No Brasil, as estatísticas do câncer de mama assustam: uma mulher morre a cada 36 minutos por conta da doença. Organização criada por brasileiros e americanos arrecada dinheiro para comprar e doar mamógrafos para os rincões mais carentes do país
DONA ROSA, A FILHA E OS DOIS NETOS, ANTES DO EXAME. ELA ESTAVA PREOCUPADA DE TER QUE TIRAR A ROUPA EM PÚBLICO |
O sorriso fácil não esconde um brilho de medo e dúvida nos olhos negros. Há 12 anos, Maria de Jesus Ferreira Leal, de 37, suspeita que por trás da fartura dos seios, que alimentaram seus quatro filhos, se esconda um inimigo mortal. Ao longo desses anos, ela não se lembra de nenhum dia que não tenha sentido dor na mama esquerda. Recentemente, gotas de sangue brotaram de seu mamilo. O temor dela é reeditar a história da tia, que sofreu com câncer de mama.
Dado o histórico familiar e os sintomas preocupantes, Maria já deveria ter realizado uma mamografia há tempos. Mas nem a saúde pública local nem o orçamento da família Leal permitiram. Maria mora em uma palafita na Ilha do Pau Rosa, em Marajó, Pará. Ali, não há sequer posto de saúde. Consultas médicas dependem de uma viagem de 24 horas em um barco, pelo Rio Pará, até Belém. O trajeto, desgastante, não sai por menos de R$ 30, um preço alto para quem depende do dinheiro do Bolsa-Família para viver. Conseguir marcar um exame de mamografia nos concorridos hospitais públicos da região exigiria muito mais tempo e dinheiro do que Maria poderia custear. Para tentar aplacar o incômodo, ela recorria a qualquer pílula que tivesse e tomou até antigripal. Se não curavam as dores no peito, os comprimidos davam algum alento a sua angústia.
Graças a um improvável encontro com as altas sociedades brasileira e americana, Maria conseguiu fazer sua primeira mamografia recentemente. O encontro começou a ser gestado há cerca de cinco anos, quando a americana Bárbara Sobel era embaixatriz dos Estados Unidos no Brasil. Bárbara, cuja mãe morreu de câncer de mama, engajou-se em formar uma cooperação entre os países da América para pesquisar e combater a doença. Ela imaginou uma organização, batizada de "Américas Amigas", capaz de arrecadar dinheiro para comprar e doar mamógrafos para os rincões mais carentes do Brasil.
ROSA MARIA TAVARES, DE 54 ANOS, NUNCA TINHA OUVIDO FALAR SOBRE MAMOGRAFIA. ACREDITAVA SE TRATAR DE UM EXAME NA BARRIGA |
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