“A parte mais dura é o momento de se dar conta de que está destruída. Uma identidade apagada é uma tortura total", disse vítima
Em dez anos, o número de vítimas de ataques com ácido na Colômbia chega a quase mil, o que a coloca ao lado de Índia e Paquistão como um dos países onde se registram mais agressões deste tipo. O caso mais emblemático e que gerou ampla comoção na sociedade colombiana foi o que vitimou Natalia Ponce de León no ano passado. Um homem com quem ela havia se relacionado a abordou na entrada do prédio onde morava e jogou nela o líquido que deformou completamente rosto, pernas e braços. O ataque foi filmado por câmeras de segurança. “Uma identidade apagada é uma tortura total”, disse León durante a pré-estreia de seu livro em Bogotá, cuja venda será revertida, em parte, para a fundação criada por ela para ajudar outras vítimas desse tipo de crime.
Divulgação/ Twitter
Agressor justificou ação pelo fato de que León não lhe dava atenção
Nesta sexta-feira (17/04), a imprensa colombiana noticia que uma mulher identificada como Ledys M. foi atacada quando voltava do serviço para casa por um homem até o momento não identificado. Ela está completamente sedada e teve queimaduras no rosto, braços e no peito. Em fevereiro, o engenheiro civil Wilson Acevedo Barrios foi condenado a 28 anos de prisão por ter matado, em 2005, a esposa Mireyli Beltrán Ganem com um ácido que queimou 90% do corpo dela. Em janeiro, Huberlando de Jesús Rojas Carreño atacou a ex-companheira Yarlenis Bermejo Mendoza, que teve 50% do corpo queimado e encontra-se em recuperação.
Para ajudar pessoas como Ledys, Mireyli e Yarlenis, Natalia Ponce de León saiu pela primeira vez em público, pouco mais de um ano após o crime. Usando uma máscara transparente, ela concedeu, na noite desta quinta-feira (16/04), uma entrevista coletiva durante o pré-lançamento do livro “El renacimiento de Natalia Ponce de León” (O Renascimento de Natalia Ponce de León, em tradução livre), escrito pela jornalista Martha Soto e que será lançado na XXVIII Feira Internacional do Livro de Bogotá em 25 de abril.
“A parte mais dura é o momento de se dar conta de que está destruída. Ver meu corpo queimado, sem identidade. Uma identidade apagada é uma tortura total. Estive entre a vida e a morte, mas estou aqui”, disse León durante o evento.
Foto mostra jovem antes de agressão:
O livro conta o processo de recuperação e superação da jovem de 33 anos. Parte da arrecadação obtida com a venda será destinada à fundação criada por ela para ajudar outras vítimas do crime que atinge principalmente mulheres na Colômbia.
Apesar do tratamento que recebeu e que a possibilitou passar por 15 cirurgias para restaurar os tecidos de seu corpo, especialmente do rosto, ela aponta que essa não é a realidade no país e por isso criou, há nove dias, uma fundação para atender essas vítimas: “Há nove dias constitui minha fundação, e o objetivo deste sonho é ajudar todas as vítimas dos ataques com ácido para que recebam tudo o que recebi, porque sim, se pode sair disso, mas é preciso ajuda e apoio”.
Twitter/ Divulgação
León pediu o fim da violência contra a mulher
Jonathan Veja Chávez, acusado de ser o autor do ataque contra Natalia foi detido e a promotoria pede pena de 35 anos de prisão. O reconhecimento do autor do crime, no entanto, é a parte mais difícil, apontou Natalia. Ela também criticou as penas a que esses criminosos são submetidos, pediu aumento da punição e ressaltou que a venda de líquidos corrosivos deve ser dificultada.
De acordo com a ONG Feminicido.net, em 2011 a Colômbia foi o país onde foram registrados mais ataques com ácido ou outros líquidos inflamáveis contra mulheres, com 42 casos. De acordo com o Instituto Médico Legal, em 2013 ocorreram 36 ataques com produtos químicos contra homens e mulheres somente em Bogotá.
Diante do aumento de casos como estes, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, rechaçou no ano passado esse tipo de ataque e pediu empenho da polícia na identificação dos criminosos oferecendo, inclusive, recompensa para quem tiver informações sobre os agressores.
Veja o vídeo da agressão:
Nenhum comentário:
Postar um comentário