Pensamentos suicidas entre estudantes são mais comuns do que se imagina
Mais de 26 mil estudantes em 70 escolas e universidades americanas já pensaram em suicídio pelo menos uma vez na vida. Além disso, 15% consideram a ideia seriamente no último ano e 5% realmente tentaram se matar durante a vida. A pesquisa, feita nos EUA pela Associação Americana de Psicologia (APA), foi realizada com base em um questionário online.
A maioria dos estudantes descreveram os episódios de pensamentos suicidas como sentimentos intensos e breves, com duração de um dia ou menos. Os pesquisadores descobriram também que, por uma série de razões, mais da metade dos estudantes com crises suicidas recentes não procuraram ajuda profissional ou disseram a alguém sobre suas ideias.
Tanto os estudantes de ensino médio quanto de graduação apontaram que as razões para tais pensamentos seguiam, na sua maioria, a seguinte ordem: o suicídio abreviaria dores físicas ou emocionais; resolveria problemas ligados à relações afetivas; simples desejo de dar um fim à própria vida e por último, de acordo com a indicação dos entrevistados, dariam fim aos problemas escolares ou acadêmicos pelos quais passavam.
A partir dos resultados da pesquisa os autores também descobriram que os potenciais suicidas frequentemente abusam de alguma substância (álcool ou drogas), têm potenciais quadros depressivos ou transtornos alimentares. Além disso, os pesquisadores afirmaram que os atuais modelos de tratamento são insuficientes para reduzir o comportamento suicida e que, na maioria das vezes, somente identificam ou ajudam estudantes em meio a crises.
Gatilhos que podem levar ao pensamento suicida ou ao ato suicida
Andrea Poyastro Pinheiro, especialista do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Universidade de São Paulo (USP) afirma que normalmente esses pensamentos suicidas são associados a outros problemas psiquiátricos. “Esse tipo de comportamento normalmente é associado a algum estímulo adverso, como depressão, esquizofrenia ou transtornos de ajustamento. Situações estressantes também servem de gatilho para pessoas que estão no meio de outras crises de trantornos mentais”, diz.
Andrea lembra casos de pensamentos suicidas podem ser observados até mesmo em crianças. “Um dos casos que tivemos contato foi um menino de 8 anos, que atentou à própria vida, e dizia ter pensamentos suicidas desde os seis”, diz, lembrando que esse tipo de comportamento não tem uma idade delimitada para acontecer. “Normalmente esse tipo de pensamento ocorre no início da adolescência e pode atingir pessoas de 60 anos, por motivos diversos.”
Rede de apoio começa na escola
O estudo americano aponta um aumento do estresse entre os estudantes e a falta de apoio para lidar com essas consequências. A prevenção ao suicídio precisa envolver todos as pessoas em contato com essa população (dos profissionais ligados à administração escolar aos colegas de classe) que podem alertar médicos e psicólogos sobre os potenciais suicidas.
Os autores sugerem que é preciso lidar com as tendências suicidas entre os estudantes através de tratamentos e acompanhamento psicológico apropriados. Isso evitaria uma continuidade desse tipo de pensamento – que pode levar ao ato suicida em si – e intervenções somente durante as crises, o que pode não ser eficaz.
No Brasil não há dados ou pesquisas tão amplas sobre esse tipo de problema do ponto de vista da saúde pública, afirma Andrea. Um estudo sobre o Mapa de Violência no Brasil – que abordou diversos temas, entre eles suicídio – apontou que entre 2010 e 2012 o número desse problema aumentaram em 38%, comparado a 17% no período que foi de 1980 e 2010. As principais causas que motivam os jovens e adultos a pensar ou realizar o suicídio, entretanto, não foram abordadas pelo estudo.
por Enio Rodrigo
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