Por medo de perder o companheiro, há mulheres
que colocam os filhos em segundo plano
Heloísa Noronha
Do UOL, em São Paulo
Com receio de que o novo parceiro desista da relação, muitas mulheres passam a dar mais atenção ao namorado do que ao próprio filho, fruto de uma união anterior. E o resultado dessa negligência pode causar sequelas devastadoras na vida de uma criança, especialmente na das mais novas, muito dependentes e ligadas à figura materna.
"O medo feminino é pertinente", diz a psicopedagoga e terapeuta familiar Edith Rubinstein, coordenadora do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia, espaço para formação continuada de profissionais, em São Paulo (SP). Porém, por conta dessa dificuldade em se dividir nos papéis de mãe e companheira, várias mulheres que se separam com filhos pequenos ficam muito tempo sem namorar. Para algumas, não há dilema: o filho vem em primeiro lugar e pronto. Mas nem sempre é assim.
Segundo a psicóloga clínica Susana Orio, outra forma de negligência acontece quando mães separadas dão mais atenção aos filhos do segundo casamento do que para os nascidos da sua primeira união. Seja qual for o caso, é importante tentar preservar as emoções infantis.
"Quando a mãe ou o pai decidem formar uma nova constituição familiar, devem tomar muito cuidado para isso não confundir nem abalar a criança. É preciso explicar a situação com clareza e, principalmente, ouvir o que ela tem a dizer, sem recriminações", declara Susana.
Reflexos na vida adulta
As crianças que não são prioridade na vida de seus pais, sejam separados ou não, têm mais desafios para enfrentar na vida escolar, o que também costuma afetar sua autoestima. "Não se trata apenas de tirar notas boas. Quando a criança não vai bem na escola, o problema repercute em sua vida futura, pois ali é espaço para socialização também. Se não está bem ajustada na escola, também não se ajusta socialmente", explica Edith Rubinstein.
Além disso, ao perceber que está em segundo lugar, a criança se ressente e, em geral, torna-se carente de atenção e mostra-se mais insegura e menos tolerante à frustração. Agressividade e baixa autoestima também fazem parte da lista de consequências que podem persistir ao longo da idade adulta.
De acordo com a psicóloga clínica Maria Lucia Paiva, doutora pelo Programa de Psicologia Clínica do IP/USP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo), a dimensão dos prejuízos emocionais depende muito do tipo de atitude materna. "Algumas mães passam a dar menos afeto e atenção, outras diminuem o tempo de conversa, outras deixam com frequência a criança sob os cuidados de terceiros para sair com o namorado...", exemplifica.
Existem, ainda, aquelas que dão voz de comando ao homem e passam a fazer suas vontades em detrimento da criança. É o caso, por exemplo, da mãe que começa a implicar com o filho e o proíbe de assistir TV, mesmo sendo no horário anteriormente combinado para isso, ou de brincar porque o parceiro quer ver futebol ou está cansado.
O problema é que, mergulhadas no romance em fase de início, as mulheres nem sempre conseguem enxergar a situação. Para o novo par, o arranjo pode parecer cômodo. E aí se torna necessário que alguém de fora –pai biológico, avós, amigos– a convoque para uma conversa que a faça enxergar a realidade.
Direito a um novo amor
Para as especialistas, é óbvio que a mulher não deve encarar a maternidade como a única função a desempenhar na vida. Todas têm o direito de reconstruir sua vida amorosa e viver um relacionamento pleno e satisfatório. Ainda assim, uma nova relação não pode interferir no papel de mãe. E a criança deve ser preparada para a entrada de uma nova pessoa em sua vida.
"É claro que um parceiro traz bem-estar e satisfação pessoal à mulher. É um desafio para ela equacionar o amor e o tempo entre ele e o filho", afirma Edith, que sugere a quem vem atravessando esse conflito que não pense apenas no presente, mas nas consequências das experiências vividas ou não-vividas pela criança em seu processo de formação.
"É preciso se manter bem atenta, conversar com os filhos, preparar e explicar para eles essa nova relação. É importante também dar um tempo para estabelecer esse novo relacionamento para não ser precipitada e fazer com que a criança passe por diversas situações de separações que vão levá-la a momentos de dificuldades e medo para aceitar a nova realidade", comenta Susana Orio.
Clareza para as crianças
Outra medida imprescindível é determinar qual a função que o novo parceiro exerce na vida da criança. Ele será apenas o namorado da mãe e, portanto, não tem responsabilidade como padrasto? Ou a ideia é que divida a educação do filho e seja uma figura masculina de autoridade? Quanto mais confusa e menos estruturada for esse dinâmica, mais problemas vão surgir. A criança precisa de clareza, de definições.
Por último, é importante ressaltar que nem sempre as mulheres que deixam o filho de lado por causa de um novo namorado insistem ou permanecem nessa postura. Algumas se dão conta dos resultados de suas atitudes quando o romance não vinga, e evitam repeti-las, enquanto outras, assim que o calor da paixão dá uma esfriada, retomam o comportamento de antes.
