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sábado, 3 de novembro de 2012


Escolha do sexo do bebê: um negócio milionário
Mercado de seleção de gênero já movimenta pelo menos US$ 100 milhões a cada ano

por Fernanda Dias

É muito comum: logo após a notícia da gravidez, começam as conjecturas sobre o sexo do bebê. E aí pode vir a decepção de alguns pais ao saberem o resultado. De olho nesse filão de mercado, empresas estrangeiras já estão faturando alto com a seleção de gênero, negócio que gera uma receita de pelo menos US$ 100 milhões a cada ano, período em que são realizados de 4 a 6 mil procedimentos.
O custo médio do processo em clínicas de alto nível é de cerca de US$ 18 mil. A Fertility Institutes, que funciona nos Estados Unidos, é a líder mundial da técnica de seleção de gênero feita através de diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), método desenvolvido no início dos anos 1990 com o objetivo de identificar possíveis anomalias cromossômicas no embrião antes de ele ser transferido para o útero. Os EUA são um dos poucos países no mundo que legalmente permite a utilização do PGD com o intuito de seleção de sexo. Canadá, Reino Unido e Austrália, por exemplo, consideram a intervenção ilegal.
“No Brasil, a escolha do sexo do bebê está proibida”, esclarece a médica Genevieve Coelho, diretora do Instituto Valenciano de Infertilidade de Salvador. “Os pais que optam pelo tratamento de infertilidade querem normalmente um filho. Para eles, a escolha do sexo é irrelevante”, completa ela.
Ao contrário das mulheres que buscam a fertilização in vitro com a esperança de conceber qualquer criança, as pacientes da clínica Fertility Institutes já costumam ter dois filhos. Elas são tipicamente mulheres de cerca de 30 anos, casadas e de classes média e alta.
O chefe do setor de Obstetrícia da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, Jorge Rezende Filho, ressalta que, em geral, a vontade maior de determinar o sexo do bebê realmente acontece a partir do segundo filho:
“A opção pela escolha do sexo poderia fazer com que alguns casais no Brasil também quisessem esse tipo de tratamento. Os custos, no entanto, certamente limitariam o número de pessoas com acesso ao procedimento. E, provavelmente, seria uma opção mais procurada no segundo filho, quando o primeiro não foi do sexo de preferência de um dos cônjuges”.
Segundo Jorge, a frustração na hora do exame é bastante comum, especialmente nos casos nos quais o ultrassom suspeitou de uma coisa precocemente – como no exame de 12 semanas, que não é garantido – e depois confirmou outra. Ele conta que, no dia a dia do consultório, alguns casais chegam a perguntar sobre possíveis procedimentos para a escolha do sexo: “Querer saber se haveria uma maneira natural de ter meninos ou meninas é muito comum. Mas, decidir se submeter a um tratamento de alta complexidade é outra história. E, como no Brasil não há respaldo ético para esse tipo de seleção (a não ser em casos de doenças ligadas ao sexo), os casais não levam a ideia adiante”.
Há alguns casos em que os tratamentos de seleção de gênero não dão certo. E aí, a decepção é ainda maior. Foi o que aconteceu com uma canadense que sempre sonhou em ser mãe de uma menina. Depois de dar à luz a dois meninos, ela foi em busca de um tratamento nos Estados Unidos – já que no Canadá o procedimento é proibido. A técnica escolhida era baseada na velocidade dos espermas. O método trabalha em cima da suposição de que os espermatozóides carregando o cromossomo Y (que geram homem) nadam mais rápido em uma solução de proteína do que os gametas com o cromossomo X (que geram mulher). Mas, o resultado foi a gravidez de mais um menino. A mulher, que teve sua história contada pela revista “Slate” mas optou por preservar seu nome, tentou então o método PDG, feito a partir de corantes fluorescentes que permitem que o embriologista veja os cromossomos e determine se o embrião está levando o par XX ou XY. No entanto, todos os embriões tiveram que ser descartados, e ela teve mais uma tentativa frustada.
Apesar dos contratempos financeiros e emocionais, ela tentou uma terceira possibilidade, que consiste na triagem de espermas aliada à fertilização in-vitro. Depois de quase quatro anos e US$ 40 mil gastos, ela finalmente conseguiu ser mãe de uma menina.
O desejo da canadense contrasta com o de mães da China e da Índia, onde os casais chegam a abortar fetos do sexo feminino. Não há estatísticas que comprovem que nos Estados Unidos a preferência é por meninas. Mas, médicos de fertilidade chegam a estimar que as meninas são a meta de 80% dos pacientes e dados do Google mostram que “como ter uma menina” é procurado três vezes mais no país do que como “como ter um menino”.
Além de problemas demográficos, os críticos do procedimento dizem que ele pode levar a futuras escolhas da cor do olho ou do cabelo do bebê. Isso sem falar no possível dano psicológico a essas crianças, que seriam pressionadas a viver de acordo com os estereótipos do gênero escolhido e pago por seus pais.
“O procedimento pode acabar estimulando a discriminação por gênero. Mas, não necessariamente vai abrir precedentes para que os casais escolham também a cor do olho ou do cabelo de seus bebês, já que não dispomos ainda da tecnologia para características físicas. Apenas identificamos os cromossomos X e Y”, explica Genevieve.
A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva diz que está preocupada ainda pois os médicos podem desviar suas atenções de tratamento de infertilidades para perseguirem uma especialidade mais lucrativa.

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