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terça-feira, 21 de abril de 2015

Problemas do Território Virtu@l

Pedro R. Satiro

Matemático e Professor Orientador de Informática Educativa / Tecnologias para Aprendizagem

SOBRE O TRABALHO

A ideia do projeto surgiu em uma das primeiras aulas de Informática Educativa do ano de 2014 do 9º ano D. Quando entrei na sala para iniciar uma discussão sobre o Trabalho Colaborativo de Autoria, percebi que alguns alunos estavam comentando sobre uma briga que estava prestes a acontecer entre duas jovens, que se ofendiam publicamente no Facebook. Com os celulares nas mãos, eles acompanhavam uma discussão online, onde os comentários, além do conteúdo ofensivo, apresentavam provocações e ameaças.

No primeiro momento, fiquei preocupado e quis orientar os alunos sobre esse tipo de exposição online, e os problemas que podem surgir quando não tomamos cuidado com aquilo que publicamos na Internet. Mas nenhuma fala minha ia fazer com que eles parassem de acompanhar as publicações. Foi então que começaram os comentários: “Nossa, essas crianças de hoje em dia... Nem parece que essa ‘mina’ tem só 9 anos”. A fala do aluno Gustavo calou a turma. Curioso, perguntei: “São crianças da escola que estão brigando via Facebook?”. A resposta afirmativa do aluno Gustavo me surpreendeu ainda mais quando ele disse que eram duas alunas do 4º ano que estavam se expondo dessa forma, e que não era a primeira vez.

Começamos, então, a conversar sobre o assunto, e eles informaram que essas situações eram mais comuns do que eu pensava. Segundo eles, muitas confusões que aconteciam dentro da escola tinham início em algum perfil de rede social, principalmente no Facebook, no Ask.fm e no Twitter. Perguntei para eles o porquê disso tudo. Por que as pessoas usam uma ferramenta tão bacana para fins tão destrutivos? Os responsáveis de vocês acompanham suas publicações? O que vocês costumam ver nas redes sociais que vocês não acham certo? No final da aula, percebi que talvez este pudesse ser um caminho para o desenvolvimento dos TCA, afinal de contas, tínhamos um problema, e precisávamos fazer alguma coisa.

Na aula seguinte, perguntei para os jovens do 9º ano D, o que eles pensavam sobre usar o tema “Segurança na Internet” para o TCA deles, recorrendo ao problema que observamos na aula anterior. Eles se mostraram empolgados, mas as dúvidas eram maiores do que a empolgação. Perguntei o que poderia ser feito para resolver esse problema das confusões dentro da escola, pelo menos. Os jovens do 9º ano sacaram que seria interessante que eles dessem dicas às crianças da escola sobre o bom uso das redes sociais. A aceitação foi quase imediata.

O que me surpreendeu neste processo de escolha de tema é que, de alguma forma, os outros alunos das turmas de 9º ano também estavam interessados nesse assunto. Alguns alunos do 9º ano B, por exemplo, falaram que seria mais fácil fazer um trabalho sobre Internet, porque era um assunto que eles conheciam muita coisa... Iniciei, então, as orientações de pesquisa com as cinco turmas de 9º ano. Neste processo de orientação, contei com a parceria dos professores coordenadores, Pascoalina, Sandra, Francisco, Luzia e Elizabeth, que tinham o papel de esclarecer as dúvidas dos alunos e opinar sobre suas ideias. O registro das discussões foi realizado no ambiente colaborativo Edmodo, a partir de três provocações, que direcionaram os alunos às diversas possibilidades de projeto.

ETAPAS DE ELABORAÇÃO

1ª ETAPA - DISCUSSÃO, PESQUISA E PUBLICAÇÃO DE INFORMAÇÕES PARA MELHORIA DE IDEIAS

1ª provocação - Expondo uma preocupação: O que pode existir de tão perigoso nas redes sociais para haver uma restrição de idade?

O primeiro fórum de discussão tinha como objetivo apresentar as opiniões e vivências que nossos jovens tinham sobre o uso das redes sociais. As respostas publicadas evidenciam que alguns sequer tinham conhecimento sobre os Termos de Uso do Facebook, uma entre as principais usadas pelos alunos da escola. Chama a atenção nas discussões, o início do compartilhamento de informações no fórum. Os alunos começam a perceber, a partir de suas pesquisas, que existem outros problemas, além das ofensas diagnosticadas no problema inicial, e a entender a origem das restrições.

