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O Diretório de Estudantes (DCE) da Universidade de São Paulo (USP) usou a sua página no Facebook para denunciar que os estupros e abusos sexuais continuam sendo registrados na instituição. Após a CPI dos Trotes da Assembleia Legislativa (Alesp) apontar para 112 possíveis casos na Faculdade de Medicina (FMUSP) nos últimos dez anos, agora as denúncias apontam para a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH).
Segundo nota divulgada pelo DCE da USP, “até agora já são cinco casos cometidos pelo mesmo homem, sendo quatro de abuso e um de estupro”. O comunicado informa ainda que uma das vítimas teria feito um boletim de ocorrência contra o agressor, enquanto as demais mulheres estariam decidindo o que fariam sobre os abusos sofridos. Uma campanha de exposição dos casos, com cartazes, teria ainda sido abafada por funcionários da USP.
“A gestão do DCE apoia as vítimas e propõe medidas de conscientização contra a violência na universidade. O machismo é naturalizado entre os estudantes e é necessário confrontar ferozmente. Casos como esses não podem passar como banalidade, não pode-se deslegitimar os relatos. É preciso que haja mobilização dos estudantes para tornar a EACH um local livre de machismo”, diz a nota.
O coletivo feminista Maria Sem Vergonha divulgou em sua página que os casos vêm sendo denunciados por alunas, as quais estão expostas a um “machismo que está naturalizado no contexto universitário”. O grupo expõe o caso de uma aluna que teve o bumbum fotografado por um estudante sem o seu consentimento, sem deixar de dar detalhes dos cinco casos de abusos aos quais se referiu o DCE.
“Algumas das vítimas vieram até a coletiva e contaram, caso por caso, abusos que sofreram de um mesmo estudante da EACH. O sujeito se mostrava amigo e conquista a confiança das mulheres. As vítimas por muito tempo permaneceram caladas, por acharem que estavam sozinhas, por se culparem e por acharem que aquilo tinha sido um caso isolado. Demoraram pra reconhecer para si mesmas que tinham sofrido abuso sexual por uma pessoa que um dia consideraram amigo”, aponta o coletivo.
Ainda de acordo com o grupo, “os casos de abuso não aconteceram dentro da EACH”, mas sim em “acampamentos universitários e festas em repúblicas”, o que não diminui a responsabilidade da instituição, já que “a convivência dos alunos e alunas acontece principalmente dentro do recinto da escola”. O coletivo ainda disponibiliza um e-mail – coletivamariasemvergonha@gmail.com – para quem queira fazer novas denúncias.
A gravidade da situação fez até com que docentes se mobilizassem. Uma reunião está marcada para a próxima quinta-feira (23), às 18h, no Anfiteatro do 2º andar da FMUSP. O encontro foi convocado pela professora Heloisa Buarque de Almeida, cientista social e antropóloga que dá aulas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
A reportagem do Brasil Post tentou contato com a assessoria de imprensa da EACH, mas ninguém atendeu às ligações. Um e-mail também foi encaminhado ao setor de comunicação, porém não houve retorno até a publicação desta matéria. Tão logo uma resposta seja dada ela será incluída aqui.
Pressão fez aluno da FMUSP ser suspenso por estupros
No último dia 8 de abril, um estudante da FMUSP foi suspenso pela universidade. Ele respondeu a uma sindicância acerca de três estupros contra alunas da faculdade. A diretoria da instituição acolheu relatório da comissão processante que avaliava o caso, denunciado em três momentos pelas alunas, e o suspendeu por 180 dias em razão de “infrações disciplinares”. Assim, ele ficou impedido de participar da colação de grau, que ocorreu no dia 14 deste mês.
A suspensão do estudante aconteceu depois de ativistas entregarem ao diretor da FMUSP, José Otávio Costa Auler Junior, uma carta em repúdio à falta de punição nos casos de violência sexual na instituição. As denúncias contra o aluno já existiam, mas a sindicância só foi reaberta depois de a USP ter sido o principal alvo da CPI que apurou os casos de violência nas universidades paulistas, realizada na Alesp. O aluno acusado chegou a ser convocado a participar de uma das audiências da CPI, mas não compareceu.
O relatório final da CPI, entregue em março, chegou a propor até a proibição de qualquer aluno punido em sindicâncias de participar de concursos públicos. Uma estudante do 3º ano de Medicina, colega de uma das vítimas, disse estar decepcionada com o resultado. “Acho que o fato de eles terem dado uma punição significa que assumem que ele é culpado. Acho pouco. Uma vez uma aluna foi pega fazendo prova para outra a suspenderam por um ano. Ele é acusado de estupro e suspendem por seis meses?”, disse a estudante, que pediu para não ser identificada. “Ele vai colar grau daqui a seis meses”, completou.
(Com Estadão Conteúdo)
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