Biografia de William Moulton Marston conta como ele, um feminista, projetou na personagem suas próprias experiências
RAFAEL CISCATI
17/04/2015
CRIATURA E CRIADOR
A Mulher-Maravilha e seu criador, William Moulton Marston. O autor gostava de amarração erótica (Foto: Divulgação) |
"Nem as mulheres querem ser mulheres”, escreveu o psicólogo americano William Moulton Marston, aos 48 anos, a Max Gaines, um editor de histórias em quadrinhos, no início dos anos 1940. Marston esperara chegar à meia-idade para escrever gibis. E estava cansado das personagens femininas fracas. Queria criar uma “super-mulher”. Em dezembro de 1941, publicou a primeira história da Mulher-Maravilha, um dos personagens de quadrinhos de maior sucesso da história. Ela tinha força sobre-humana e uma origem envolta em mistérios, em mais de um sentido. Nos quadrinhos, a Mulher-Maravilha vem de uma ilha onde mulheres vivem isoladas. Na vida real, a origem da personagem envolve feminismo, amarração erótica e uma relação a três.
Quando a criou, Marston tinha quatro filhos e duas mulheres, ambas cultas e independentes. O trio vivia sob o mesmo teto, numa relação consensual. “Marston e sua família eram mestres na arte de dissimular”, afirma a historiadora americana Jill Lepore, pesquisadora na Universidade Harvard. Ela é autora do livro The secret history of Wonder Woman (A história secreta da Mulher Maravilha, prevista para chegar ao Brasil em 2016 pela Editora Record). No livro, uma biografia mista de Marston e da personagem, Jill reconta as circunstâncias da criação da Mulher-Maravilha. Defende que ela é fruto do movimento feminista que explodiu nos Estados Unidos nas décadas de 1910 e 1920. E diz que Marston não precisou procurar muito ao buscar inspiração para criar a personagem: usou como referência as mulheres com quem vivia, suas predileções sexuais e intelectuais.
Marston era psicólogo e ficara famoso como inventor do detector de mentiras (ele também deu a sua personagem um laço mágico, que obriga o laçado a dizer a verdade). Era apaixonado desde a adolescência por Sadie Holloway, com quem se casou. Eram intelectuais progressistas. Ele defendera o direito feminino ao voto. Ela, advogada, brigara com os pais para estudar e trabalhava fora. Na gíria do início do século XX, Sadie era uma “amazona”. Uma mulher rebelde. Jill descobriu que os Marstons eram ainda mais libertários do que aparentavam. “Eles eram adeptos de uma sexualidade radical”, diz Jill. Em 1925, Marston dava aula de psicologia na Universidade Tufts quando se apaixonou por Olive Byrne, uma de suas alunas, que também trabalhava fora. Olive foi morar com o casal e passou a ser apresentada à sociedade como governanta da casa. Marston teve dois filhos com cada uma. Nas palavras de Sadie, os três criaram “um lar com amor para todos”.
A terceira mulher da história surgiu na vida de Marston por encomenda da DC Comics. Os grandes sucessos da editora, Super-Homem e Batman, despertavam a desconfiança dos pais, que julgavam seu conteúdo violento. Marston dera uma entrevista defendendo os gibis. Procurado pela DC para integrar seu conselho editorial, o psicólogo propôs criar uma heroína. Os editores concordaram. Surgiu Diana, a princesa das amazonas, nascida numa ilha mística. Sob o nome de Mulher-Maravilha, ela vai para os Estados Unidos lutar em favor da “liberdade, da democracia e das mulheres”. Ela salvava seu amado de enrascadas, dizia que não se casaria até “o mal desaparecer da face da Terra” e advogava a independência feminina.
SÉCULO XXI A atriz israelense Gal Gadot, que interpretará a Mulher-Maravilha no cinema (Foto: Divulgação) |
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