"Toda rede social tem seus termos de uso, inclusive o Facebook, mas quase ninguém os lê, eu, por exemplo, nunca li. Segundo as regras da maioria dessas redes sociais, apenas pessoas com 13 anos ou mais podem se cadastrar. Mas infelizmente, é muito fácil burlar essa lei. (E sim, é uma lei, seu nome é COPPA, e está em vigor desde 1998; É uma lei americana, mas vale para qualquer país). E para ter acesso a qualquer rede, basta mentir sua idade. Por exemplo: Você nasceu em 05/07/2003, para ingressar e usar a ferramenta basta mudar de 2003 para 2000. Mas ao fazer isso, você assume riscos, a internet é lugar lindo e maravilhoso, quando se sabe usar. Aceitar estranhos, marcar encontros, se expor para alguém é algo que pode acontecer com qualquer um, inclusive contigo. Você sempre estará exposto a riscos caso não saiba se comportar na internet." (Gabriel – 9º ano B).

"Não, eu não cheguei a ler os termos de uso e isso foi um erro da minha parte. Porém, quando me cadastrei eu já tinha 13 anos, mas creio que não só eu, mas muitos outros jovens e crianças deveriam estar mais atentos a essa questão, pois ao desrespeitar uma regra estamos consequentemente dispostos a arcar com as consequências. Sim, recebemos a devida orientação durante as aulas de informática abordando essa questão, porém, antes eu não tinha consciência disso e, ao ser alertada pelo professor, eu pude abrir os olhos e enxergar o quão perigoso pode ser a rede social se não tivermos cuidado. Não, muitas crianças devido a curiosidade ou até mesmo por autoafirmação acabam por criar um Facebook, ou uma outra rede social e muitas vezes ao não prestar atenção podem deixar coisas bastante importantes passarem. As crianças mentem sua idade, algo muito errado. Além de ser um crime. Creio que os pais e a sociedade devem ficar atentos e ajudar a criança a navegar com segurança e se prevenir. Porém em alguns casos os pais até alertam e a criança tem ciência disso, mas algumas vezes acabam por não se importarem. Ao criar uma rede social estamos assumindo responsabilidade, e o fato de haver restrições servem para nos proteger de perigos como: Ciberbullying, roubos de informações, sexting, falsidade ideológica, entre outros. Por isso devemos ficar sempre alertas e contríbuir para uma navegação e um espaço na internet cada vez melhor e mais seguro!" (Luana – 9º ano D).

Neste fórum, meus feedbacks foram individualizados, para valorizar a ideia apresentada pelo aluno, estimulando a escrita de autoria e situando a sua contribuição na discussão do grupo. Este momento também foi oportuno para apresentar vídeos, leituras de fontes confiáveis e outras mídias para ampliação do repertório dos alunos.

2ª provocação - Qual é o papel da família, da escola e da comunidade na orientação de crianças e jovens para o uso consciente da Internet?

Na segunda discussão, os alunos foram convidados a refletir sobre as responsabilidades da sociedade na orientação e no acompanhamento de crianças e jovens para o uso consciente da Internet. Os comentários dos alunos evidenciam que, ao pensar nessas responsabilidades, eles intuitivamente caminharam sobre diversas ideias de intervenção.

“A maioria das crianças utiliza o Facebook por questões de achar que é "algo que não apresenta perigos, e que se apresentar serão perigos bestas", além do Facebook, outro exemplo, são os jogos online, que até quando se há idade suficiente, você pode acabar se deixando levar pelo jogo ou mesmo pelos jogadores, se expondo a riscos e perda da vida social, o papel da família de prevenir e educar, acaba muitas vezes chegando tarde, e então eles acabam "não ligando" para os cuidados citados pelos pais e pode até alienar aqueles contra sua opinião, o correto seria educa-los antes de que eles conheçam a tal "máquina"(computador), hoje infelizmente esta é a realidade, pois sem esta educação a criança se expõe a situações constrangedoras, a bandidos e até ao vício, Bill Gates (o criador da Microsoft), por exemplo, educava seus filhos a não ficar mais de 30 min. na internet, o que falado para um jovem (hoje) seria um "absurdo", mas então como "educar" o uso do computador? Simples, mostramos as coisas legais (e boas) da internet e seus perigos, para que possam usar este "poder" a favor delas, e também controlar o tempo de uso desde cedo, sem esquecer de estimular as brincadeiras e atividades físicas, pois as brincadeiras tradicionais são as melhores =D” (Vinícius Meneses – 9º ano B)

