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sábado, 19 de outubro de 2013

[Economia peruana] Crescimento esquivo para as mulheres


Lucía Mariana Alvites Sosa
Adital

Nos últimos anos, o crescimento econômico no Peru tem sido constante e parelho e, por isso, a economia é qualificada como uma das mais dinâmicas da região; e, apesar da atual crise internacional, os prognósticos não podem ser melhores.

Tradução: ADITAL

Há umas semanas, a empresa de estudos macroeconômicos Consensus Economics augurou que a economia peruana cresceria 6,2% em 2014. Certamente, essa tendência de crescimento acontece praticamente em todos os países sul-americanos e se baseia no aumento no preço das matérias primas que continuam sendo a principal e quase única entrada em quase todos os casos. Infelizmente, o Peru distingue-se por ser um dos últimos países na região que ainda não empreende com decisão a partilha, entre todas e todos, dos benefícios desse crescimento.

E, apesar de que os números não mentem, as grandes médias divulgadas podem levar a equívocos. Se entre duas pessoas se repartem três pães, uma come três e, a outra, nenhum, a média é um pão e meio por pessoa. No caso do Peru, esse crescimento não tem sido proporcional a melhorias nos padrões de qualidade de vida de todas/os igualmente. Expressão contundente disso são as mulheres e sua desigualdade constante em relação aos homens.

Basta ver os relatórios da Pesquisa Nacional de Domicílios sobre Condições de Vida e Pobreza (Encuesta Nacional de Hogares sobre Condiciones de Vida y Pobreza), do INEI e ver o valor do ingresso por sexo em nosso país nos últimos anos para comprovar que a bonança do crescimento arrasta uma desagradável brecha entre os homens e as mulheres que constituem a População Economicamente Ativa (PEA). Enquanto que na última década, a porcentagem da PEA conformada por homens que ganham mais de S/ 1500 aumentou 17%; no caso das mulheres, cresceu somente 7%. Em 2012, 25,1% da PEA masculina ganhava mais de S/ 1500, enquanto somente 11,3% da PEA feminina apresentava esse ingresso.

Não restam dúvidas de que o tão falado crescimento econômico peruano não pode erradicar e nem sequer diminuir significativamente as brechas de gênero no que se refere a ingressos trabalhistas. Segundo cifras do Banco Interamericano de Desenvolvimento, a brecha salarial de homens e mulheres com os mesmos atributos (mesma idade, mesma educação, igual quantidade de filhas/os etc.) no ano de 1992, era de 22%; 15 anos depois, em 2007, a brecha era de 20%, enquanto que no ano passado, segundo um especialista da mesma entidade, é de 18%.

Essas cifras nos mostram um cenário pouco ou nada promissor para as mulheres. Ainda mais se revisarmos outros aspectos sociais da mulher peruana. Por exemplo, a Pesquisa Demográfica e de Saúde Familiar (Encuesta Demográfica y de Salud Familiar) demonstra que de 1992 até 2012, a gravidez em adolescentes, diretamente associada à perda de oportunidades e pobreza, aumentou 2%, enquanto que em 1992, 11% das adolescentes haviam ficado grávidas alguma vez; em 2012, foram 13%. Além disso, essa mesma pesquisa nos apresenta que em 2012 somente 45% das mulheres haviam planejado a gravidez. Fica claro que no Peru atual o crescimento econômico não é proporcional ao direito das mulheres a planejar sua vida.

É provável que os bons augúrios no crescimento da economia peruana se cumpram no próximo ano, lamentavelmente, como já vimos, isso significará pouco ou nada para as mulheres. Porém, ainda continuamos afogando-nos em preceitos pseudomoralistas e patriarcais no momento de legislar ou de implementar política pública para a defesa e a promoção dos direitos sexuais e reprodutivos da metade do país.

O fio doloroso dessas cifras e realidades golpeia de maneira insistente nossas consciências e nos alerta que o divulgado crescimento peruano não só é inequitativo e injusto, como também é ferozmente machista.

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