Filósofo da Unicamp finaliza em 10 dias livro com análise de protestos
Marcos Nobre terminava obra sobre história política que já previa estopim.
Autor avalia diferenças entre atuais manifestações e atos do passado.
Do G1 Campinas e Região
Em apenas 10 dias, o filósofo político e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcos Nobre frequentou manifestações em São Paulo, e pouco dormiu para finalizar o livro “Choque de Democracia - Razões da Revolta", lançado em formato e-book na quinta-feira (27). Na publicação, ele analisa os recentes protestos no Brasil. "Quando uma coisa desse tamanho está acontecendo no país, você tem tempo para dormir depois", brinca.
Antes das manifestações, Nobre estava no processo final de uma publicação, cuja pesquisa durou seis anos, com a história dos últimos 30 anos da política brasileira. "O sistema político se fechou nele mesmo, ele se blindou, mas isso não vai ficar assim", concluía ele antes dos protestos pelo país. Sobre ter sido um “visionário”, Nobre não se gaba. "Na verdade não. As ruas que atropelaram meu livro", disse aos risos.
Antes das manifestações, Nobre estava no processo final de uma publicação, cuja pesquisa durou seis anos, com a história dos últimos 30 anos da política brasileira. "O sistema político se fechou nele mesmo, ele se blindou, mas isso não vai ficar assim", concluía ele antes dos protestos pelo país. Sobre ter sido um “visionário”, Nobre não se gaba. "Na verdade não. As ruas que atropelaram meu livro", disse aos risos.
Manifestantes tomaram as ruas do Centro de Campinas na última semana (Foto: Gustavo Magnusson / G1) |
“Foi natural continuar a análise que eu já estava fazendo”, afirma Nobre. Na obra ensaística, que já figura no topo do ranking das mais vendidas nas lojas virtuais de e-books, o filósofo traça características do movimento, como a pluralidade de reivindicações, a ausência de unidade de liderança e a revolta contra o sistema político que se fechou para as aspirações da sociedade civil.
Pluralidade e democracia
A diferença central entre o que ele chama de “revoltas de junho” e os dois movimentos populares do passado, Diretas Já em 1984 e os caras-pintadas pelo impeachment de Fernando Collor em 1992, é a ausência de organização de liderança unitária e pauta única. Segundo Marcos Nobre, a pluralidade de reivindicações é um sinal de maturidade da democracia. "Antes era uma unidade forçada, porque você tinha que deixar de lado suas diferenças em nome dessa unidade, por um objetivo comum. O que a gente viu agora é uma revolta em que todos os movimentos podem ir pra rua sem serem obrigados a encontrar essa unidade", afirma.
No entanto, Nobre afirma que há um traço comum da revolta contra o sistema político que se fechou aos anseios e aspirações da sociedade. "Essas pessoas não são de esquerda nem de direita. Elas só estão tentando fazer sua formação política democrática que o sistema político não possibilitou até então", diz.
Nova formação política
Marcos Nobre defende que as manifestações e a articulação dos protestos em redes sociais representam um fenômeno da atual geração. "É um processo de formação política que não passa pela política oficial e está dentro da própria sociedade", explica. Isso porque, segundo ele, a juventude conheceu a política como algo dissociado da sociedade. "A juventude que nasce na década de 90, a única coisa que vê são esses acordões de cúpula e acordões de gabinete", afirma.
Para ele, a partir do momento em que o campo político tornou-se distante da própria sociedade, ocorreu o estopim para a tomada das ruas pela população, tendo como ponto de partida os serviços públicos, como o transporte coletivo. "Chega um momento em que a sociedade se coloca: se não tenho canal nenhum para influenciar nesse sistema político, vamos para rua e vamos retomar o poder na rua", diz Nobre.
Pluralidade e democracia
A diferença central entre o que ele chama de “revoltas de junho” e os dois movimentos populares do passado, Diretas Já em 1984 e os caras-pintadas pelo impeachment de Fernando Collor em 1992, é a ausência de organização de liderança unitária e pauta única. Segundo Marcos Nobre, a pluralidade de reivindicações é um sinal de maturidade da democracia. "Antes era uma unidade forçada, porque você tinha que deixar de lado suas diferenças em nome dessa unidade, por um objetivo comum. O que a gente viu agora é uma revolta em que todos os movimentos podem ir pra rua sem serem obrigados a encontrar essa unidade", afirma.
No entanto, Nobre afirma que há um traço comum da revolta contra o sistema político que se fechou aos anseios e aspirações da sociedade. "Essas pessoas não são de esquerda nem de direita. Elas só estão tentando fazer sua formação política democrática que o sistema político não possibilitou até então", diz.
Nova formação política
Marcos Nobre defende que as manifestações e a articulação dos protestos em redes sociais representam um fenômeno da atual geração. "É um processo de formação política que não passa pela política oficial e está dentro da própria sociedade", explica. Isso porque, segundo ele, a juventude conheceu a política como algo dissociado da sociedade. "A juventude que nasce na década de 90, a única coisa que vê são esses acordões de cúpula e acordões de gabinete", afirma.
