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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Quer acabar com as meninas malvadas? Crie meninas boazinhas


MEAN GIRLS

Era uma vez a quarta série, ano em que as jovens garotas começavam a ter dificuldade para navegar em amizades. Durante muitos anos trabalhei numa escola para crianças com problemas de aprendizado. Durante a quarta série as amizades começavam invariavelmente a apresentar sinais de turbulência. Xingamentos, fofocas, mágoas.
A pior parte sobrava para os professores, é claro, porque as lágrimas, as reviradas de olhos e o sarcasmo quase inaudível sempre davam um jeito de aparecer no exato momento em que começávamos nossas aulas.
Certos dias, as meninas resolviam as questões entre elas. Ex-melhores amigas voltavam a ser melhores amigas na hora de pegar o ônibus de volta para casa. Em outros, a tensão continuava até o último aluno ir embora para casa.
Era um sistema complicado de amizades feitas e desfeitas, muito antes de a social media colocar esse conceito para a ponta dos nossos dedos. Desesperados para dar um fim às alianças fluídas e ao choro das meninas no banheiro (enquanto elas deveriam estar estudando matemática), alguns professores pediam minha ajuda. E eu ajudava.
Comecei um clube da amizade. Pelo menos assim era que a gente o chamava. Algumas delas reviravam os olhos só por causa do nome, mas a verdade é que elas estavam cansadas do que acontecia no almoço e no recreio. Uma vez por semana, nos encontrávamos na biblioteca para falar de amizade. Fazíamos artesanato ou jogávamos enquanto conversávamos, e eu passava a maior parte do tempo ensinando empatia e bondade. Mesmo na quarta série as crianças precisam de lições sobre esses dois importantes tópicos.
Algumas semanas depois de começar o grupo, uma coisa maravilhosa aconteceu. As meninas começaram a falar de seus sentimentos. Falavam das coisas que as incomodavam e das que as deixavam felizes. Uma ensinou a outra a costurar. Duas que achavam não ter nada a ver entre si acabaram se tornando melhores amigas. Quando as meninas pararam de serem críticas e começaram a ouvir e a empatizar, se sentiram mas confiantes. E aquela história de menina malvada que atrapalhava o bem estar emocional e acadêmico virou coisa do passado. Quem diria.
Todo aquele progresso aconteceu porque alguém tirou um tempo para ajudá-las a aprender a se relacionar e a criar empatia. Alguém mostrou outro jeito de estabelecer e conduzir amizades. Não era um jeito perfeito, e nada aconteceu em uma semana - mas uma hora aconteceu.
Infelizmente, a última pesquisa do Instituto Pew mostra que empatia e bondade estão longe das primeiras posições nas listas de traços que os pais consideram desejáveis para seus filhos. Aparentemente, eles estão muito mais interessados em criar filhos que "trabalhem duro" e que sejam "responsáveis", em vez de filhos capazes de sentir empatia. É uma pena, porque as crianças aprendem muito sobre trabalho duro e responsabilidade quando começam a ir à escola, mas o ensino da empatia e da bondade deveria começar em casa.
Se quisermos acabar com as "meninas malvadas", se quisermos acabar com o bullying oculto baseado em julgamentos, inveja e fofoca, precisamos ensinar as meninas a se relacionar. Temos de mostrar a elas como criar amizades saudáveis, como ouvir só por ouvir (não para dar respostas espertinhas) e como apoiar e ser apoiado.
Toda criança tem seus pontos fortes, e ainda assim nossa cultura celebra aqueles que se encaixam. Podemos incentivá-las a ser elas mesmas, mas as mandamos para um mundo em que a identificação com um ou outro grupo é essencial. Sem um grupo, as crianças se sentem perdidas. Mas as dinâmicas dos grupos podem ser complicadas, e isso é frequentemente um problema.
É perfeitamente normal que as meninas gravitem em direção a outras com interesses comuns, mas também é importante ensiná-las a celebrar as diferenças e a enxergar o que os outros têm de bom.
Com feedback constante sobre bondade e empatia, podemos criar uma geração de meninas que inverta esse comportamento de "meninas malvadas", que parece crescer a cada ano. Podemos fazer diferença.
Ajudá-las a ajudar. A competição entre os pais não é tóxica só para eles, mas também para as crianças que testemunham essa concorrência. Pare de competir. Sua família é a sua família e não importa o que as outras estejam fazendo. Seu filho pode ir para Harvard ou para uma universidade de menor prestígio. Ela pode se tornar uma dançarina, uma artista ou uma professora. Sua função não é moldá-la de acordo com a sua versão de perfeição, mas sim apoiá-la no crescimento e no estabelecimento de metas e sonhos.
Em vez de se concentrar no desconhecido, ajude sua filha a ajudar as amigas. Incentive-a a ser uma agente de mudanças em sua comunidade, a pensar no bem-estar dos outros, em vez de se comparar com eles.
Mate o sarcasmo. Ouço muito sarcasmo nas conversas entre pais e crianças. Os pais recorrem a ele quando estão cansados, frustrados ou simplesmente nervosos. O sarcasmo machuca. Confunde as crianças e as deixa chateadas e impotentes.
Pare de ser sarcástica em suas comunicações com sua filha. Ela pode não entendê-lo completamente, mas vai internalizá-lo e repeti-lo. O sarcasmo vai entrar insidiosamente no vernáculo dela e um dia será usado para magoar outras pessoas.
Seja honesto. Seja claro. Fale de sentimentos e demonstre empatia. Se você fizer tudo isso sua filha aprenderá a agir da mesma maneira.
Crie um grupo positivo para as meninas. Você não precisa ser a técnica do time de basquete da sua filha para ajudá-la e as amigas a criar amizades positivas e saudáveis. Crie um grupo para tricotar, discutir livros ou correr. Considere um grupo de redação criativa.
A consistência é a chave para ajudar as meninas a navegar nos sentimentos tumultuosos que acompanham as amizades. Procure algo que desperte a curiosidade delas e marque reuniões uma vez por mês, pelo menos. No ambiente seguro do grupo, sua filha e as amigas dela vão aprender a ouvir, a criar empatia e a se ajudar, não importa o que venha pela frente.
Essas são lições que valem a pena.

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