por Stalimir Vieira publicado em 04 de dezembro, 2017
Preciso confessar uma coisa. Por muito tempo eu sustentei um profundo desejo por você. Acordava de manhã, já excitado por saber que em uma hora estaríamos dividindo o mesmo ambiente. Para, como sempre, desfrutar de você chegando, sorrindo um bom dia vibrante entre os lábios carnudos e os dentes perfeitos. Você não percebia, mas, quando sentava ao meu lado e ligava seu computador, eu fechava os olhos e aspirava o seu perfume. Para, em seguida, reabri-los e me fixar nos seus cabelos que ondulavam sobre as orelhas delicadas, o pescoço, os ombros, as costas, acariciando essa pele dourada e aveludada. Como eu gostava da ideia de percorrer com beijos os mesmos caminhos desses fios perfumados...
Você levantava para buscar café? Automáticos, meu olhos acompanhavam o balanço dos seus quadris, impulsionados pelas pernas roliças que escapavam nos limites desse vestidinho poroso e me deixavam assim, meio zonzo. Quando você voltava, era acima da cintura que meu olhar se embevecia, perdido no balançar suave dos seus seios.
Você, andando, de olho no Instagram, nem sacava. Certo dia, você curvou-se para falar com a nossa colega, sentada em frente, e eu pude ver, por um descuido seu com os botões de cima da camisa, que você tem sardas nos seios. Aquilo durou um bom tempo, vocês estavam concentradas em alguma fofoca e nem imaginavam o meu deleite. Por muito tempo essa imagem ficou retida na minha retina. Nesse dia, aliás, me decidi a convidar você para almoçar. Mas acabei nunca convidando. Depois, imaginei um happy hour, um vinho a dois num lugar romântico, quem sabe um fim de semana numa praia. Nunca tive coragem. Pressentia que poderia ser mal interpretado.
Aliás, com toda a razão, já que eu estava mesmo mal-intencionado. Queria sexo. O tempo passa e o nosso chefe me chama e oferece uma promoção. Uma bela e agradável surpresa. Mais poder e mais grana, quem não quer? Na manhã em que ele juntou a equipe e fez o comunicado formal, quase não escutei nada do discurso, distraído com o seu umbigo, que me espiava entre o cós baixo do seu jeans e o limite da camisetinha. A partir de então, a gente passou a se ver menos. Eu tinha ganhado uma sala e ficava mais isolado. Um dia, você entrou para tratar de um assunto que dependia da minha aprovação para ir adiante. Era pleno verão e você usava um minivestido branco. Tinha prendido os cabelos em duas tranças graciosas, o que deixava o pescoço bem exposto.
Que vontade me deu de beijar o seu pescoço e imaginar que você ia ficar toda arrepiada. Você pediu para mostrar o trabalho na minha máquina. Sentou ao meu lado. A pele do seu braço tocou a pele do meu. Num esforço monumental, avaliei o que você me pedia e aprovei. Bem que eu merecia um beijo porque a ideia não era tão boa assim. Quase falei essa bobagem, mas me contive. Então, você levantou e disse: “Chefe, tô precisando de aumento”. Levantei também. Ficamos assim, olhos nos olhos, você afastou levemente os lábios e seu peito arfava. Voltei a sentar. Você saiu. E eu escrevi o meu pedido de demissão. Fiquei feliz ao saber que você ocupou o meu lugar. Reconheço, porém, uma pontinha de ciúme quando soube que se casou com o meu ex-chefe.
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)
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