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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A exaustão é o começo da cura

por Patricia Gebrim

"Se estiver exausto, mova-se adiante... Você ainda não encontrou a paz"

Às vezes a vida perde a leveza. Na verdade não é a vida que se torna pesada, uma vez que a vida nada mais é do que aquilo que cada um de nós cria, a partir de nossos padrões de crenças. 

Na verdade somos nós que a distorcemos, lhe arrancamos a beleza e a transformamos numa espécie de Frankenstein, onde cada pedaço parece artificialmente colado ao outr...o, numa caricatura grotesca e assustadora . É incrível a nossa capacidade de transformar beleza em feiura.

Dia após dia, cobrimos os verdes tapetes de relva verde esmeralda com a frieza do concreto aparente. Ignoramos o suave brilho de nossos próprios olhos, preocupados com as pequenas rugas que os rodeiam. Maldizemos as suaves ondas de nossos cabelos, os espremendo em pranchas quentes para que pareçam diferentes. Perdemos a chance de estar em paz com nossos queridos porque nos tornamos escravos do trabalho. E depois de algum tempo nos vemos em meio ao concreto, com os olhos tristes, os cabelos ressecados e absolutamente solitários. Que cansaço acontece num momento como esse... A vida se torna seca como um deserto, e em meio a tanta secura, o peito aperta e nos sentimos esmagados por aquilo que erroneamente chamamos de vida.

Mas, se tivermos sorte, se ainda estivermos vivos, uma lágrima há de saltar de nossos olhos cansados.

Acreditem. Uma única lágrima. É tudo o que precisamos. Uma única lágrima, vinda de nossas profundezas, daquela parte de nós que nunca morre. Vinda de nossa verdade, de nossa sabedoria, do lago sagrado que repousa no centro de nosso peito. E com ela vem a matriz da vida que somos, e a possibilidade do novo, do renascimento, de uma consciência maior. Dessa única gota de vida, todo um deserto pode voltar a viver, se não tivermos perdido a sensibilidade, se não tivermos nos transformado em estátuas de sal.

A lagrima rola, junto a nossos pés, e lá, da minúscula poça, o milagre começa a acontecer. Um mínimo pontinho verde brota da terra seca, frágil, trêmulo, vencendo a aspereza que se instalou em nossa vida. E aqui e ali, pequenas ilhas de vida começam a aparecer. E surgem alguns pensamentos amorosos, e um olhar mais compassivo. E gestos de cuidado, cuidado com nós mesmos, com os outros, com a natureza. E essa graminha nova começa a atrair pessoas diferentes, que não se importam com as nossas rugas ou cabelos, pessoas que gostam de deitar na relva e contar histórias. E aos poucos outras plantas começam a surgir ao nosso redor, e pessoas, e pássaros, e borboletas. E um dia são tantas as borboletas que acabamos aprendendo sobre a fluida leveza de seu voo. Sim, porque as borboletas aqui estão para nos ensinar que somos leves a ponto de voar. Podemos nos transformar em cores que voam, e é assim que finalmente nos libertamos, e passamos a colorir o mundo com nossa beleza. Começamos a imaginar cada vez mais flores, e é assim que florimos nossa vida, e a de quem nos rodeia.

Se temos uma imensa capacidade de transformar beleza em feiura, acreditem, é ainda maior a nossa capacidade de transformar o feio na mais sublime expressão da beleza da nossa alma. Talvez tudo comece com uma lágrima, seja ela de tristeza ou de saudade de nosso verdadeiro lar, que é como um jardim onde nos encontramos todos, para brincar, amar e celebrar nosso infinito potencial de amar.



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