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sábado, 18 de outubro de 2014

Ganhadora do Nobel, Malala se torna a voz mais forte em defesa de jovens e crianças



Malala Yousufzai, a mais jovem ganhadora do Nobel da Paz


Quinta-feira, 16/10/2014, por Yvonne Maggie

Malala Yousufzai tornou-se, neste ano de 2014, a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da Paz, que dividiu com o indiano Kailash Satyarthi.
Quem é Malala Yousufzai? Em 2012, a jovem paquistanesa iniciou sua luta para que as meninas de seu país pudessem estudar e enfrentou os perigosos talibãs que dominam a província onde nasceu. Malala conclamava as meninas a desobedecerem as ordens dos temidos terroristas e não deixarem de ir à escola. Escreveu um diário onde contava seus esforços e o difícil cotidiano que vivia junto com suas colegas de classe, divulgado pela BBC em um blog com um pseudônimo. Mas os talibãs não a perdoaram e numa tarde, quando voltava para casa em um ônibus escolar, um desses extremistas entrou no ônibus, perguntou onde estava Malala, na época com 15 anos, e atirou contra sua cabeça e pescoço.
Malala foi salva pelo movimento internacional que encampou sua causa. Depois de ter sido operada em um hospital militar de Peshawar, foi avaliada por médicos britânicos e transferida para o Reino Unido. Passou por um longo tratamento intensivo. Desde então vive na Inglaterra, mas não abandonou sua batalha. Em 2013, foi a ganhadora do prêmio Sakharov para a liberdade de consciência, concedido pelo Parlamento Europeu.
Seu primeiro pronunciamento público depois do atentado foi na Assembleia de Jovens das Nações Unidas, em 2013, quando desafiou mais uma vez a autoridade dos talibãs. Em seu discurso, no qual reafirmava a necessidade de uma ação global em favor da educação, disse: "Eles pensaram que a bala iria nos silenciar, mas eles falharam (...). Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas (....) A educação é a única solução, a educação em primeiro lugar". E prosseguiu firme: "Os terroristas pensaram que mudariam meus objetivos e interromperiam minhas ambições, mas nada mudou na vida, com exceção disto: fraqueza, medo e falta de esperança morreram. Força, coragem e fervor nasceram".
No dia 10 de outubro último, Malala foi agraciada com o prêmio Nobel da Paz por sua luta em favor da educação das mulheres no seu país e por se levantar contra a autoridade dos terroristas e fundamentalistas, os talibãs.
Malala é um exemplo, e o prêmio servirá para ampliar suas conquistas. Com apenas 17 anos, essa jovem mostrou ao mundo como é fundamental a educação, e o sentido de sua cruzada atravessa fronteiras porque as crianças e jovens não tinham até hoje uma voz tão forte em sua defesa.
Malala é um exemplo porque transmitiu a milhares de crianças e jovens que não têm voz a esperança de poderem ser ouvidos. Ao saber do prêmio concedido a Malala, sobre quem escrevi em 2013 aqui, lembrei-me novamente do filme "Na idade da inocência" (L’argent de poche, 1976), de François Truffaut, no qual um professor termina sua aula antes das férias escolares com um comovente discurso: “Na infância eu ficava ansioso para me tornar adulto, porque sentia que os adultos têm todos os direitos, podem ser donos de si mesmos. Um adulto infeliz pode começar sua vida em outro lugar, de novo, do zero. Uma criança infeliz não pode pensar assim. Ela sabe que é infeliz, mas não consegue colocar sua infelicidade em palavras. Pior ainda, sabemos que no interior de si mesmo não é capaz de questionar seus pais ou os adultos que a fazem sofrer. Uma criança infeliz, uma criança mártir se sente sempre culpada. E isso é que é abominável! Entre todas as injustiças que existem no mundo, aquelas que atingem as crianças são as mais repugnantes, as mais odiosas! O mundo não é justo e não será nunca, mas devemos lutar pela justiça, vale a pena lutar por ela! É a única maneira. As coisas mudam, mas não rapidamente. Há progresso, mas muito lento. Os políticos, as pessoas que governam, estão sempre gritando em nossos ouvidos: ‘O governo não cederá à ameaça!’ Mas na realidade é ao contrário, eles sempre cedem à ameaça. Quando conseguimos alguma coisa é porque exigimos. Os adultos lutam por isso. Eles obtêm na rua o que lhes é negado nos escritórios. Se eu digo tudo isto é para provar uma coisa: os adultos quando querem mesmo uma coisa,  podem melhorar sua vida, podem melhorar sua sorte. Mas nessa luta, a vida das crianças é totalmente esquecida, não existe nenhum partido que se dedique realmente às crianças (...) Mas há uma razão: crianças não são eleitores. Se as crianças tivessem o direito de votar, vocês certamente iam poder ter uma educação melhor...” (tradução livre a partir do trecho do filme)
Malala conseguiu, quase 40 anos após essas palavras angustiadas de Truffaut, trazer de novo à tona a promessa de mudar o mundo fazendo com que as vozes das crianças desprotegidas tenham chance de serem verdadeiramente ouvidas.
Fiquei feliz por Malala e por seu pai, que a acompanha desde o início de sua trajetória. A jovem impressiona pela coragem e, sobretudo, pela crença na força da educação para a conquista da liberdade.
*Foto: Jessica Rinaldi/AP

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