Ilustração: Lumi Mae |
Regina Navarro Lins
25/10/2014
A questão da semana é o caso do internauta que quis se separar da mulher porque o casamento ia mal. Paga pensão, mas é tratado como bandido que abandonou o lar. Teme que a ex ponha seus filhos definitivamente contra ele.
Não tenho dúvida de que o divórcio é, muitas vezes, a melhor opção, apesar de geralmente ser um período bem difícil. Penso ser importante analisar sob dois ângulos a situação vivida pelo leitor. O primeiro é a dor que uma separação provoca em quem não deseja o afastamento.
Quando alguém deixa de ser amado é tomado por uma profunda angústia e tristeza. A maioria das pessoas só se sente valorizada, especial, com certeza de possuir qualidades, se tiver um parceiro amoroso.
Mesmo que o parceiro não satisfaça nem preencha suas necessidades afetivas e sexuais, a separação é dolorosa porque impõe o rompimento da fantasia do par amoroso, tão cultivada por todos. No caso de uma separação conjugal há ainda uma agravante: a sensação de fracasso, já que desde criança todos aprendem que o casamento é o lugar onde uma pessoa pode se realizar afetivamente.
Acrescente-se a isso a baixa autoestima que ocorre nessas situações e as inseguranças pessoais que reaparecem. O resultado são separações em que a hostilidade e o ódio pelo outro chegam a níveis extremos. E isso pode ocorrer com qualquer um, independente do sexo.
O outro aspecto, que já devia estar sendo discutido mais amplamente, é a situação do homem atual. Durante milênios as mulheres perceberam o homem do mesmo modo como ele aprendeu a se definir: um ser privilegiado, acreditando ser mais forte, mais corajoso, mais decidido, mais responsável, mais criativo e mais racional.
Claro que isso serviu bem para justificar a dominação da mulher por tanto tempo. Contudo, de trinta e poucos anos para cá, as mulheres começaram a exigir o fim da distinção dos papéis masculinos e femininos, e a certeza do homem superior à mulher foi abalada.
Diante dessa nova mulher desconhecida, muitos homens passaram a questionar a identidade masculina, desejosos de se libertar desses papéis tradicionais a eles atribuídos.
Não mais subjugados ao mito da masculinidade, acreditando na igualdade entre os sexos, buscam uma vida afetiva com suas parceiras livres de obrigações e cobranças, que só servem para impedir uma relação verdadeira com elas. Mas nem todas as mulheres se deram conta disso.
Muitas continuam alimentando a mesma forma de pensar e agir de sempre: a mulher é frágil, desamparada, necessitando desesperadamente de um homem ao lado, que lhe dê amor e proteção e, mais do que tudo, que dê um significado à sua vida. Ao mesmo tempo em que qualquer homem é visto como perigoso, sempre disposto a enganar.
Dentro dessa ótica, a separação é percebida como um ataque, merecendo, portanto, ser revidado. O simples fato de um homem não desejar mais a continuidade do casamento o transforma de imediato no déspota opressor, tão conhecido na história do patriarcado.
Afinal, o que mais poderia se esperar de um homem? Com os estereótipos masculinos falando mais alto, surge o desejo de vingança. E para que ela tenha êxito, não se pode aceitar que a meta de todos deveria ser a busca de uma vida realmente satisfatória.
É certo que a mudança das mentalidades demora algumas vezes mais de cem anos para se concretizar, mas isso não importa, desde que se abra um espaço definitivo para a autonomia de homens e mulheres.
Enquanto isso, sorte de quem tem coragem para aproveitar este momento, em que, felizmente, a culpa e os sacrifícios estão sendo substituídos pela possibilidade de prazer.
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