Piloto comemorou a vitória em Xangai jogando champanhe em uma das assistentes
- ZIGOR ALDAMA Xangai 16 ABR 2015
Não existe pódio de Fórmula 1 que se preze sem uma generosa garrafa de champanhe esperando o vencedor da corrida. Convenientemente agitada, há mais de 50 anos serve para lançar um jorro de euforia nos espectadores, na imprensa que capta o momento, e nos colegas de premiação que tiveram menos sorte ao volante. No entanto, o piloto inglês Lewis Hamilton decidiu no domingo comemorar sua vitória em Xangai derramando a bebida em uma das jovens assistentes que o acompanhava no alto do pódio, vestida com uma versão moderna do tradicional vestido chinês qipao. Seu gesto demonstrou claramente que o ataque a pegou de surpresa. E que possivelmente a machucou, pois Hamilton lançou o champanhe em sua cara, como se estivesse mirando em sua orelha esquerda.
As fotos não demoraram para correr o mundo, e a reação tampouco se fez esperar. O jornal britânico Daily Mail foi um dos primeiros a denunciar um gesto que, assim como para muitos outros, demonstra o machismo do piloto inglês. “Que perdedor! Sem cavalheirismo, Lewis Hamilton é criticado por jogar champanhe em uma assistente indefesa”, publicou o jornal em sua manchete. “Foi egoísta e desrespeitoso”, criticou em declarações ao jornal Roz Hardie, diretora da Object, uma campanha contra o machismo na imprensa e a cultura da mulher objeto. “É uma posição muito incômoda para a jovem, pois não lhe resta outra opção a não ser aguentar”, disse.
Os internautas chineses também começaram rapidamente a criticar Hamilton. “Outro exemplo de um estrangeiro que acredita ter o direito de fazer o que quiser com nossas mulheres”, disparou um usuário com o pseudônimo de Sean no Weibo, o Twitter chinês. “Não somente com as chinesas, fez o mesmo com outra garota em Barcelona”, corrigiu uma de suas seguidoras chamada Yan, colocando a imagem que capta o momento em que Hamilton faz a mesma coisa com uma jovem loira após o Grande Prêmio da Catalunha. “A espanhola cobriu o rosto, a nossa deve ter sido treinada no Exército”, continuou a conversa em tom mais espirituoso.
De qualquer forma, uma pergunta predominava: quem é a assistente chinesa? A resposta veio na quinta-feira nas páginas do jornalXangai Daily, que deu nome à jovem: Ela se chama Liu Siying, tem 23 anos, se formou em Artes Visuais em Xangai, trabalha no departamento de Administração de uma imobiliária e, como é fã do piloto finlandês Kimi Raikkonen, compareceu à corrida para “decorar” o pódio e aproveitar para cumprimentá-lo. Apesar da polêmica que causou, assegura que a situação não a incomodou.
“Durou somente um ou dois segundos, e não pensei muito nisso”, disse. “Só me falaram para ficar quieta no pódio e foi o que fiz. Acredito que a imprensa estrangeira é mais sensibilizada sobre o tema do que a chinesa”. Em sua conta no Weibo, Liu também pediu para que o ocorrido não seja exagerado. “Não posso controlar o comportamento de outros enquanto estou trabalhando. Espero que o público não faça com que o incidente afete minha vida pessoal”, escreveu, consciente do poder que 650 milhões de internautas chineses podem exercer quando se enfurecem.
O assunto suscitou um debate recorrente: é necessária a presença de mulheres jovens, geralmente com pouca roupa, acompanhando o ganhador de uma corrida masculina? “Acredito que não”, respondeu taxativa Xu Mei, uma jovem feminista de Xangai. “Mais do que isso, temo ser algo habitual na China também fora do âmbito desportivo. É só ver qualquer reunião política, nas quais quem serve o chá são sempre jovenzinhas vestida com qipao bem justo. O mesmo acontece em quaisquer inaugurações, onde muitas vezes obrigam as assistentes a vestir biquínis ou conjuntos que deixam pouca margem à imaginação”.
Xu, entretanto, aplaude a decisão tomada pela cidade de proibir mulheres com vestidos sensuais no próximo salão do automóvel. “Ocorreram casos nos quais até mesmo os pelos pubianos das modelos podiam ser vistos. As dezenas de homens babando na frente delas enquanto tiram fotos com o celular deixam uma imagem muito ruim, mas são bom exemplo do machismo que reina”, lembra em entrevista por telefone. “No caso de Hamilton, ainda que ele tenha interpretado como uma brincadeira, existe um componente de violência. Deveria pedir desculpas e não voltar a fazê-lo”.
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