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sábado, 18 de outubro de 2014

Brasil rediscute modelo de atenção ao parto

Filipe Leonel / Informe Ensp
15/10/2014
Durante a abertura da Conferência Internacional Ecos da 9th International Research Conference – Normal é Natural: da Pesquisa à Ação, na terça-feira (14/10), no Rio de Janeiro, a coordenadora da Área Técnica de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Esther Vilela, anunciou que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tomará medidas para incentivar a redução de cesarianas para pacientes com planos de saúde. O comunicado, que foi aplaudido de pé por médicos, pesquisadores, gestores, enfermeiros, parteiras, alunos e conferencistas presentes no evento, tem o intuito de diminuir o que o ministério classificou como "epidemia" de cesáreas no país, conforme indicou a pesquisa Nascer no Brasil, da Fiocruz, em maio deste ano. “O que temos que fazer é muito simples: basta olharmos para as evidências científicas, para as pesquisas. Elas nos mostram que quanto maior for a interferência no parto, mais ele será prejudicado”, alertou a britânica Lesley Page, presidente do Royal College of Midwives, do Reino Unido.
A pesquisadora britânica Lesley Page, presidente do Royal College of Midwives, do Reino Unido
(Foto: Bel Junqueira)

As resoluções da ANS ficarão abertas em consulta pública e concedem à mulher o direito de exigir dos planos as taxas de cesariana de cada médico e hospitais para poderem escolher onde e com quem farão o parto; a distribuição da caderneta para gestante (semelhante a que existe no SUS); e a exigência do partograma, um documento que detalha o andamento do trabalho de parto. Após anunciar a medida, Esther Vilela comentou o atual modelo de atenção ao parto no Brasil.
“O governo brasileiro assumiu o encargo de avançar nas politicas publicas de atenção ao modelo do parto no Brasil com a Rede Cegonha. O Ministério da Saúde reconhece que o parto e o nascimento são eventos cruciais para a promoção da saúde das mulheres e dos bebês, mas a forma como esse cuidado ainda ocorre deve ser mudada. A cesariana é um problema de saúde publica no Brasil, com sua taxa de 56%, mas, por outro lado, também realizamos uma assistência ao parto normal que é anormal, com o uso de tecnologias inapropriadas e um sofrimento desnecessário para a mulher”.
Na abertura da Conferência Ecos, Valdecyr Herdy Alves, presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (Abenfo-Nacional), destacou a realização do congresso como mais uma oportunidade de produzir conhecimento e buscar sua aplicabilidade na prática. Para ele, um cuidado centrado na mulher, no bebê e na família, a partir de melhores evidências científicas, será fundamental para remodelar o modelo de atenção ao parto no Brasil. “A Rede Cegonha trouxe as enfermeiras obstetrizes para o parto, mas o que ainda acontece no Brasil é uma situação de violência, e que está presente no discurso das mulheres. Temos que respeitar a autonomia e as possibilidades de escolha da mãe”.
'É preciso se preocupar com a saúde psicossocial da mãe'
Diretor do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Carlos Maciel, afirmou que a unidade está se preparando para construir um Centro de Parto Normal na nova sede do instituto, a ser construída na Quinta da Boa Vista. Segundo ele, como uma unidade da Fiocruz e um órgão do Ministério, o IFF deve atuar nas questões centrais do parto e nascimento unindo médicos e enfermeiros.
Lesley Page revelou que o Royal College of Midwives tem mais de 40 mil membros e reúne a grande maioria das parteiras do Reino Unido. Ainda de acordo com ela, a preocupação com a forma como as mulheres estão dando a luz e a maneira pela qual os bebês estão nascendo motivou a realização dessa conferência. “Algumas mulheres não recebem cuidado; outras recebem uma atenção inadequada. A maior medicalização e intervenção no momento do parto são cruciais. Depois de certo nível, isso se torna um abuso, uma violência. Os estudos científicos demonstram isso”.
Para Lesley, além de cuidar da saúde física, é preciso se preocupar com a saúde psicossocial da mãe. “Trata-se do inicio da vida pra uma criança, da constituição de uma nova família: a forma como cada um desses membros vai ser cuidado pode trazer uma verdadeira transformação. Muitos dos presentes aqui têm em suas mãos o advento mais importante da vida humana: o nascimento. Sua pratica profissional pode transformar a sociedade brasileira”, concluiu.
Também participaram da mesa de abertura a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pùblica (Ensp/Fiocruz) Maria do Carmo Leal; a pesquisadora da Universidade de Central Lancashire, Soo Downe a diretora da Faculdade de Enfermagem da Uerj, Helena Leal David; a representante da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro Rejane Almeida; a representante do Conselho Federal de Enfermagem Maria do Rosário Sampaio; a presidente da Associação Brasileira de Enfermagem, Sonia Alves; e a representante da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro Carla da Silva.

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