J. de Mirjian, via Wikimedia Commons
Não é possível fugir da dor causada pelo fim de um relacionamento, mas é possível vivê-la de uma forma que traga descoberta, crescimento e mudança
IVANMARTINS
16/10/2015
Se você está triste ou solitário, se o fim de um grande ou pequeno amor o deixou prostrado, se a esperança ainda não morreu, mas agoniza, dê uma lida na lista abaixo. Ele pode ser útil. É fruto da repetida experiência direta, da observação direta da vida dos outros e da reflexão mais ou menos permanente sobre esse tipo de situação. A ideia por trás dele não é saltar ou contornar a crise afetiva. É vivê-la de um jeito mais legal, transformador. Aproveitar a crise para melhorar pessoalmente e tentar mudanças que possam ser legais para o resto da vida - e para quando o novo romance começar.
1) Caminhe – O ato e o ritmo de andar fazem bem à alma. Quando a gente está mal, anima. Mas ande na rua, num parque ou numa praça. A esteira é o velório da caminhada. Ao ar livre a gente pega sol no rosto, sente o vento, se distrai com a cidade. Pode-se cumprimentar os vizinhos, dizer oi aos velhinhos e olhar – discretamente, pelo amor de deus – as mulheres que passam vestidas de verão. Como o calor anda insuportável, sugiro andar antes das 8 da manhã ou depois das 7 da noite. Sem fone de ouvido, por favor. Se o amor da sua vida vier perguntando as horas, você precisa escutar, né?
2) Medite – Faz muito bem para o espírito. Há vários grupos nas grandes cidades que ensinam e praticam a meditação. Procure na internet e você encontrará. Além da técnica ser útil para o conjunto da vida – ajuda a relaxar, organizar as ideias e lidar com o estresse da cidade – a meditação coloca você em contato com gente legal. A cultura New Age (que abarca yoga, meditação, budismo, vegetarianismo, hinduísmo...) atrai gente legal. São pessoas menos preocupadas com grana e sucesso do que com sua relação consigo mesmas e com o universo. Sem ser místico ou religioso, acho esse papo ótimo.
3) Leia – Sobretudo bons livros de autoajuda. Eles são perfeitos para momentos de arrumação da vida. Meus favoritos estão na coleção The School of Life, publicados pela editora Objetiva. Há títulos comoPara falar mais sobre sexo, do Alain de Button, e Como ficar sozinho, da Sara Maitland. São simples, inteligentes, úteis. Eu leio e recomendo. Pode-se ler bons romances, claro, mas eles nos tocam emocionalmente, e, às vezes, ainda estamos sensíveis demais para isso. Tente, porém. Para quem passou da fase aguda dos sentimentos, um grande romance é um bálsamo.
4) Arrume - A cama, pela manhã; a pia, depois do jantar; a sala, na hora de dormir. Depois dê uma olhada crítica para o guarda-roupa e a estante. Certamente eles precisam de algumas horas de atenção. Então pode chegar o dia de lidar com os documentos atrasados, com as coisas que precisamos resolver no cartório, com as chatices inevitáveis que temos estado adiando há meses ou anos. A mensagem é simples: arrumar as coisas ao nosso redor, físicas ou não, é uma maneira de cuidar de nós mesmos, e isso sempre faz um bem danado.
5) Cozinhe – Comece com uma refeição por semana, para pegar o jeito. Depois tome coragem e cozinhe para alguém. O efeito é sensacional. Alimentar a si mesmo e aos demais é uma vocação humana que provoca uma onda de bons sentimentos. Cozinhar amplia a sensação de que estamos a cuidar de nós mesmos e daqueles de quem gostamos, além de ser excelente distração.
6) Cuide – Das plantas, dos bichos, dos parentes, dos amigos. Cuidar ocupa de forma positiva.Apegar-se a coisas e pessoas ao nosso redor traz uma alegria sutil e duradoura. É também uma forma lenta e eficaz de cicatrização emocional. Também sinaliza – lá na frente - que estamos prontos novamente para cuidar de outra pessoa mais intimamente. Mas vá sem pressa. Dedicar-se as outros é uma coisa que dá prazer em si mesmo. Nem precisa de justificativa prática.
