Pesquisa mostra que crianças expõem vida pessoal nas redes sociais
Karine Melo
Repórter da Agência Brasil
Brasília- Sexta-feira, fim da
tarde. Crianças e adolescentes se divertem embaixo do bloco em um condomínio
fechado de classe média alta da capital federal. É o anúncio da chegada do fim
de semana. Entre as velhas brincadeiras, futebol e polícia e ladrão são algumas
das preferidas. Mas, além de se divertirem como na época dos pais, a turma
entre 9 e 13 anos tem outra mania: as redes sociais.
“Pelo menos, uma vez por dia,
acesso [o Facebook] para conversar com meus amigos, jogar e compartilharlinks com imagens de quadrinhos ou gravuras
engraçadas”, diz Guilherme Lima, de 11 anos.
A professora Fabíola Neves, mãe
dele, diz que está sempre de olho no que o filho faz na rede. “Com o
consentimento dele, tenho as senhas de conta de e-mail e redes socais e sempre vejo com quem
ele conversa e que tipo de conteúdo acessa", conta. Porém, admite que não
é possível monitorá-lo por 24 horas. “Não sei que conteúdos ele acessa quando
não está em casa [na escola ou na casa de amigos], mas acredito que sejam
sempre os mesmos. Se ele já tivesse visto algo inadequado ou tivesse em contato
com estranhos, eu saberia pelo comportamento”, garante.
As meninas da mesma faixa
etária adoram combinar os encontros pelas redes sociais. Nas rodinhas,
equipadas com seus smartphones e iPods, elas postam mensagens nas
redes em que contam o local onde estão e o que estão fazendo, o famoso check
in, assim como fotos pessoais, de celebridades ou de roupas e
esmaltes em alta no mundo da moda. “Gosto de compartilhar e curtir o que minhas
amigas postam e de saber o que elas estão fazendo”, diz Luísa Neves, de 13
anos.
A atividade online intensa das crianças e dos
adolescentes preocupa os especialistas. “Você acaba deixando o que a gente
chama de um rastro digital muito preciso ao informar com muito detalhe o seu
cotidiano. Isso registrado na internet pode ser acessado por pessoas mal
intencionadas”, alerta o psicólogo e diretor de prevenção da organização não
governamnetal SaferNet Brasil, Rodrigo Nejm.
A pesquisa TIC Kids Online
Brasil 2012, divulgada no mês passado pelo Comitê Gestor da Internet no país,
mostra a exposição dos pequenos no mundo virtual. Os indicadores revelam que,
no país, 70% das crianças e dos adolescentes entrevistados têm perfil próprio
nas redes sociais. Entre os menores de 13 anos, 42% dos entrevistados (na faixa
de 9 e 10 anos) e 71% (de 11 e 12 anos) já fazem uso delas. A idade mínima
exigida para ter um perfil na internet é 13 anos. Porém, grande parte altera a
idade para ficar conectado.
A pesquisa, que entre abril e
julho deste ano ouviu 1.580 crianças e adolescentes e o mesmo número de pais em
todas as regiões brasileiras, também constatou que a maioria desses jovens
coloca em seu perfil foto que mostra claramente o rosto (86%), expõe o
sobrenome (69%) e pode navegar nas redes sociais quando quiser, sem
acompanhamento dos pais (63%).
Um indicador que chama a
atenção é que 53% dos pais afirmaram não usar a internet. No entanto, 71%
acharam que as crianças usam a rede com segurança. Porém, a pesquisa mostra que
entre crianças de 9 e 10 anos, 6% já tiveram contato na internet com alguém que
não conhecia pessoalmente, entre 11 e 16 anos, o percentual sobe para 26%.
“Isso é muito sério porque
esses mesmos pais que estão dizendo que é pouco provável que seus filhos tenham
algum tipo de situação de perigo na internet, não conhecem exatamente que
situações de vulnerabilidade seus filhos podem passar nesse ambiente. Há uma
certa sensação de segurança dos pais que não obrigatoriamente se confirma na
experiência concreta dos seus filhos que, às vezes, tem experimentado alguns
conteúdos que podem trazer algum tipo de dano”, acrescenta Rodrigo Nejm.
Na avaliação do psicólogo, a
criança e o adolescente podem ter contato com conteúdo violento, pessoas
estranhas e eventualmente até com criminosos. Apesar disso, ele destaca que
mais importante é preparar esse público para lidar com situações de risco, que
existem sempre, dentro e fora do ambiente virtual . “Quando a gente fala de
conhecer novas pessoas, a gente tem que tomar cuidado para não fazer um pânico
moral. É preciso olhar esses dados com cuidado, chamar a atenção para os
perigos, mas também não é o caso de entrar em pânico e achar que a internet é
superperigosa. Isso pode ser muito legal para questões de socialização”,
explica.
A proteção dos pequenos é uma
das atribuições da Polícia Federal (PF), mas não em todos os casos. “Para a PF
investigar precisa haver a publicação ou a disponibilização de arquivos
envolvendo pornografia infantil na internet, pois desse modo essa prática tem
caráter transnacional. A rigor, quando o caso se restringe ao armazenamento
desse tipo de material e ao abuso de crianças, quem assume é a Polícia Civil”,
explica o delegado da PF Júlio César Fernandes, responsável pelo grupo especial
de combate aos crimes de ódio e pornografia infantil na internet. O grupo,
criado em 2003, recebe e analisa as denúncias. As investigações são feitas
pelas delegacias de defesa institucional nas superintendências ou pelas
delegacias descentralizadas.
Em entrevista à Agência
Brasil, o delegado disse ainda que o perfil dos aliciadores é
variado, sem faixa etária definida, mas a maioria é homem e solteiro. As
principais investigações envolvendo pornografia infantil estão na região
Centro-Sul do Brasil. “Ainda não sabemos se isso ocorre porque há um maior
volume de casos ou porque lá as unidades estão mais especializadas. As unidades
que têm mais volume também têm os responsáveis que estão há mais tempo à frente
dessa área temática. Os trabalhos mais emblemáticos foram desenvolvidos pelas delegacias
de defesa institucional do Paraná e do Rio Grande do Sul”, destaca.
Alguns cuidados nas
redes sociais:
1) Pense bem nas informações que vai publicar
em seu perfil;
2) Lembre-se de que as informações
compartilhadas não ficam restritas somente a você e a seus amigos. Informações
pessoais nas redes sociais se tornam públicas. O que é divulgado na rede dificilmente
será removido depois;
3) Cuidado com estranhos;
4) Não compartilhe sua senha, nem mesmo com
namorado (a). Ela pertence somente a você;
5) Evite dar endereços de lugares que
frequenta, onde mora ou estuda. Muito cuidado com o check
in;
6) Se tiver algo de íntimo para dizer a alguém
e queira guardar segredo, use o telefone ou fale pessoalmente;
7) Sempre que criar uma senha faça com que ela
seja forte – mesclando números, letras e outros caracteres.
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