Leonardo Sakamoto
Você se sentiu sexualmente atraído por uma mulher.
Dai descobre que ela tem ou teve o mesmo órgão sexual que você.
De repente, o que era desejo se torna uma culpa escabrosa e violenta, somada a uma raiva idiota da outra pessoa. Que, diga-se de passagem, não deveria sofrer nenhum tipo de escárnio público ou humilhação pelo fato de você ser ridículo.
Medo de que, parceiro? De ser chamado de “bicha” na mesa de bar, de sofrer bulling virtual de um grupo de amigos (sic) com cérebro menor do que uma noz moscada, de receber olhares condenatórios depois do jogo de futebol de domingo, de ser excluído de uma droga de patota preconceituosa?
Se aceitar bovinamente viver com medo de seus desejos conseguirá, aí sim, ser um belo de um frouxo. Um covarde que não tem vontade ou opinião própria, mas depende da manada para lhe dizer o que pensar, como se vestir, o que comer e com quem se deitar.
Cara, tenho dó de você. Porque, ao temer ser rotulado, compartimenta a vida em caixinhas que, simplesmente, não existem. E interdita a si mesmo em uma sabotagem maluca.
“Sou do rock, estou proibido de gostar de músicas de MPB.” Agora me responda: por que você acha essa frase tosca, mas não aplica isso às outras dimensões da sua vida?
“Ah, mas isso é pecado!” Olha, se existir uma entidade suprema, acredite, ela não vai se importar com quem você transa ou quem você beija. Caso contrário, não seria uma entidade suprema, mas algum religioso-fundamentalista-inspirador-de-ódio.
Por fim, o que faz uma mulher e um homem não é o que ela ou ele teve ou tem entre as pernas, mas como ela ou ele se vê e se afirma. Os pacotes “homem” e “mulher” são construções sociais e individuais, afinal de contas. Ninguém nasce “homem” ou “mulher”. Torna-se.
Resolvi escrever sobre isso após ler comentários na rede e ouvir em rodas de amigos sobre a mulher flagrada com o deputado federal Romário – um festival lamentável de preconceitos. Não sou apenas eu que a considera atraente, bem como acho o mesmo de uma série de mulheres trans.
O problema é que a gente vive em um grande jardim da infância no qual pessoas nas ruas e alguns jornalistas insistem em não crescer.
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