“A família tem grande papel na vida de uma criança, portanto devem impor certas regras quanto ao uso da internet; evitando que elas corram perigo e o uso excessivo. A escola limita-se a orientar as crianças de longe, não estando presente enquanto elas utilizam a internet. Assim como a escola, a comunidade deve precaver as crianças sobre os perigos presentes na internet. Com orientação e a devida atenção é menos propenso à criança correr riscos on-line.” (Natália – 9º ano C)

“A família deveria estar presente durante o período em que a criança acessa o mundo virtual, mostrando a ela meios seguros de como utilizar a internet, mostrando o lado bom e ruim para que ela saiba onde está entrando. A escola pode dar algumas orientações como: palestras, peças teatrais ou outros meios de comunicações mais fáceis para um melhor entendimento da parte das crianças. A comunidade pode prover feiras de orientação.” (Monique – 9º ano A)

“Na minha opinião, poderíamos organizar palestras sobre o assunto em questão. A escola poderia ajudar fazendo enquetes, conversas e páginas de orientação com os alunos. Os pais também poderiam ajudar conversando com seus filhos e outros responsáveis lhes perguntando se eles estão cientes do perigo. A família deve apoiar e fiscalizar sempre, pois se não apoiarmos, e se não ajudarmos, o jovem ou criança pode acabar fazendo alguma coisa grave.” (David – 9º ano D)

“A família, sempre, deve estar presente na vida da criança ou do adolescente, e deve alertar sobre os perigos, tantos na vida real ou virtual. A escola e a comunidade pode alertar por meios de: teatros, dinâmicas, brincadeiras para as crianças. Já para os adolescentes a escola pode apresentar: Palestras com videos, documentários com crianças e adolescentes que já sofreram com isso, e pequenos filmes sobre o assunto.” (Esther – 9º ano E)

“A família tem a obrigação de orientar suas crianças dos perigos que existem na internet. É importante que os pais verifiquem sempre o que as crianças fazem na rede social e com quem se relacionam. É fundamental que os pais sejam realmente presentes na vida de seus filhos para que eles se sintam - e realmente estejam - seguros ao brincar na internet. O papel da escola é tão importante quanto o da família. A comunidade pode, sim, ajudar. Como? Conscientizando a população, o máximo possível. Se todos trabalharem juntos, as chances desses filhos sofrerem os crimes virtuais provavelmente diminuirão.” (Ingrid – 9º ano C)

“A escola pode contribuir com palestras ou até trazendo alguém que já passou por algum tipo de violência online para que as crianças tenham uma noção maior dos riscos que a internet pode ter. A família tem que fiscalizar ou até mesmo instalar um programa de proteção para prevenir, pelo menos um pouco a violência virtual. A comunidade poderia contribuir com atividades para as crianças terem (além da internet) terem mais opções de diversão.” (Jhenyfer – 9º ano D)

“Muitas crianças utilizam a internet de modo inadequado, podendo estar sujeitos a cair nas mãos de pessoas mal intencionadas. Elas entram em sites que muitas vezes são inapropriados para sua idade, como páginas de relacionamento, bate-papo etc. A obrigação dos pais ou responsáveis é fiscalizar o que seu filho faz na internet. Hoje em dia existem programas que permitem o responsável bloquear certas páginas inapropriadas para o menor. Nas escolas, por exemplo, são bloqueados páginas tais como redes sociais, páginas de jogos etc. Em casa talvez não seja necessário isso, mas no mínimo que as crianças sejam orientadas e acompanhadas.”
(Aline – 9º ano D)

“Os pais dessas crianças que usam redes sociais devem ao menos supervisioná-las, controlar o tempo de uso ou a opção mais prática e eficiente: orientar as crianças sobre os perigos e cuidados que devem ter. Mas existem muitos pais que negligenciam e são completamente indiferentes a isso. A escola pode fazer o papel de segundos pais ou até mesmo primeiros, caso os pais dessas crianças forem negligentes como eu citei acima. A comunidade pode reforçar essas orientações com algumas propagandas, pequenos vídeos ou qualquer coisa que seja alternativa, dinâmica e de fácil entendimento para crianças. Não é necessária a proibição de redes sociais para crianças, até porque a restrição de idade é burlada por inúmeras pessoas.” (Mateus Rodrigues – 9º ano B)

Meus feedbacks, também individualizados, valorizam as ideias que apontam o diálogo, a orientação e a educação, como formas de prevenção dos riscos, no lugar da proibição, que pode ser facilmente ignorada.

