iG Paulista - 24/10/2014
Rogério Verzignasse | rogerio@rac.com.br
Foto: Dominique Torquato/ AAN
Natália Aparecida dos Santos, de 45 anos,
foi parar na rua após sofrer acidente
|
A Prefeitura de Campinas conclui uma das etapas mais importantes do chamado Plano de Ações Articuladas, que prevê a reestruturação completa do atendimento a moradores de rua.
Já está funcionando um abrigo exclusivo para mulheres, em um imóvel amplo, alugado na Vila João Jorge.
Até agora, os espaços de acolhimento — as casas de passagem — eram quase que exclusivamente para homens, que representam a maioria absoluta das pessoas encontradas em calçadas, praças ou sob viadutos.No caso delas, o espaço próprio não representa apenas privacidade.
O serviço, inaugurado após assinatura de convênio com uma entidade mantida pela Igreja, vai oferecer proteção integral à mulher, garantindo acesso à rede pública de assistência e permitindo que a acolhida reconstrua a própria vida: trabalhe, se cuide, retome vínculos rompidos com parentes e amigos. O objetivo principal é resgatar a autoestima da mulher.
As cidadãs são encaminhadas à casa pelos serviços que percorrem pontos da cidade, abordando o público nesta situação. O período de acolhimento vai variar de seis meses a um ano.
A proposta do abrigo é envolver a mulher em atividades que exigem organização do espaço, respeito ao próximo, capacidade de convivência em grupo. Participando de assembleias, cada moça vai traçar suas metas pessoais e compartilhar experiências, ouvindo e dando conselhos.
O convênio permite que a Prefeitura agilize ações para reverter um quadro preocupante. Cresce, dia após dia, o número de mulheres vivendo nas ruas.
Em 2013, por exemplo, elas representavam 13,8% de toda a população contabilizada. Hoje, já representam 17%. Nada menos que 106 mulheres foram encontradas pelas sarjetas em abordagens feitas em fevereiro No ano anterior, havia 83.
Parceria
No abrigo, instalado na Vila João Jorge, já moram cinco mulheres. Elas começaram a chegar no começo do mês. Mas a casa vai disponibilizar 25 vagas. E parte delas serão reservadas a crianças que acompanham mães acolhidas na rua.
O imóvel amplo — sobrado com dez quartos, quatro banheiros e salas de usos coletivo — no passado foi usado como moradia de freiras. Ali funciona agora o Abrigo Feminino Santa Clara.
Antes, o grupo mantinha na Rua José de Alencar uma casa de apoio, onde as moradoras de rua podiam se alimentar, mas não passavam a noite. Era um serviço mantido pela Cáritas, braço assistencial da Igreja Católica. Agora, no entanto, as novas dependências permitem o atendimento de casos de complexidade maior.
Segundo o coordenador do abrigo, o psicólogo Roberto Naiber Willis Torrico, o espaço atende às necessidades do Município, ampliando os serviços no segmento, como também resgata os direitos de mulheres excluídas, marginalizadas, que sofrem violência.
A entidade acumula uma experiência de 19 anos de trabalho com a população de rua, mas estamos cientes de que o convênio com a Prefeitura representa um desafio: Campinas não tinha serviços de atenção às mulheres nesta situação”, fala.
A entidade já funciona com 14 funcionários, entre técnicos e pessoal de apoio. A própria Cáritas montou a casa, com móveis e aparelhos eletrodomésticos.
O convênio prevê que a Prefeitura faça o repasse anual, ao grupo, de R$ 1 milhão, que ajudam a cobrir despesas com a manutenção da casa, como o pagamento do aluguel e dos salários.
Propostas do Plano de Ação Articulada
- Descentralização do Samim, com o serviço de albergue distribuído por imóveis administrados por entidades parceiras, por toda a cidade
- Acolhimento dos moradores de rua em unidades do Centro de Referência Especializada para a População de Rua (Centros Pop), equipamentos públicos que oferecem atendimento psicossocial, orientação médica, reuniões socioeducativas, alimentação, higienização pessoal
- Instalação do Programa Porta Aberta em todos os centros de saúde, que terão os funcionários capacitados para a assistência específica e diferenciada aos moradores de rua
- Treinamento do efetivo da Guarda Municipal, para a abordagem correta e o encaminhamento do cidadão à rede de assistência. Parte do efetivo já foi treinada
- Inauguração da Casa de Cuidados, na região do Alto Taquaral, para o atendimento de moradores de rua que apresentem problemas sérios de saúde, e que precisam de assistência médica especial. O prédio está em obras
- Inauguração de residências inclusivas e repúblicas, que vão servir de moradia para quem já viveu na rua, se tratou, e optou por não voltar à casa da família. Já funcionam, por exemplo, as repúblicas onde moram jovens que trataram da narcodependência em clínica de recuperação
Esperança
Natália Aparecida dos Santos, de 45 anos, deixou a mãe e seis irmãos em João Monlevade (MG) para tentar a vida em São Paulo, há mais de 25 anos.
Fixou residência em Hortolândia, estudou enfermagem e, por três anos, trabalhou em um centro de saúde no Jardim Rosolém.
Concursada, conseguiu emprego no Hospital Mário Gatti. Em 2005, no entanto, sofreu uma queda e teve problemas ortopédicos sérios. A situação piorou dois anos depois, quando a Previdência Social suspendeu seus benefícios.
Sem dinheiro para moradia, foi despejada. Dormiu de favor na casa de conhecidos até que, deprimida, acabou na rua.
