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sábado, 3 de outubro de 2015

O book universitário

Muitas alunas custeiam a faculdade – algumas caríssimas – através de programas

WALCYR CARRASCO
29/09/2015
Aconteceu em Ouro Preto, Minas Gerais. Uma universitária bonita foi abordada por um professor.
– Você tem cinco minutos para a gente conversar?
– Claro.
Ele explicou que, além de dar aulas, trabalhava também com mulheres. Queria convidá-la para ir a um bar, tomar uns drinques e, principalmente, fazer o cliente gastar.
– Qualquer outra coisa é com você – terminou.
Ela se recusou. Expressão carregada, ele ameaçou.
– Ninguém pode saber disso.
Ela deveria ter ido diretamente à reitoria, denunciar. Ou à polícia, já que cafetinagem é crime. Calou-se, com medo de ser prejudicada pelo professor, no decorrer do curso. Não dá para ser inocente. Formas de aliciamento existem, as mais diversas, em escolas de grau médio e universidades. A história que contei não é única. Já ouvi outros relatos parecidos. Colegas de escola também convencem “namoradas” a dar uma escapadinha. É uma forma de ganhar um extra, principalmente para drogas. Tanto que em São Paulo, no mundo dos altos executivos, é comum ouvir:
– Ela não é garota de programa, é estudante.
Mais ainda: muitas são mesmo. É através de programas que custeiam as faculdades, algumas caríssimas. Sei de um caso em Brasília em que a universitária pagou todo o curso de Direito com programas e hoje é uma respeitada profissional da área.
Acredito, porém, que há casos de aliciamento mais sutis. Na relação professor-aluno, o mestre é a figura mais forte, que recebe a admiração do estudante e, muitas vezes, exerce uma sedução. Respeito, de coração, os casos que ocorrem entre professores e alunas ou mesmo alunos e redundam em uniões. O amor pode surgir em qualquer lugar, não é? Mas, a princípio, suspeito. Alunos podem se transformar num viveiro de experiências sexuais. Na série americana A sete palmos (Six feet under), há um professor de artes plásticas que tem o “ano das meninas” e o “dos meninos”. Ou seja, a cada ano escolhe uma parceira ou parceiro entre os alunos. Conto isso para não parecer que a situação é só nacional. Na universidade, inúmeros são os casos em que o sexo e o afeto mantêm-se duvidosamente nos limites da ética. É uma relação entre adultos, óbvio. Mas há também poder e submissão. Sempre desconfio quando ouço falar de um professor que tem caso após caso com as alunas. Ele pode ser atraente, claro. Mas não é uma situação discutível?
Há situações que transcendem os limites éticos. Sei do caso de uma professora de grau médio que se interessou por um aluno de 12 ou 13 anos. Chegaram às vias de fato. A família do garoto era pobre e ficou muito feliz quando a mestra o levou para morar na casa dela. Achavam que o menino teria mais oportunidades. Por incrível que pareça, o marido dela aceitou. Ela continuou a criar o garoto junto com seus filhos, sempre no papel de amante. Sim, a história é tão doida que só pode ser verdade, e o final é mais surpreendente ainda. Aos 18, sentindo-se oprimido e controlado, o garoto só tinha um desejo: ir embora. E apaixonou-se, desta vez por um rapaz. Assumiu sua real orientação sexual e vive a mesma relação gay há uns dez anos. Do ponto de vista ético, como analisar o comportamento de uma professora que se apropria da vida de um aluno? O mais surpreendente de tudo, porém, é que ninguém deve ter desconfiado. Ao contrário, suas colegas provavelmente acreditaram que era uma mulher generosa, disposta a ajudar o pobre menino.
Está certo. Nesse caso, ela não o levou à prostituição. Mas foi aliciamento sexual. Em maior ou menor grau, eles continuam acontecendo. Há algum tempo li uma reportagem sobre um diretor de filmes pornôs que era também professor universitário. Seu discurso era o mais leve possível, acreditando não haver disparidade nas duas funções. Tanto que se deixava fotografar, dava o nome completo. Seus colegas acadêmicos certamente sabem de suas atividades extras. Escolas, universidades não transmitem apenas conhecimento. Mas também valores, princípios éticos que devem nortear as pessoas por toda a vida. Que princípios esse mestre poderia transmitir ainda mais num curso, ao que me lembro, de... filosofia!? Se aparecer uma aluna bonitinha, não se sentirá tentado a propor um “extra”?
Não pretendo apontar o dedo para as universidades ou escolas em geral. As pessoas gostam de sexo e não há nada de errado nisso. O problema é quando alguém usa o poder de um cargo ou situação para pressionar outra pessoa a dizer sim, mesmo quando o não está na ponta da língua.

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