discriminação no trabalho e na sociedade”, ressaltou.
Insulza propôs uma série de ações regionais de alerta para evitar essa situação, e convidou Pérez para reuniões de trabalho em outubro, para estabelecer uma estratégia conjunta entre a OEA, com sede em Washington, e os capítulos nacionais da ICW-Global na região.
Ao falar na conferência Aids 2012, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, anunciou doação de US$ 80 milhões para a atenção com mulheres grávidas com HIV em países pobres, sem acesso aos antirretrovirais. “Os Estados Unidos estão enfatizando a igualdade de gênero porque as mulheres necessitam e merecem uma voz nas decisões que afetam suas vidas”, declarou Clinton. Entretanto, o governo dos Estados Unidos também recebeu reclamações das organizações de mulheres.
A Rede de Mulheres Positivas dos Estados Unidos afirmou que uma em cada quatro pessoas que vivem com HIV/aids nesse país é mulher, e que são elas que enfrentam maiores barreiras para ter acesso aos serviços de saúde. A situação se agrava para as mulheres afro-americanas, acrescentou.
A Conferência Aids 2012 foi encerrada com a Declaração de Washington, de nove pontos. No ponto dois solicita-se assegurar a prevenção, o tratamento e a atenção do HIV em relação aos direitos humanos de mulheres vulneráveis, pessoas jovens e mulheres grávidas que convivem com o vírus, já que são elas que correm maiores riscos e têm mais necessidades. No ponto cinco pede-se dar tratamento a todas as mulheres grávidas e na fase de amamentação que convivem com o HIV, para acabar com a transmissão perinatal. “Podemos apoiar as mulheres para que permaneçam vivas e em bom estado de saúde e para acabar com as infecções perinatais pelo HIV”, afirmaram os signatários.
Os especialistas concordaram que a condição social desigual das mulheres as expõem a um risco mais alto de contrair o HIV/aids. Alertaram que as mulheres estão em desvantagem no tocante ao acesso à informação sobre prevenção, na capacidade de negociar e no uso de preservativos nos encontros sexuais, e quanto ao acesso seguro ao tratamento uma vez contraída a infecção.
A conferência reuniu 21 mil delegados de 195 países, entre os quais especialistas no assunto, legisladores, funcionários, pessoas que vivem com HIV, bem como organizações civis. O objetivo foi avaliar o estado atual da enfermidade, conhecer os avanços científicos recentes e traçar coletivamente o caminho a seguir na luta contra a aids. A reunião aconteceu nos Estados Unidos pela primeira vez em 20 anos, porque até 2010 as pessoas portadoras de HIV estavam proibidas de entrar nesse país. Envolverde/IPS
Nenhum comentário:
Postar um comentário