Emocionalmente abalada, foi acolhida em um albergue. E, de lá, foi indicada para ser uma das primeiras moradoras do Santa Clara.
“Não gosto nem de lembrar o que vi no albergue. Eu quero retomar a vida, voltar ao trabalho, ter minha casa, trazer minha mãe para morar comigo”, fala. “O abrigo me ajuda a levantar, a retomar os sonhos.”
Correio
Até agora, os espaços de acolhimento — as casas de passagem — eram quase que exclusivamente para homens, que representam a maioria absoluta das pessoas encontradas em calçadas, praças ou sob viadutos.No caso delas, o espaço próprio não representa apenas privacidade.
O serviço, inaugurado após assinatura de convênio com uma entidade mantida pela Igreja, vai oferecer proteção integral à mulher, garantindo acesso à rede pública de assistência e permitindo que a acolhida reconstrua a própria vida: trabalhe, se cuide, retome vínculos rompidos com parentes e amigos. O objetivo principal é resgatar a autoestima da mulher.
As cidadãs são encaminhadas à casa pelos serviços que percorrem pontos da cidade, abordando o público nesta situação. O período de acolhimento vai variar de seis meses a um ano.
A proposta do abrigo é envolver a mulher em atividades que exigem organização do espaço, respeito ao próximo, capacidade de convivência em grupo. Participando de assembleias, cada moça vai traçar suas metas pessoais e compartilhar experiências, ouvindo e dando conselhos.
O convênio permite que a Prefeitura agilize ações para reverter um quadro preocupante. Cresce, dia após dia, o número de mulheres vivendo nas ruas.
Em 2013, por exemplo, elas representavam 13,8% de toda a população contabilizada. Hoje, já representam 17%. Nada menos que 106 mulheres foram encontradas pelas sarjetas em abordagens feitas em fevereiro No ano anterior, havia 83.
Parceria
No abrigo, instalado na Vila João Jorge, já moram cinco mulheres. Elas começaram a chegar no começo do mês. Mas a casa vai disponibilizar 25 vagas. E parte delas serão reservadas a crianças que acompanham mães acolhidas na rua.
O imóvel amplo — sobrado com dez quartos, quatro banheiros e salas de usos coletivo — no passado foi usado como moradia de freiras. Ali funciona agora o Abrigo Feminino Santa Clara.
Espaço também pode comportar filhos
das mulheres em situação de rua.
Créditos: Dominique Torquato/ AAN |
Segundo o coordenador do abrigo, o psicólogo Roberto Naiber Willis Torrico, o espaço atende às necessidades do Município, ampliando os serviços no segmento, como também resgata os direitos de mulheres excluídas, marginalizadas, que sofrem violência.
A entidade acumula uma experiência de 19 anos de trabalho com a população de rua, mas estamos cientes de que o convênio com a Prefeitura representa um desafio: Campinas não tinha serviços de atenção às mulheres nesta situação”, fala.
A entidade já funciona com 14 funcionários, entre técnicos e pessoal de apoio. A própria Cáritas montou a casa, com móveis e aparelhos eletrodomésticos.
O convênio prevê que a Prefeitura faça o repasse anual, ao grupo, de R$ 1 milhão, que ajudam a cobrir despesas com a manutenção da casa, como o pagamento do aluguel e dos salários.
Propostas do Plano de Ação Articulada
- Descentralização do Samim, com o serviço de albergue distribuído por imóveis administrados por entidades parceiras, por toda a cidade
- Acolhimento dos moradores de rua em unidades do Centro de Referência Especializada para a População de Rua (Centros Pop), equipamentos públicos que oferecem atendimento psicossocial, orientação médica, reuniões socioeducativas, alimentação, higienização pessoal
- Instalação do Programa Porta Aberta em todos os centros de saúde, que terão os funcionários capacitados para a assistência específica e diferenciada aos moradores de rua
- Treinamento do efetivo da Guarda Municipal, para a abordagem correta e o encaminhamento do cidadão à rede de assistência. Parte do efetivo já foi treinada
- Inauguração da Casa de Cuidados, na região do Alto Taquaral, para o atendimento de moradores de rua que apresentem problemas sérios de saúde, e que precisam de assistência médica especial. O prédio está em obras
- Inauguração de residências inclusivas e repúblicas, que vão servir de moradia para quem já viveu na rua, se tratou, e optou por não voltar à casa da família. Já funcionam, por exemplo, as repúblicas onde moram jovens que trataram da narcodependência em clínica de recuperação
Esperança
Natália Aparecida dos Santos, de 45 anos, deixou a mãe e seis irmãos em João Monlevade (MG) para tentar a vida em São Paulo, há mais de 25 anos.
Fixou residência em Hortolândia, estudou enfermagem e, por três anos, trabalhou em um centro de saúde no Jardim Rosolém.
Concursada, conseguiu emprego no Hospital Mário Gatti. Em 2005, no entanto, sofreu uma queda e teve problemas ortopédicos sérios. A situação piorou dois anos depois, quando a Previdência Social suspendeu seus benefícios.
Sem dinheiro para moradia, foi despejada. Dormiu de favor na casa de conhecidos até que, deprimida, acabou na rua.
Emocionalmente abalada, foi acolhida em um albergue. E, de lá, foi indicada para ser uma das primeiras moradoras do Santa Clara.
“Não gosto nem de lembrar o que vi no albergue. Eu quero retomar a vida, voltar ao trabalho, ter minha casa, trazer minha mãe para morar comigo”, fala. “O abrigo me ajuda a levantar, a retomar os sonhos.”
Correio
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