3ª provocação - Você acha que ações sociais como o "Dia da Internet Segura" e o Helpline são importantes nos dias de hoje? Por quê?

Para a última discussão, apresentei aos alunos duas ações sociais em prol do uso consciente da Internet, ambas organizadas pela ONG SaferNet Brasil: O “Dia da Internet Segura” e o Help Line, um canal de ajuda gratuito que conta com uma equipe de psicólogos especializados em violência online. A pergunta disparadora desta discussão tem o objetivo de verificar qual é a importância que os alunos dão para estas ações. Afinal de contas, só se engaja em um projeto aquele que acredita em seus ideais e objetivos.

“Os sites sociais para orientar e ajudar os adolescentes é uma ação muito importante nos dias de hoje, principalmente aqui no Brasil, que, as pessoas em sua grande maioria vivem no mundo da internet, um mundo virtual, e cheio de perigos constantes, e que, muitas pessoas já vivenciaram. O site serve para ajudar pessoas assim, e o pior é que esses sites não são divulgados, apesar da sua importância.” (Monique – 9º ano E).

“O Help Line é um site fundamental na orientação de possíveis vítimas de casos de ciberbullying, ou algum outro tipo de situação... Em muitos casos, a vítima não possui outro recurso e em muitos casos sentem-se amedrontadas. Por isso o Help Line é um site muito bom para ajudar a todos aqueles que já passaram por alguma situação desagradável na internet.” (Gustavo – 9º ano D).

"Sim, acredito que o trabalho exercido pelo site Help Line seja uma maneira prática e eficiente nos dias de hoje para ajudar e orientar jovens que estejam passando por algum problema pela internet. Ou em alguns casos até mesmo, por que não? na vida real. Também acho que mesmo aqueles que não tenham muito contato com essa "rede de perigos" que é a internet hoje em dia, pode estar exposto de alguma forma aos problemas oferecidos por ela através da influência de algum colega/amigo ou até mesmo parente. O Help Line é uma espécie de ajuda on-line somente. Ainda há outras maneiras de enfrentar esse problema! Como por exemplo, a ajuda de psicólogos, o acompanhamento da criança/jovem, ou ajuda dos pais e/ou responsáveis podem ser muito úteis também. Temos que nos lembrar de que nem tudo pode ser resolvido através de um computador, e por mais importante que seja o trabalho do Help Line ele não é a única maneira de se "auto-ajudar" . Na minha opinião, temos que enfrentar o problema de uma só vez, enfrentá-lo de cara. Mas é válido lembrar que nem sempre os jovens e crianças se sentem à vontade para falar sobre isso pessoalmente, para se expor dessa forma... Por isso podem recorrer sempre a sites como o Help Line para ajudá-los de alguma forma.” (Luana – 9º ano D).

AVALIAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

A 1ª etapa do projeto foi marcada pela conexão das ideias iniciais dos alunos, e a melhoria do debate com as informações trazidas de suas leituras e pesquisas. Para avaliar essa conexão, propus que os alunos refletissem sobre a atuação neste processo de construção do projeto. A rubrica de avaliação disponível neste link, foi o instrumento utilizado para ajudá-los a refletir e procurar avançar.

PRIMEIRAS CONCLUSÕES

Meu feedback após as primeiras discussões organiza as ideias publicadas nos três fóruns de discussão, e dá as direções necessárias para as próximas etapas do projeto.

"O que cada fórum acrescentou à sua mochila de ideias?

Fórum Piloto - As preocupações já estavam na sua mochila! Você apenas a colocou nas costas, e, de repente, sentiu o peso... Nós somos usuários de internet, e sabemos muitas coisas sobre o mundo virtual. Quem lê os termos de uso? Quase ninguém... E a quantos riscos estamos expostos diariamente se não tomamos cuidado? A contribuição de cada um de vocês abordou diferentes pontos de vista sobre uma mesma questão: alguns escreveram sobre as leis, outros focaram nos problemas, outros ainda apresentaram exemplos de nossos hábitos online, todos se posicionando criticamente frente ao questionamento inicial. A vivência que vocês têm de usuário permitiu um olhar minucioso sobre estas questões. E desse olhar, surgem os diferentes temas para sua escolha: privacidade online, cyberbullying, sexting, aliciamento sexual e pornografia infantil, crimes virtuais (questão legal), conteúdo impróprio, política do uso de dados, crackers, hackers, Marco Civil da Internet, uso excessivo, fakes, termos de uso, casos de homofobia, xenofobia e nazismo, novos aplicativos, e por aí vai. Está tudo lá, na discussão inicial, juntinho com várias fontes confiáveis para dar prosseguimento a sua pesquisa!

