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domingo, 7 de outubro de 2012


Impaciência explica violência contra crianças?

ISABEL CLEMENTE


História 1 - Uma freada brusca assusta os pedestres da quadra comercial onde eu tinha almoçado com meu marido, num dia de semana, em Brasília. Como eu me virei rápido, ainda vi o topo da cabeça de um menino, obviamente pequeno e fora da cadeirinha, voando violentamente para a frente. O carro parou no meio da rua. A voz vociferante do motorista ecoava pelo quarteirão.
Olha a m.que voce fez. OLHA A ME*** QUE VOCE FEZ!!!!”.
O homem empurrou o garoto para trás no banco e arrancou com o carro. Tive medo, pelo menino.

História 2 - Estou numa das cabines individuais de um dos banheiros do aeroporto de Recife com minha filha mais velha. De repente, por baixo da divisória, algo líquido cai com força no chão e quase espirra em nossas pernas. Em seguida, o silêncio é rompido por uma mulher gritando, transtornada, vários palavrões. “Sua idiota! Sua burra, sua imbecil! P.q.pariu!!! P.Q.P!!! Tão grande, abestada,  fazendo m. P. que estúpida, que estúpida!!!
Minha filha me fita com os olhos arregalados, entreabre os lábios, mas eu coloco o indicador na frente dos lábios, sinalizando para ela não falar nada. Não ouvimos a voz da criança. A mulher continuava gritando. “Tinha que fazer nas calças? Mas que burra, que burra!!!”. Até eu me assustei com o tom da mulher. Estava muito desproporcional para uma criança que tinha acabado de fazer xixi nas calças. Quando saímos da cabine, elas já tinham ido. Isso aconteceu no retorno de uma viagem de férias, em março.

História 3 - No pilotis do prédio comercial, uma mulher arrasta com raiva um menino de 4 anos presumíveis pelo antebraço. Eles passam por mim, por várias pessoas, enquanto ela grita ameaçadoramente “em casa vou te enfiar a po***da, eu vou te comer de p***da!!“

Eu não tenho ideia se os adultos cumpriram ou não suas ameaças, ou se foram adiante com seus rompantes protegidos pela privacidade. Na rua, aquilo tudo já não estava bom. Nem o olhar do outro serviu como freio. Pode ser também que nada tenha acontecido, mas as estatísticas de violência doméstica contra criança e as frequentes notícias de maus tratos insistem em nos revelar o que há de pior por aí – além desse lamentável show na rua.

Aquele sujeito não bateu, mas freou com tanta raiva que poderia ter machucado seriamente a criança solta no banco de trás.

A mulher histérica conseguiu humilhar a criança por causa de um xixi.

A ameaça da outra desqualificada que arrastava o menino parecia prenúncio de um espancamento, mas talvez tenha sido apenas isso, uma ameaça com direito a uma lição sobre falta de educação.

Não quero entrar aqui no mérito da lei da palmada, até porque ausência de palmada não significa ausência de violência. Vejo por aí a perigosa mistura de outros ingredientes muito mais danosos na educação de uma criança. Já pensou qual será o futuro de um garoto que aprende com o pai super carinhoso que importante é se dar bem na vida, à custa do outro, do dinheiro de todo mundo e por aí vai? Pois é.

Mas eu queria falar de algo mais sutil. Paciência é um artigo de luxo, raro, eu diria, que pode faltar nas melhores famílias, mas noção é gênero de primeira necessidade. Não está à venda em shoppings, nem é distribuída gratuitamente por aí.

Contra a falta de sensatez, não há lei que nos proteja. Tem hora, viu.

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