7) Saia – Como diz a Gildete, que trabalha lá em casa, quem está sozinho precisa ver e ser visto. Almoços são boas ocasiões para encontrar amigos e pretendentes. Noites de calor também são boas para circular nos bares e nas ruas. Há também exposições de arte e salas de espera dos cinemas: esses locais atraem gente interessante em proporção fora do comum. Às vezes a gente quer e precisa ficar só. Mas lembre que as chances de ser feliz e conhecer alguém bacana aumentam quando a gente sai de casa. É estatístico.
8) Mude – Quem dizia que a maior tolice do mundo é fazer tudo sempre igual e esperar por resultados diferentes? Pois é. Se está infeliz, macambúzio, triste, tente mudar. Não precisa virar monge ou fazer trabalho voluntário no norte da Síria. Altere coisas simples na sua vida. Rotinas, hábitos, comportamentos, decoração, endereço. Tente experiências novas. Elas levam a lugares e pessoas que você desconhecia. Crises sentimentais são bons momentos para rever valores e mudar aspectos da existência que nos incomodam ou atrapalham.
9) Participe – Pode ser da reunião do condomínio ou da torcida para o jogo do seu time neste domingo. Melhor ainda se for alguma causa nobre, que o leve a conhecer gente altruísta, com interesse em mudar a realidade. O Brasil é um país tão desigual e injusto que não custa colocar um pouco da nossa energia – e mesmo da nossa tristeza – na tentativa de melhorar as coisas. Participar de reuniões, ouvir ideias novas, ter contato com a indignação das pessoas e com os olhares novos e complexos que elas têm sobre o mundo costuma fazer bem. Ajuda a perceber que a nossa dor pessoal está inserida num contexto maior. Com isso, ela não deixa de ser importante, mas ganha uma dimensão mais realista e menos egocêntrica.
10) Crie - No momento sombrio da crise, faça coisas bonitas que permitam botar para fora suas ideias e energias – boas e más. Tem gente que dança, tem gente que escreve, tem gente que monta e constrói. Tudo vale. Algumas dessas atividades deixam registros físicos no tempo. Outras, marcam a nossa memória com intensidade. As duas coisas são importantes. Dentro de 10 ou 20 anos, pouco do que você vive agora terá importância por si mesmo – mas as lembranças e o legado material do passado estarão lá. Eles são essenciais para entender a nossa vida.
11) Confie – Todo mundo precisa de um cúmplice. Você, que está afetivamente à deriva, ainda mais. Pode ser amigo ou amiga. Melhor que seja alguém com quem se está ensaiando um romance. Essencial é que a pessoa esteja lá – ao vivo ou nas redes sociais – para discutir as coisas que tocam, enternecem ou afligem. Quem rompeu um relacionamento perdeu um cúmplice e uma referência. Agora está reconstruindo com outra pessoa. A relação de intimidade e confiança é tão essencial que deveria ser critério para escolher o próximo parceiro: quem estava lá na hora escura se habilita para continuar quando o sol nascer.
12) Avance – Não é fácil, mas depois de andar, ler, meditar e cozinhar, talvez seja hora de deixar para trás e esquecer. Cada um de nós tem seu próprio ritmo, mas, em algum momento, os laços com o relacionamento passado têm de ser rompidos – ainda que estejamos tão visceralmente apegados a ele que um pedaço muito bonito (mas nada prático de nós) deseje continuar assim. Romper, mesmo com toda delicadeza, corresponde a uma necessidade emocional profunda. É uma passagem inevitável na evolução das coisas. Prepare-se para ela enquanto cuida das plantas e dos gatos, enquanto vai ao teatro, enquanto conhece gente que ajuda a desenhar o futuro.
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