Fórum 2 - A partir da provocação, vocês elencaram diversas possibilidades de intervenção social. E o mais legal é pensar que todas elas são possíveis de se realizar a curto / médio prazo. Se você ainda acha que não sabe por onde começar, leia as publicações deste fórum! Exemplos é o que não falta...

Fórum 3 - Ninguém se engaja num projeto de intervenção social se não percebe a importância dele. O trabalho desenvolvido pelo canal Helpline é sensacional, e vocês percebem como ele é necessário nos dias de hoje. Quantas ações preventivas poderiam ser realizadas na tentativa de reduzir os casos de violência online? O que nós estamos esperando?

 Trilhado este caminho, coloco as ideias nas mãos dos verdadeiros protagonistas!"

2ª ETAPA - LEITURA DOS FÓRUNS DE DISCUSSÃO, MONTAGEM DOS GRUPOS DE TRABALHO E DECISÕES COLETIVAS

Após a leitura das primeiras conclusões, os alunos iniciaram uma etapa de construção com os professores orientadores de suas turmas. Pascoalina, Sandra, Francisco, Luzia e Elizabeth tiveram um papel fundamental na organização dos nossos jovens em grupos de trabalhos, na provocação das ideias e dos planos que eles já haviam construído para intervir na escola. Nesta etapa do trabalho, os alunos se envolveram em discussões para decidir qual tema abordar na conversa com as crianças, e como abordá-lo de forma adequada e criativa. Surgiram inúmeras ideias... Foram inúmeras também as mudanças de ideias que eles tinham no caminhar da produção, que contou com a ajuda espetacular da professora Flávia, de Artes. Vi rascunhos de cartazes para mural, palestras com PowerPoint, teatros, paródias, histórias que seriam contadas, roteiros de curtas e animações interativas, planejamento de gincanas, tabuleiros e outros jogos. A escola ganhou um movimento impressionante! Não houve sequer um aluno do 9º ano que não estivesse envolvido em algum trabalho. A postura deles realmente muda quando eles tomam a frente, quando passam a ser os autores...

3ª ETAPA - CRIANDO PROTÓTIPOS E O PRODUTO FINAL

Tentei mostrar para os alunos que, quando planejamos uma ação e pensamos em produtos criativos para sua concretização, é necessário a criação de esquemas e modelos, antes de partir para a arte final. O esquema (que chamei de protótipo) é o rascunho, que está aberto para revisões, correções, sugestões e melhorias. Um grupo que me chamou muita atenção nesta fase do projeto foi o do Murilo (9º ano C). Tive a oportunidade de registrar os momentos em que os jovens trabalhavam para tornar melhor o seu produto final.

O grupo se reúne para realizar as colagens finais, após a organização.
A divisão de tarefas garante que nenhum integrante fique sobrecarregado.
O grupo mostra, enfim, o resultado de seu trabalho.
O planejamento e a organização das informações no espaço destinado ao mural dá outra cara ao trabalho.
Etapas na produção do mural sobre uso excessivo da tecnologia
Primeiro, os meninos deixaram o mural sair do campo das ideias, experimentando na criação.
A primeira produção (protótipo) é simples e sem acabamentos. Serve apenas para dar visão do produto final.
Em seguida, eles selecionam o conteúdo que será divulgado no mural, pensando numa mensagem não muito extensa.
O rascunho do produto melhorado já contém as informações selecionadas na pesquisa.
Os materiais já estão separados. Os meninos, com a ajuda do professor orientador, realizam medições para organização e melhoria estética do trabalho.
Os arquivos da pesquisa são impressos e os recortes são realizados. Neste momento, a posição dos textos e das imagens são experimentadas e revistas.

