por Djamila Ribeiro — publicado 23/04/2015
Tyrus Byrd foi eleita prefeita em Parma, EUA e 80% dos policiais se demitiram
Já havia percebido que uma mulher negra empoderada incomoda muita gente, basta perceber os olhares e os comentários de algumas pessoas quando vêem uma que não se curva às exigências de uma sociedade racista e misógina.
Tyrus Byrd foi eleita prefeita em Parma, EUA e 80% dos policiais se demitiram
Já havia percebido que uma mulher negra empoderada incomoda muita gente, basta perceber os olhares e os comentários de algumas pessoas quando vêem uma que não se curva às exigências de uma sociedade racista e misógina.
É muito comum ouvir xingamentos do tipo: “que negra metida”, “essa negra se acha” “quem essa negra pensa que é?” quando saímos do lugar que a sociedade acha que é o nosso. Mas o que aconteceu em Parma, Missouri, nos EUA, foi um exemplo da exacerbação máxima que uma mulher negra no poder pode causar. Muitos pensarão que se trata de notícia falsa, hoax ou matéria de décadas passadas, mas não se enganem.
Tyrus Byrd, uma missionária cristã e escrivã da pequena cidade de aproximadamente 700 habitantes, resolveu se candidatar ao cargo de prefeita. Ela venceu o atual prefeito Randall Ramsey, que ficou 37 anos no poder, por 37 votos (numerólogos, me ajudem). Após ser eleita a primeira mulher negra para o cargo, no dia 14 de abril, diversos servidores públicos como o procurador geral, dois funcionários da estação de tratamento de água e 80% dos policiais (cinco dos seis) pediram demissão alegando “questões de segurança”. Questões de segurança. A desculpa utilizada pelos funcionários me deixou um tanto intrigada. Afinal, o que pode ter de tão assustador e inseguro no fato de uma mulher negra governar a cidade?
Todos os funcionários que se demitiram são homens brancos, será que estamos perto de encontrar uma resposta?
A moradora Martha Miller, em entrevista para um canal local, criticou a atitude dos funcionários: “eu acho que é bem desonesto eles se demitirem sem dar uma chance à nova prefeita”. Concordo com Martha, mas além de desonestidade, diria que a atitude desses funcionários foi racista e machista, mas sei lá, né, a gente sempre vê demais, afinal, racismo e machismo são invenções de feministas loucas e desocupadas.
Tyrus Byrd afirmou que não se preocupará com essas demissões nesse momento, pois tem assuntos mais urgentes para resolver na cidade. Quase um terço dos moradores de Parma vive abaixo da linha da pobreza, em sua maioria negros. Realmente, a nova prefeita tem problemas mais sérios a resolver. Mas também vejo um lado positivo nisso tudo: se uma mulher negra no poder assusta tanto ao ponto de servidores públicos se demitirem é porque se está desnaturalizando o lugar de submissão que foi construído para nós; o incômodo não está mais em nós por julgarmos que certos espaços não nos pertencem.
Finalmente o incômodo está indo para o lugar certo.
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