Para ele, a partir do momento em que o campo político tornou-se distante da própria sociedade, ocorreu o estopim para a tomada das ruas pela população, tendo como ponto de partida os serviços públicos, como o transporte coletivo. "Chega um momento em que a sociedade se coloca: se não tenho canal nenhum para influenciar nesse sistema político, vamos para rua e vamos retomar o poder na rua", diz Nobre.
Violência
Na avaliação do autor, que também é também pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), é preciso "prestar atenção" de onde vem o vandalismo. "Quando a periferia se levanta, fecha as ruas em protesto, está dizendo também que a repressão policial que acontece nas manifestações, acontece todo dia, contra eles".
Nobre diz que dentro do que se chama "violência" há grupos que possuem uma "frustração social profunda", assim como há grupos de "banditismo" que aproveitam o momento. "Mas tudo isso ganha um destaque maior porque justamente há uma imprensa mundial preocupada que essas manifestações estejam fora de controle ou elas possam influenciar a economia", explica.
'Peemedebismo'
O filósofo político aponta que os protestos que ganharam as ruas são reflexo de uma “blindagem” da política em relação a sociedade, um efeito que ele nomeia de "peemedebismo". Pelo conceito que remete claramente ao PMDB, o estudioso entende que houve o fim da polarização no governo, isto é, o fim da oposição e da situação no poder. "Essa 'geleia geral' do sistema político é um problema, você não consegue mais estabelecer uma identidade partidária a tal ponto que o sistema possa ser polarizado e que tenham de fato posições diferentes", afirma.
Segundo ele, as polarizações meramente artificiais e limitadas ao período eleitoral foi o que construiu a formação política de boa parte dos manifestantes, majoritariamente representada pela geração de 1990. "A única coisa que viam eram eleições que os candidatos se atacavam e que depois das eleições, eles se abraçavam no mesmo governo, sem nenhuma dificuldade, como se isso fosse absolutamente normal", diz.
Respostas e trégua
Segundo Nobre, as "revoltas de junho" já mudaram a cultura política do país e geraram respostas, mesmo que demoradas, do poder público. "Perto da velocidade e intensidade que tem o movimento, a resposta foi até tardia. O sistema político ficou completamente atônito. Ele não esperava uma manifestação dessa forma que mostrasse esse descolamento do governo da própria da sociedade", afirma ele.
O filósofo político afirma que as manifestações continuarão conforme as respostas dadas pelo governo às reivindicações. Segundo ele, os protestos passam por um período de trégua enquanto o sistema político discute o que fazer. "Se as pessoas não se sentirem contempladas pelas respostas, elas vão pra rua de novo. As ruas estão dando uma certa trégua. Mas é provisório", sentencia.
Nobre diz que dentro do que se chama "violência" há grupos que possuem uma "frustração social profunda", assim como há grupos de "banditismo" que aproveitam o momento. "Mas tudo isso ganha um destaque maior porque justamente há uma imprensa mundial preocupada que essas manifestações estejam fora de controle ou elas possam influenciar a economia", explica.
'Peemedebismo'
O filósofo político aponta que os protestos que ganharam as ruas são reflexo de uma “blindagem” da política em relação a sociedade, um efeito que ele nomeia de "peemedebismo". Pelo conceito que remete claramente ao PMDB, o estudioso entende que houve o fim da polarização no governo, isto é, o fim da oposição e da situação no poder. "Essa 'geleia geral' do sistema político é um problema, você não consegue mais estabelecer uma identidade partidária a tal ponto que o sistema possa ser polarizado e que tenham de fato posições diferentes", afirma.
Segundo ele, as polarizações meramente artificiais e limitadas ao período eleitoral foi o que construiu a formação política de boa parte dos manifestantes, majoritariamente representada pela geração de 1990. "A única coisa que viam eram eleições que os candidatos se atacavam e que depois das eleições, eles se abraçavam no mesmo governo, sem nenhuma dificuldade, como se isso fosse absolutamente normal", diz.
Respostas e trégua
Segundo Nobre, as "revoltas de junho" já mudaram a cultura política do país e geraram respostas, mesmo que demoradas, do poder público. "Perto da velocidade e intensidade que tem o movimento, a resposta foi até tardia. O sistema político ficou completamente atônito. Ele não esperava uma manifestação dessa forma que mostrasse esse descolamento do governo da própria da sociedade", afirma ele.
O filósofo político afirma que as manifestações continuarão conforme as respostas dadas pelo governo às reivindicações. Segundo ele, os protestos passam por um período de trégua enquanto o sistema político discute o que fazer. "Se as pessoas não se sentirem contempladas pelas respostas, elas vão pra rua de novo. As ruas estão dando uma certa trégua. Mas é provisório", sentencia.
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