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quarta-feira, 15 de maio de 2013


Por que rimos tanto

por Alysson Muotri 
Aristóteles imaginava que eram as risadas que nos separavam dos outros animais, e que um bebê não tinha alma até o momento da primeira gargalhada. Aristóteles errou. Humanos não são os únicos animais que dão risadas, mas talvez sejam os únicos que dão risadas através do humor, as risadas sociais.
A questão de por que existe o humor e risadas em sociedades humanas tem desafiado diversos conceitos evolutivos. Seriam as risadas um adaptação evolutiva? Se sim, de onde vieram? Afinal, por que gostamos tanto de rir?
Risadas são um tipo de vocalização humana bem distinta. Existem diferentes tipos de risadas. Tem aquela risada nervosa, constrangedora. Rir de alguém pode ser uma forma de punição, um castigo social. Existe a risada contagiante, impossível de segurar. A risada das piadas ilógicas. E também o tipo de risada sem razão. Essa última é mais estranha, boba. Tem um amigo que sempre que me reencontra diz: “Ai, Alyssão!” e começa a gargalhar. Eu não resisto e gargalhamos juntos por alguns segundos antes de falar qualquer outra coisa… vai entender. Aliás, a risada para ser contagiante precisa de certo “coro” e “timbre”.
Muitos estudiosos têm visto o humor como uma ferramenta que auxilia a sobrevivência de informações sociais importantes. Piadas clássicas ou slogans são exemplos notórios. Essa interpretação é restrita ao tipo de cultura local, afinal o humor varia com a sociedade. Algo engraçado no Japão pode não ter a menor graça no Brasil e vice-versa. A “graça” que acompanha uma risada deu origem a uma das mais interessantes hipóteses sobre o humor e a função da risada dos últimos tempos.
Repare que o sentido de algo “engraçado” pode ser dúbio: significa algo hilário ou um problema, depende do contexto. Porém, muitas vezes, situações problemáticas favorecem o riso. Essa observação pode indicar que as risadas e o humor seriam uma forma de facilitar que humanos consigam concluir tarefas árduas, difíceis intelectualmente ou muito longas. Eu mesmo já me vi rindo sozinho depois de muitas horas de trabalho tentando concluir um relatório ou experimento.
De acordo com essa hipótese, a atração humana pelo humor seria suportada por um sistema de recompensa cerebral, lapidado pela evolução para proteger nossas mentes do acúmulo de erros ao executar algo difícil. Esse sistema tem sido explorado por comediantes no mundo todo, criando expectativas para piadas e frases de efeito ao surpreender o ouvinte com algo inesperado, mas recompensador.
Estudos indicam que rir sozinho não é tão recompensador quanto rir em grupo. A ideia do humor como um “debug” cerebral, favorecendo a colaboração social, é fascinante. Explica, por exemplo, que chimpanzés não dão risadas em grupo porque talvez não tenham o cérebro sofisticado o suficiente para permitir que o humor corra no background, sem distrair ou tirar a atenção de determinada tarefa. Se isso for mesmo verdade, seria possível desenhar experimentos para comprovar ou não essa hipótese. Será que pessoas que costumam resolver muitos problemas complexos riem com mais facilidade? Existem condições humanas onde o humor estaria comprometido, como no espectro autista ou na síndrome de Williams, por exemplo? Vai ser difícil validar essa ideia, mas intuitivamente faz sentido. Não acho que humanos consigam ficar muito tempo sem dar risada, precisamos lubrificar o cérebro e eliminar erros de vez em quando. Da próxima vez que estiver resolvendo um problema complicado, tente rir de alguma coisa. É capaz que depois da risada a solução venha mais facilmente. Rir é o melhor remédio.
Alysson Muotri é biólogo molecular formado pela Unicamp com doutorado em genética pela USP. Fez pós-doutoramento em neurociência e células-tronco no Instituto Salk de pesquisas biológicas (EUA). Hoje é professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia. Surfista e iogue, costuma ter insights entre uma onda e outra.

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