FOTOS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DOS TRABALHOS

Que tal participar de um jogo de trilha?
Turmas em processo criativo no Laboratório de Informática
Bruno confeccionando o mural de fotos
O mural surgiu de uma pergunta que ele fez em seu perfil do Facebook
Acabou a energia do mundo... O que você faz de legal sem tecnologia? O mural mostra a resposta dos amigos de Bruno
O grupo da Beatriz resolveu fazer uma pesquisa de campo com os alunos da escola
Na conversa inicial, eles se apresentam e explicam às crianças a pesquisa
O formulário da pesquisa foi construído no Google Docs...
Eles orientam as crianças e jovens que participaram no preenchimento do formulário de pesquisa.
Observam atentos para esclarecer dúvidas que aparecem...
O grupo explica a proposta para a professora Cláudia, e pede autorização para que os jovens daquela turma participem do trabalho.
No Laboratório, uma nova turma procede o preenchimento do formulário.
Depois da participação dos alunos, João e Carolina analisam os dados tabulados da pesquisa.
E realizam o planejamento para a confecção de um mural com os resultados.
Pensaram em uma forma de divulgação simples para a comunidade escolar...
A partir do rascunho, Bruna e João iniciam a confecção do mural com as informações.
As partes do mural ilustrado trazem os números da pesquisa...
Os dados representam o perfil de usuário dos alunos participantes.
Indicadores de risco - mais um produto de intervenção social  da EMEF Madre Maria Imilda do Santíssimo Sacramento.
Produção em parceria - resultado garantido!
O grupo da Cibele organizou uma expedição para apresentação dos riscos...
A sala de Artes foi aos poucos sendo transformada no cenário...
Cartazes e muitos detalhes fazem parte da decoração projetada pelo grupo.
Acertando os últimos detalhes, na véspera da apresentação.
Cibele, preparando um dos ambientes da apresentação.
Como seriam os perigos da Internet se eles fossem personificados...
Segundo o grupo, eles se pareceriam com monstros...
Os jovens preparam uma receita de maquiagem sugerida pela professora Sandra, e abusaram da criatividade.
Os cartazes foram refeitos pelo menos umas três vezes, até que o grupo ficou satisfeito com o resultado.
Meninos ajudando a escurecer o espaço... Sombrio, não? É para dar medo! Os perigos da Internet não são brincadeira!
Todo mundo ajuda...
Até os monstros ajudam!
Informações importantes... Um bom mural é direto ao mandar a mensagem!
Uso excessivo da Internet
Cyberbullying
Aliciamento sexual de menores pela Internet
Que tal participar de um jogo de trilha?
O grupo do Gabriel criou 5 tabuleiros para as crianças jogar... e aprender!
Os grupos jogaram, e jogaram, testaram seus protótipos antes da construção...
Os resultados são dignos de grandes criadores de brinquedos infanto-juvenis
O grupo da Gabrielly resolveu fazer uma paródia da música Happy, do Pharrel Williams. Gravaram o áudio no Laboratório de Informática usando o Audacity e um head phone.
Além da música, um videoclipe de fotografias com a letra da música.
A edição do videoclipe da paródia foi realizada no Laboratório de Informática no Windows Movie Maker!
O grupo da Iara criou um fluxograma para explicar o Cyberbullying.
O trabalho passou por duas revisões...
E ficou bem legal no final!
O grupo da Stephanie criou uma atividade de contação de história...
A Sabrina teve uma fala bem curta mas importante na história!
Para o João, sobrou ser o monstro da trama...
Enquanto andavam pelo corredor, as crianças ouviam a história e eram surpreendidas por surpresas no caminho...
Até a Maria Lorenna, que nem era do grupo, entrou no clima para ajudar. Isso sim é colaboração!
O corredor, antes de ser escurecido para a apresentação.
Organização do grupo. A expectativa das crianças estava grande!
No laboratório de Informática, o grupo do Luís convida a professora Luzia para gravar o áudio de uma fotonovela...
Eles criaram a história, tiraram as fotos necessárias, e usaram-nas na montagem de um videoclipe.
A ideia era contar a história no vídeo mesmo.
Windows Movie Maker e Audacity foram os softwares utilizados pelo grupo.
O grupo do Mateus resolveu falar de vários problemas, e criou várias coisas...
O grupo, enquanto confeccionava o mural Cyberbullying...
Demorou, mas saiu...
Também prepararam uma apresentação em PowerPoint no Laboratório de Informática.
Grupo da Monique editando o curta intitulado Sexting.
Quer jogar em um tabuleiro humano?
Aqui você é o peão... Se não tomar cuidado ao usar a Internet, você volta ao início!
Ideia do grupo da Sarah. Ilustrações feitas pelo grupo do Carlos. Parceria produtiva!
Ficou bem legal...
Mas deu muito trabalho para as meninas...
Principalmente nas adequações ortográficas!
No fim, ficamos muito satisfeitos com o resultado!
O grupo do Wallace criou um funk que virou viral na escola...
O clipe, inspirado no vídeo da Amanda Todd, foi realizado no estilo stop motion...
Grupo do Rafael, construindo seu mural sobre Privacidade na Internet.