É possível resgatar a cumplicidade com o filho nesses termos? "Vale a pena tentar. As crianças, mesmo as menores, são sensíveis à sinceridade da mãe. Basta conversar com carinho, afeto e atenção. E, claro, se comprometer a manter o vínculo sempre firme e mostrar isso na prática", diz Maria Lucia Paiva.
http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2014/03/26/mae-que-negligencia-filho-por-causa-de-novo-amor-cria-crianca-insegura.htm
"O medo feminino é pertinente", diz a psicopedagoga e terapeuta familiar Edith Rubinstein, coordenadora do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia, espaço para formação continuada de profissionais, em São Paulo (SP). Porém, por conta dessa dificuldade em se dividir nos papéis de mãe e companheira, várias mulheres que se separam com filhos pequenos ficam muito tempo sem namorar. Para algumas, não há dilema: o filho vem em primeiro lugar e pronto. Mas nem sempre é assim.
Segundo a psicóloga clínica Susana Orio, outra forma de negligência acontece quando mães separadas dão mais atenção aos filhos do segundo casamento do que para os nascidos da sua primeira união. Seja qual for o caso, é importante tentar preservar as emoções infantis.
"Quando a mãe ou o pai decidem formar uma nova constituição familiar, devem tomar muito cuidado para isso não confundir nem abalar a criança. É preciso explicar a situação com clareza e, principalmente, ouvir o que ela tem a dizer, sem recriminações", declara Susana.
Reflexos na vida adulta
As crianças que não são prioridade na vida de seus pais, sejam separados ou não, têm mais desafios para enfrentar na vida escolar, o que também costuma afetar sua autoestima. "Não se trata apenas de tirar notas boas. Quando a criança não vai bem na escola, o problema repercute em sua vida futura, pois ali é espaço para socialização também. Se não está bem ajustada na escola, também não se ajusta socialmente", explica Edith Rubinstein.
Além disso, ao perceber que está em segundo lugar, a criança se ressente e, em geral, torna-se carente de atenção e mostra-se mais insegura e menos tolerante à frustração. Agressividade e baixa autoestima também fazem parte da lista de consequências que podem persistir ao longo da idade adulta.
De acordo com a psicóloga clínica Maria Lucia Paiva, doutora pelo Programa de Psicologia Clínica do IP/USP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo), a dimensão dos prejuízos emocionais depende muito do tipo de atitude materna. "Algumas mães passam a dar menos afeto e atenção, outras diminuem o tempo de conversa, outras deixam com frequência a criança sob os cuidados de terceiros para sair com o namorado...", exemplifica.
Existem, ainda, aquelas que dão voz de comando ao homem e passam a fazer suas vontades em detrimento da criança. É o caso, por exemplo, da mãe que começa a implicar com o filho e o proíbe de assistir TV, mesmo sendo no horário anteriormente combinado para isso, ou de brincar porque o parceiro quer ver futebol ou está cansado.
O problema é que, mergulhadas no romance em fase de início, as mulheres nem sempre conseguem enxergar a situação. Para o novo par, o arranjo pode parecer cômodo. E aí se torna necessário que alguém de fora –pai biológico, avós, amigos– a convoque para uma conversa que a faça enxergar a realidade.
Direito a um novo amor
Para as especialistas, é óbvio que a mulher não deve encarar a maternidade como a única função a desempenhar na vida. Todas têm o direito de reconstruir sua vida amorosa e viver um relacionamento pleno e satisfatório. Ainda assim, uma nova relação não pode interferir no papel de mãe. E a criança deve ser preparada para a entrada de uma nova pessoa em sua vida.
"É claro que um parceiro traz bem-estar e satisfação pessoal à mulher. É um desafio para ela equacionar o amor e o tempo entre ele e o filho", afirma Edith, que sugere a quem vem atravessando esse conflito que não pense apenas no presente, mas nas consequências das experiências vividas ou não-vividas pela criança em seu processo de formação.
"É preciso se manter bem atenta, conversar com os filhos, preparar e explicar para eles essa nova relação. É importante também dar um tempo para estabelecer esse novo relacionamento para não ser precipitada e fazer com que a criança passe por diversas situações de separações que vão levá-la a momentos de dificuldades e medo para aceitar a nova realidade", comenta Susana Orio.
Clareza para as crianças
Outra medida imprescindível é determinar qual a função que o novo parceiro exerce na vida da criança. Ele será apenas o namorado da mãe e, portanto, não tem responsabilidade como padrasto? Ou a ideia é que divida a educação do filho e seja uma figura masculina de autoridade? Quanto mais confusa e menos estruturada for esse dinâmica, mais problemas vão surgir. A criança precisa de clareza, de definições.
Por último, é importante ressaltar que nem sempre as mulheres que deixam o filho de lado por causa de um novo namorado insistem ou permanecem nessa postura. Algumas se dão conta dos resultados de suas atitudes quando o romance não vinga, e evitam repeti-las, enquanto outras, assim que o calor da paixão dá uma esfriada, retomam o comportamento de antes.
É possível resgatar a cumplicidade com o filho nesses termos? "Vale a pena tentar. As crianças, mesmo as menores, são sensíveis à sinceridade da mãe. Basta conversar com carinho, afeto e atenção. E, claro, se comprometer a manter o vínculo sempre firme e mostrar isso na prática", diz Maria Lucia Paiva.
http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2014/03/26/mae-que-negligencia-filho-por-causa-de-novo-amor-cria-crianca-insegura.htm
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