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sábado, 29 de junho de 2013

Refugiada síria de 9 anos realiza sonho com ajuda de criança britânica


Trabalhadora humanitária leva presente de menina britânica à refugiada síria no Iraque. Foto: ACNUR
Trabalhadora humanitária leva presente
de menina britânica à refugiada síria no Iraque.
Foto: ACNUR
O gesto que renovou as esperanças de May foi registrado no começo de junho. O brinquedo uniu a refugiada síria que vive no norte do Iraque à britânica Mimi Fowler, de 5 anos, cuja família vive na Tailândia. Mimi soube da história de May por meio das fotografias do americano Brian Sokol para o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) divulgadas no começo do ano nos principais meios de comunicação do mundo. A menina parecia confusa quando a trabalhadora humanitária chegou à sua tenda e lhe estendeu uma caixa de papelão. Ela continha uma boneca e um cartão e quando a menina de 9 anos, percebeu que aquele pacote era para ela, seu rosto se derreteu em um sorriso. O que May mais sentia falta após deixar sua casa em Damasco, capital da Síria, era a sua boneca Nancy e, agora, alguém do outro lado do mundo tinha lhe dado uma outra de presente.
“Eu não esperava receber uma boneca de Mimi, mas estou tão feliz em saber que tenho uma nova amiga que se preocupa comigo”, disse May aos funcionários do ACNUR no campo de refugiados de Domiz, enquanto abraçava o seu novo brinquedo e lia a carta de Mimi. “Essa boneca me lembra a minha velha boneca, Nancy, que foi deixada para trás, na Síria. Minha nova boneca vai se chamar Mimi, em homenagem à minha nova amiga.”
A mãe de Mimi, Nilufar, contou ao ACNUR em Bangcoc a história de como elas enviaram um presente para uma estranha em uma terra estrangeira. Ela lembra que estava assistindo ao jornal na TV em março quando apareceu uma matéria sobre a situação na Síria com imagens das crianças. “Mimi está sempre interessada em ouvir sobre a vida de outras crianças e começou a fazer perguntas sobre quem elas eram e por que pareciam tão tristes”, disse Nilufar.
Por isso, a mãe entrou na Internet e acabou encontrando o ensaio fotográfico de Sokol, intitulado “A coisa mais importante“, sobre os objetos mais importantes que os sírios conseguiram levar para o refúgio. No ensaio estava a foto de uma menina triste. Era May relatando que teve de deixar sua boneca para trás quando saiu às pressas da Síria em agosto de 2012.
“Mimi continuou a fazer perguntas sobre May, se ela estava triste por que tinha deixado sua boneca para trás e se ela seria capaz de conseguir outra boneca. A resposta que obteve foi provavelmente não”, descreveu Nilufar. No dia seguinte, Mimi foi falar com a mãe levando todas as suas economias “e perguntou se poderíamos gastar o dinheiro para comprar uma boneca para May”, lembrou.
Mimi insistiu em comprar uma boneca nova para May em vez de mandar uma de suas antigas. “Era desolador pensar que essa menina estava sentindo tanta saudade da sua ‘amiga’. Então, se ela [Mimi] queria fazer uma coisa tão boa, senti que precisava ajudá-la”, explicou a mãe. Nilufar também sentiu uma conexão com a menina síria porque sua mãe é da etnia tâmil, da região de Jaffne, no norte do Sri Lanka e também teve que fugir de casa diversas vezes nos primeiros anos da guerra civil que assolou o país de 1983 a 2009.
Encontrar uma boneca adequada foi uma tarefa difícil. “Estava com medo de que se enviássemos algo culturalmente insensível, May nunca iria conseguir sua nova Nancy, então procuramos por uma boneca de verdade, não poderia ser nenhuma Barbie ou princesa da Disney. Demorou um pouco, mas achamos a boneca certa”, disse Nilufar.
A boneca foi entregue ao escritório do ACNUR em Bangcoc iniciando uma longa jornada para chegar ao campo de Domiz. Um funcionário de Informações Públicas do ACNUR de Bangcoc, Babar Baloch, levou pessoalmente o brinquedo para Genebra, na Suíça. Em seguida, outro colega levou a boneca para Amã, na Jordânia, e de lá o brinquedo seguiu para o Iraque.
A jornada de May ao acampamento de Domiz não foi tão longa, porém, mais cansativa e traumática. Ela nasceu e cresceu em Damasco. A guerra chegou ao seu bairro no ano passado, quando o quarteirão onde morava foi atingido por uma série de explosões.
May, seus pais e seus três irmãos mais novos fugiram em busca de um local mais seguro antes que o prédio desabasse, soterrando seus pertences, incluindo Nancy. A família ficou hospedada em um templo por quase três semanas antes de decidir deixar o país.
Levaram dois dias de carro para chegar até a fronteira, cerca de 800 km de distância. Eles caminharam por duas horas até a região do Curdistão no Iraque, onde foram registrados e encaminhados para o acampamento. “É muito difícil reiniciar sua vida depois de ter perdido tudo, mas finalmente me senti segura e bem recebida pelo povo do Curdistão”, disse a mãe de May, Hyat.
No acampamento de Domiz, eles compartilharam uma tenda com outras três famílias por um tempo, mas conseguiram a sua própria no começo de 2013. O pai de May trabalha como motorista para uma rede de supermercados na cidade de Erbil, a cerca de 170 km do campo. Ele visita a família uma vez por mês e sempre traz doces para seus filhos. Seu salário ajuda a família. May frequenta a escola no campo e é uma excelente aluna.
Suas matérias preferidas são árabe, curdo e inglês. Ela sonha em se tornar pediatra. May tem muitos amigos no acampamento que abriga cerca de 40 mil pessoas, mas não tinha nenhum brinquedo. Por isso que o presente de Mimi é ainda mais importante. Saber que alguém de fora do campo se importa com ela e com a sua família é um grande impulso para essa criança tão cheia de vida.
“Eu nunca conheci Mimi, mas ela é muito bondosa e eu já gosto dela. Espero que um dia eu possa conhecê-la e que possamos brincar juntas”, disse May, acrescentando que a nova boneca e a carta de Mimi são atualmente suas posses mais queridas.
Por Natalia Prokopchuk, no Iraque, e Vivian Tan, na Tailândia.

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