OUTROS PRODUTOS CRIATIVOS

Como mencionei, este trabalho deu origem à diversos produtos criativos. Postarei aqui apenas os que foram produzidos com o uso de tecnologia.

4ª ETAPA - MANDANDO UM RECADO ÀS CRIANÇAS: APRESENTAÇÃO DOS TRABALHOS

Com os seus produtos criativos concretizados, nossos jovens foram desafiados a compartilhar o que haviam aprendido com os demais alunos da escola. Voltamos a conversar sobre os objetivos do projeto, que iniciou com um problema por eles constatado. Todo o caminho percorrido tinha uma intencionalidade: informar e alertar as crianças da escola sobre os problemas que existem quando não usamos as redes sociais e a Internet com responsabilidade. Reunidos com seus orientadores, eles ajudaram a decidir e a organizar os espaços da escola para as apresentações.

A “Semana da Criança”, em outubro, na EMEF Madre Maria Imilda do Santíssimo Sacramento, foi marcada pela interação de nossos jovens com os alunos do 4º, 5º e 7º ano, que foram convidados a participar das atividades organizadas: palestras informativas, sessões de curtas metragens, apresentações musicais, gincanas na quadra, sala de jogos de tabuleiro e jogo da memória, mostra de murais informativos, peça teatral e contação de histórias na sala de Leitura e em outros espaços decorados especialmente para que nossos alunos mais novos entrassem no clima.

Vi, nos bastidores, a ansiedade e o nervosismo dos nossos jovens nos momentos que precediam suas apresentações. Mas quando iniciaram, percebi que aos poucos a insegurança dava lugar ao encantamento pela atividade. A desenvoltura de muitos grupos impressionou a mim e aos outros professores, coordenação e também à nossa diretora Jane Rodrigueiro, que participou de muitas apresentações. Conseguimos envolver grande parte da escola nas atividades. A galeria de imagens a seguir mostra o registro fotográfico que os alunos realizaram de alguns momentos das atividades.

Outras apresentações foram feitas também para a comunidade, no "Dia da Família na Escola". A inciativa dos nossos jovens foi uma oportunidade muito legal para um aprender com o outro e construir novas amizades. Registrei um momento de carinho entre os alunos após o encerramento de uma das oficinas, que surpreendeu Gabriel, um dos jovens protagonistas. Uma pequena evidência de que a relação com o outro é muito importante no processo de aprendizagem.

O projeto teve uma repercussão muito grande dentro da escola, e não existe avaliação maior do que a dos nossos meninos e meninas. O nosso recado foi dado e o feedback das crianças "saiu do meu controle"!


Uma aprovação dessas não tem preço! Também não tem preço o reconhecimento do trabalho pela Direção da escola...

ETAPA FINAL - AVALIAÇÃO DOS PROJETOS

Para a conclusão dos trabalhos, a professora Sandra orientou nossos jovens na produção de textos do gênero "Relato". Achei a proposta muito interessante, pois, quando escrevemos sobre o nosso caminhar, realizamos também uma reflexão sobre tudo o que aconteceu, e percebemos o quanto crescemos nesse processo. A autoavaliação, que nasce dessa reflexão para escrita do relato, foi o instrumento que adotamos para avaliação final do projeto.

O começo, as conversas e a pesquisa

Tudo começou em fevereiro de 2014, quando os professores e nossa coordenadora falaram que tínhamos trabalho a mais e isso estava relacionado a nossa conclusão de curso; Bom este ano nós pudemos ter uma noção de como é estar a frente de uma sala, como líder. Logo no mesmo dia não tivemos tantos problemas porque o grupo já estava definido. Então ficamos mais calmos, logo na outra semana fomos para a casa do Ícaro discutir as ideias. No início, éramos em 8: Monique, Ícaro, Guilherme, Igor, Juan, Bruna, Victoria e Eduarda; Mesmo com tantas pessoas os problemas apareceram; Por exemplo, não tínhamos uma pessoas para ser o nosso protagonista, quando estávamos quase desistindo um novo integrante, o Lucas, chegou e então conseguimos gravar nosso curta metragem; pois dominávamos as ferramentas, e então o tema escolhido foi “Aliciamento Infantil”. Com tudo pronto (roteiro), mas nada feito, partimos para montagem e filmagem. Havia muito a fazer… Começamos a montagem do curta…

A decisão do grupo

Inicialmente, a decisão do grupo era fazer uma intervenção sobre “cyberbullying”, pois era o tema que fazia parte do cotidiano das crianças; Porém, depois de discutirmos, chegamos á conclusão de que o tema “Aliciamento Infantil” seria o ideal. Nossa ideia até o final foi crescendo. O produto final foi abrangendo o Aliciamento e inconscientemente também incluindo o “Uso excessivo”.

