2 outubro 2015
Uma mulher escolheu salvar a vida de seu estuprador. Por quê?
Susan Copestick, 56 anos, consegue manter a calma ao reviver o momento quando decidiu, em novembro do ano passado, salvar a vida de Peter Drummond.
Mais cedo naquele mesmo dia, seu ex-companheiro a havia mantido sob a mira de uma faca e abusado sexualmente dela. Em seguida, ele tentou tirar a própria vida com uma overdose de remédios.
"Houve um segundo em que fiquei observando Peter parar de respirar, esperando sua morte. Daí eu me detive e pensei: 'não'."
"Eu não suportava nem pensar em pessoas sendo solidárias e dizendo, em seu funeral, como ele havia sido uma pessoa bacana. Ele não iria escapar do que fez."
Ela estava sentada na cozinha após o estupro, obrigada pelo ex-parceiro a fazer um chá. Àquela altura, Drummond, de 62 anos, já tinha as mãos fechadas no colo e o rosto acinzentado, sinais da overdose de comprimidos de paracetamol. Susan precisava chamar uma ambulância para que ele tivesse chance de sobreviver.
Fazia apenas duas semanas que ela havia terminado a relação de 10 anos com o ex-parceiro - motivada pela incapacidade de Drummond em conseguir um emprego estável - e tinha se mudado para a casa da mãe em Rochdale, na Inglaterra.
Planejamento
Drummond vinha planejando o ataque desde o rompimento do casal, conforme relatou depois a Susan. Ele carregava uma mochila com fitas de amarrar e Viagra.
"Ele disse que iria cortar minha garganta e me deixar agonizando no chão da cozinha, e depois morreria de overdose no sofá. Esse era o cenário que ele queria deixar para minha mãe quando ela voltasse do feriado."
Essas ameaças deixaram Susan paralisada de medo, incapaz de fazer qualquer coisa que não fosse observar o passar das horas. Ela torcia para que os remédios fizessem efeito antes que Drummond tentasse matá-la, mas também queria chamar socorro médico.
E foi o que ela fez, depois que o ex-companheiro ficou muito debilitado para impedi-la.
"Foi uma decisão racional e objetiva. Pensei: 'Não sou juiz nem júri' - não caberia a mim decidir se ele deveria morrer", diz Susan.
"Eu também não queria que ele tivesse a saída fácil - escapar da Justiça. Queria que ele percebesse o que tinha feito e que pagasse por aquilo. Daquela maneira eu poderia deixar tudo aquilo para trás."
De lá para cá Drummond se declarou culpado e foi condenado em abril deste ano a dez anos de prisão, embora possa ser liberado antes disso - algo que Susan considera "deprimente".
Ela ainda tem dúvidas sobre o estado psicológico de Drummond na época do ataque.
"Ele parecia uma pessoa completamente diferente - nunca o havia visto daquele jeito", ela conta. "Os olhos dele estavam raivosos. Se alguém tivesse me perguntado um dia antes se ele seria capaz de fazer o que fez, eu teria dito 'nem em um milhão de anos'".
Drummond vinha rondando Susan desde o término da relação, mas ela imaginava que era apenas uma fase ruim.
"Um dia acordei às 6h e ele estava sentado em frente à casa de minha mãe. Em outra ocasião foi me encontrar no estacionamento do supermercado. E no dia do ataque ele sabia que eu sairia do trabalho mais cedo e com quem havia conversado", conta Susan.
O ataque
Quando foi visitar Susan na casa da mãe dela, Drummond fingiu que buscava alguns conselhos sobre aluguel. Depois de entrar, ele se aproximou de Susan quando ela havia ido pegar algo para beber na cozinha.
"Ele colocou as mãos sobre meus ombros e eu pensei: 'ele está tentando reatar a relação'. E disse 'não, Peter'. Foi quando ele colocou uma faca em minha garganta e disse: 'tudo bem, nada de Peter bonzinho mais'. Essas palavras me assombram desde então."
Drummond fez Susan trancar a porta da frente e a levou ao andar de cima, onde o estupro ocorreria. "Quarto da mamãe ou o seu?", ele perguntou.
Susan, que abriu mão do anonimato para a entrevista à BBC, disse que desde então vem tendo "pesadelos recorrentes" sobre o ataque que sofreu. Nas primeiras semanas, ela mantinha as luzes acesas por toda a casa.
"Eu caía no sono e acordava aterrorizada, pensando que ele estava na cama com uma faca."
O medo de Susan se agravou nos dias seguintes ao ataque pela relutância dela em denunciar o estupro. Drummond já havia deixado o hospital e estava em liberdade sob fiança quando ela contou toda a verdade às autoridades, seis dias depois.
"Na noite de sábado (quatro dias depois do ataque) ele chegou a ir ao bar em que eu estivera meia hora antes", ela lembra.
Susan, contudo, é só elogios sobre a ação da polícia de Rochdale no episódio. "A polícia foi incrível", diz ela, citando a ajuda na recuperação da confiança para reconstruir aos poucos sua vida e manter o trabalho como motorista de entregas.
E talvez a coisa mais importante da história seja o fato de Susan não se arrepender de ter salvado a vida do seu agressor.
"As pessoas podem achar estranho que eu tenha salvado a vida do meu próprio estuprador, mas sou muito mais feliz por saber que ele irá sofrer pela próxima década, em vez de ter seguido um caminho de fuga covarde."
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