O trabalho em equipe

Após decidirmos o tema, o tema o papel de cada um e todas as outras coisas necessárias para realizarmos o trabalho, ai sim começou a ficar legal, o projeto começou a ganhar forma. Tivermos um grupo excelente e super colaborativo, por isso tivermos muitas discussões saudáveis para chegarmos até uma decisão final para que todos tivessem ”felizes” na decisão. Adoramos realizar as gravações, e a todo instante colocávamos novos ingredientes. Nosso curta se passava na escola e o professor envolvido possuía as características dos nossos professores. É claro que fizemos caricatura disso, e foi muito divertido.

O que aprendemos

O que aprendemos com esse trabalho foi que não devemos confiar em pessoas que conhecemos pela internet. Aprendemos também a trabalhar em equipe, fazer pesquisas, gravar e editar vídeos e o mais importante apresentações para criança e adultos. A experiência de apresentar um trabalho para as crianças foi como ser um professor, tivemos que manter o controle sobre a situação e montar uma dinâmica rápida para não se tornar algo cansativo.

(Relato produzido pelos alunos Monique, Ícaro, Guilherme, Igor, Juan, Bruna, Victoria, Eduarda e Lucas, sobre a produção do curta metragem "Quem está por trás da tela?")

Além do relato, me empolga lembrar de nossas conversas informais, onde eles sempre se referiam ao trabalho com orgulho. Em uma conversa, via Facebook, Gustavo, aluno do 9º ano B, me mandou mensagens que evidenciam esse aprendizado "além da escola". Ele me autorizou a publicação de parte da conversa.

" (...) O que eu aprendi com esse TCA, vou levar pra minha vida toda..." (Gustavo - 9º ano B)

Foi um trabalho intenso e, em alguns momentos, cansativo, mas repleto de significado. Simplesmente gratificante!

O QUE EU APRENDI COM O TRABALHO

Aprendi tanta coisa com esse trabalho, que daria para escrever um novo relato (risos). Mas acho que o mais importante foi aprender a “perder o controle”, e deixar os alunos a frente de tudo. Foi a partir dessa experiência que percebi que muitas vezes eu não mediava decisões, mas tomava por eles. Muitos trabalhos de qualidade surgiram sem que eu soubesse de tudo o que estava acontecendo, sem que eu desse palpites ou apontasse direções. Falando assim, até parece que eu não acompanhei o processo de construção dos trabalhos. Mas percebi que estar presente desta forma, a todo o momento, travava a criatividade deles. Tive que me afastar um pouco, ser mais observador do que ator, e isso não foi fácil para mim. Fui descobrindo que o meu papel era o de provocar para que eles avaliassem as próprias decisões, fazê-los pensar nas possibilidades. É claro que em alguns grupos houve uma intervenção maior, mas em alguns não houve nenhuma. Eles são capazes de produções extraordinárias! Ver os resultados e a desenvoltura deles nos dá um novo ânimo para driblar os problemas do nosso dia-a-dia na escola.

Pude também aprender a acreditar no trabalho em parceria dentro da escola. Estou certo de que o projeto, que se iniciou nas aulas de Informática Educativa do 9º ano, cresceu de tal forma que, sozinho, eu não teria condições de orientar a todos com qualidade. Meus colegas professores: Sandra (que sempre “mexe no meu queijo” e me inquieta para melhorar minhas práticas), Luzia (parceira de Matemática, que sempre me “coloca no eixo” com sábias palavras, um exemplo pra mim), Flávia (criatividade em pessoa, e "um ombro amigo" para todas as horas), Francisco, Elizabeth e Pascoalina, também foram responsáveis pela concretização de tudo isso, cada um do seu jeito. Também a gestão: nossa diretora Jane Rodrigueiro, que deu liberdade para nossos jovens utilizar os espaços da escola para a produção de seus trabalhos, e apoiou a nossa prática, dando suporte e recursos necessários. E não posso deixar de mencionar as formações que participei na DRE São Miguel, com o pessoal da Fundação Tide Setúbal, e, em especial, com a nossa colega professora Heloísa Ribeiro, responsável pelo setor de Tecnologias para Aprendizagem. Todos me ensinaram muito e participaram de alguma forma nessa prática.

Acho que escola é isso... construção de vínculos, amizades, onde um aprende com o outro!

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